domingo, 31 de outubro de 2021

Saudações ao Combatente Muammar al-Kadafi * Lucas Rubio

SAUDAÇÕES AO COMBATENTE MUAMMAR AL-KADAFI

 Há exatos 10 anos, em 20 de outubro de 2011, o líder da Líbia Verde, o Coronel Muammar al-Kadafi, era covardemente assassinado por uma coalização liderada pela OTAN que visava unicamente a destruição do Estado Líbio, um Estado livre e soberano que não se curvava aos ditames ocidentais. 

CONFIRA

Kadafi, um grande líder. Deve ser muito lembrado e respeitado por nós. Um anti-imperialista, socialista, anti-liberal, pan-africanista! Chegou ao poder na Líbia e tratou de transformar o país num lugar que respeitasse as pessoas trazendo verdadeira liberdade - investimentos excepcionais nos serviços públicos e nacionalização do petróleo, grande fonte de riqueza do país. Em pouco tempo, o IDH da Líbia chegou a ser o maior do continente africano. Grande amigo dos povos do mundo que lutam por liberdade. Visitou a URSS e, em meio ao regime revisionista, rendeu homenagens no túmulo de Lenin e Stalin. Também estabeleceu laços de amizade como Presidente Eterno KIM IL SUNG, da Coreia Socialista, além de outros países como Síria, Iraque, Cuba, Venezuela...


Seu erro consistiu em não investir em tecnologia nuclear para a Líbia. Sem grande capacidade de dissuasão militar contra os interesses externos das potências ocidentais, sedentas de óleo e sangue, viu seu País ser invadido e destruído de fora para dentro e de dentro para fora, por meio de uma falsa "revolução popular" da "Primavera Árabe" financiada com dinheiro e armas pelos Estados Unidos e seus países fantoches. 


Mesmo assim resistiu heroicamente até o último momento. Tombou ele num dia como hoje. 


Após isso, a Líbia deixa de existir. O que temos hoje nem pode ser chamado de "Estado". A Líbia sem Kadafi e o socialismo verde serviu de trampolim para os EUA avançarem em direção ao Oriente Médio em sua nova investida militar contra essa área, tendo a Síria como principal alvo. A Síria de Bashar segue resistindo e praticamente virando a guerra ao seu favor. Hoje, na Líbia, grupos verdes liderados pelos descendentes de Kadafi lutam para reconstruir a pátria.

Memória eterna ao bravo Coronel Kadafi!  De Lucas Rubio


sábado, 30 de outubro de 2021

Da guerra no Afeganistao à guerra feminista * Berenice Bento / DF

DA GUERRA NO AFEGANISTÃO À GUERA FEMINISTA 

Estamos diante da mulher-moeda, mas não no âmbito do feminismo de Estado, mas de um antifeminismo de Estado

O desejo de dominação e controle dos Estados Unidos e de outros países com DNA imperialista encontrou nas lutas das mulheres um artifício para produzir a justificativa necessária para a violência contra outros povos. Para que obtenham vitória, guerras adjacentes foram desencadeadas. A mais notável, a guerra entre os feminismos.

Como nomear as disputas internas entre os feminismos? Há algum tempo que há uma guerra não declarada entre os feminismos. Certamente, o feminismo de mulheres negras e brancas estadunidenses que estão engajadas na luta pela autodeterminação do povo palestino, a exemplo das vozes de Angela Davis e Judith Butler. Seria possível colocá-las juntas à congressista democrata Carolyn Maloney, que vestiu uma burca e fez um discurso em 2001 para, supostamente, defender as mulheres afegãs? Elas vivem em um país ocidental e fazedor de guerras.

Seria suficiente nomeá-las sob o enganoso guarda-chuva “feminismo ocidental”? Eu posso incluir outro termo, “feminismo branco ocidental”. Então, todas as mulheres brancas ocidentais são cúmplices das políticas imperialistas? Os marcadores regionais (ocidental) e de raça (branca) têm como efeito reinstaurar dois tipos de determinismo que deveriam ser combatidos: o determinismo geográfico e o biológico. As discussões sobre alianças, coalizações, consciência das estruturas de gênero, classe, sexualidade, religião são apagadas. O feminismo da congressista, por seu apego e defesa dos interesses do Estado, pode ser tipificado como “feminismo de Estado”. Voltarei a esse ponto.

No ensaio postado no site A Terra é Redonda aponto, de forma ainda incipiente, a noção de mulher-moeda no mercado moral-global. Como o feminismo de Estado tem instrumentalizado a vida de mulheres? Qual a função da mulher-moeda? O que se está disputando quando se apresenta de forma simulacral a situação de parte de uma população (a mulher) como causa necessária e suficiente para a invasão e ocupação por uma potência de um país?

Há dois momentos em que a mulher-moeda foi lançada no mercado moral-global como nunca antes observado na história contemporânea. O primeiro momento foi quando aconteceu a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos. O segundo, em agosto último, quando o Talibã tomou o poder em Cabul. Uma verdadeira “cabeça d’água” discursiva formou-se em torno da condição da mulher afegã. Nesses dois momentos, o feminismo de Estado foi fundamental para mover a opinião pública local e globalmente.

Vamos para 2001. Laura Bush, esposa do presidente Bush, disse: “Eu sou Laura Bush e estou fazendo o discurso desta semana no rádio para dar início a um esforço mundial para enfocar a brutalidade contra mulheres afegãs”.[i]

Um mês antes, outubro de 2001, a congressista republicana Carolyn Maloney, de Nova York, usou uma burca durante um discurso de 2001 no Congresso sobre os direitos das mulheres afegãs. Ela disse: “Qualquer pessoa que conheça, antes de 11 de setembro, como o Talibã trata as mulheres, deveria ter reconhecido que o Talibã é capaz de fazer quase tudo. O Talibã controlou 90% do Afeganistão desde 1996, quando declarou unilateralmente o fim dos direitos humanos básicos das mulheres. As restrições à liberdade das mulheres no Afeganistão são incompreensíveis para a maioria dos americanos”.[ii] Esses dois discursos podem ser lidos como momentos inaugurais do feminismo de Estado.

Duas mulheres de/no poder que desejam fazer coincidir os seus interesses com os de todas as mulheres, transformando-se em referentes morais-globais. Estamos diante de uma operação metonímica própria da retórica orientalista[iii]. Tomam para si a chave do banco mundial da moralidade, cujo lastro está na busca reiterada de se tornar referência universal de todas outras moralidades. A moral, moeda abstrata, passa a ser encarnada no corpo da mulher-moeda.

Em agosto último, essas vozes se levantaram novamente para apontar o erro dos Estados Unidos em saírem do Afeganistão. Nem uma palavra sobre os escombros e os crimes contra humanidade cometidos contra povo afegão pela potência ocupante foi proferida. “Mulheres afegãs” são deslocadas do contexto em que vivem, em um processo de coisificação de suas vidas. Esse foi o segundo momento de visibilidade global do feminismo de Estado.

Se há novas estratégias discursivas que passem a circular nas esferas públicas globais, como justificar a interrupção da ocupação? Em 01 de setembro, as cenas de terror que tomaram conta da cidade de Cabul, com milhares de pessoas fugindo, fizeram a opinião pública estadunidense inclinar-se pela manutenção da ocupação que já durava 20 anos. O presidente Joe Biden fez a contabilidade das perdas. Segundo ele: “Depois de mais de US $ 2 trilhões gastos no Afeganistão, um custo que os pesquisadores da Brown University estimaram seria de mais de US $ 300 milhões por dia durante 20 anos no Afeganistão – por duas décadas – sim, o povo americano deveria ouvir isso: US $ 300 milhões por dia durante duas décadas. Se você pegar o número de US $ 1 trilhão, como muitos dizem, ainda são US $ 150 milhões por dia, por duas décadas. E o que perdemos como consequência em termos de oportunidades? Recusei-me a continuar em uma guerra que não estava mais a serviço do interesse nacional vital de nosso povo. E, acima de tudo, depois de 800.000 americanos servindo no Afeganistão – eu viajei por todo o país –, serviço corajoso e honrado; depois de 20.744 soldados e mulheres americanos feridos e a perda de 2.461 militares americanos, incluindo 13 vidas perdidas apenas esta semana, recusei-me a abrir outra década de guerra no Afeganistão. Temos sido uma nação em guerra por muito tempo. Se você tem 20 anos hoje, nunca conheceu uma América em paz.[iv]

Não há uma única palavra sobre os mortos, mutilados, deslocados afegãos ao longo dessas duas décadas. Certamente, ele também não disse quanto o país (as empresas com contratos fraudulentos, a indústria armamentista, os insumos) ganhou. Esse será um segredo de Estado. Tampouco menciona os escombros e ruínas que deixaram no Afeganistão. Aqui está o efeito prático da transformação da mulher em instrumento, em moeda. O que se ganha com a circulação dessa moeda? Um país inteiro.
O Estado antifeminismo

A invasão do Afeganistão representa um turning point (um novo ponto de partida) para que se discutam os sentidos de “feminismo”. O último livro de Rafia Zakaria, Against White Feminism[v], retoma essa discussão da utilização pelas autoridades americanas da situação das mulheres afegãs para justificar a invasão de 2001.Para Zakaria: “E a razão pela qual a chamo de guerra feminista, a primeira guerra feminista, é porque, até então, as feministas americanas pelo menos funcionavam como um controle do Estado. Eles eram contra a guerra. Eles eram contra invasões e intervenções injustas. Mas quando isso aconteceu, você sabe, as grandes organizações feministas e feministas proeminentes, incluindo Gloria Steinem, apoiaram a incursão no Afeganistão, dizendo que isso estabeleceria a democracia, o que em última análise seria bom para os direitos das mulheres […] No Afeganistão, as mulheres afegãs retrocederão 200 anos. É por causa disso, é porque esse tipo de uso indevido do feminismo, em grande parte liderado por mulheres brancas e ocidentais que queriam modificar o Afeganistão à sua própria imagem, da maneira que melhor viam, falhou completamente”[vi].

Na mesma entrevista, Mahbouba Seraj, coordenadora da Rede de Mulheres Afegãs, afirma: “A Sra. Rafia está sendo um pouco injusta. (…)Não é desse jeito”. E começou a detalhar o que mudou na situação da mulher nas duas últimas décadas: “Do ponto de vista da educação muito mais meninas agora que vão para a escola, se formaram nas escolas e estão prontas para cuidar de suas vidas e manter-se em progresso. Da mesma forma há professoras, médicas, enfermeiras e engenheiras […] E, com sorte, a educação é algo pelo qual lutaremos e que continuará. E para mim também é interessante ver o que vai acontecer sem o impulso do Ocidente e das mulheres e o dinheiro das ONGs e tudo isso.”

Ao mesmo tempo, Mahbooba Seraj conclui dizendo que sente um alívio absoluto ao ver as últimas forças americanas partindo. “Agora somos capazes de descobrir o que faremos nesta nova era”.[vii]

Estamos diante de duas pensadoras e ativistas afegãs com posições divergentes. Não estou me alinhando a nenhuma posição. Apenas aponto que as disputas de interpretação (com seus efeitos políticos) sobre avanços, recuos, lugar da mulher são múltiplos na sociedade afegã. Em um ponto as duas estão de acordo: com o Talibã, a mulheres terão que lutar para manter suas conquistas e o passado recente dos milicianos do Talibã não deixa qualquer margem para esperança de um governo democrático com políticas de equidade de gênero.

Os debates e interpretações não estão limitados aos espaços acadêmicos ou midiáticos. Mulheres afegãs, desde agosto, continuam indo semanalmente para as ruas. No dia 04 de setembro, dezenas se manifestaram para pedir um lugar no governo talibã, direito de trabalhar e de continuarem estudando. Um dia antes, um alto comandante dos milicianos talibãs afirmou que elas serão levadas em conta, mas não para o Executivo nem para nenhum outro cargo de responsabilidade.

As mulheres se concentraram em frente à sede do Governo provincial em Herat, a terceira maior cidade afegã. Nos seus cartazes, podíamos ler: “Não tenham medo, estamos todas juntas” e “Nenhum Governo pode sobreviver sem o apoio das mulheres”.[viii] Há muitas formas de colocar a vida das mulheres em perigo. No Afeganistão, proibir as mulheres de trabalhar é condenar famílias inteiras à fome e a outras precariedades, pois são elas as responsáveis por suas famílias e representam30% da força de trabalho do país. A manifestação foi brutalmente reprimida pelo Talibã. Várias mulheres e jornalistas ficaram feridas.

Alguns dias depois, em 12 de setembro, 300 mulheres, vinculadas às escolas religiosas (as madrassas) e cobertas da cabeça aos pés defenderam em Cabul o Emirado Islâmico e protestam contra a influência ocidental.

“A cultura ocidental não tem lugar no Afeganistão e a educação mista é o primeiro passo para ela”,[ix] declarou uma mulher que se identificou como diretora de uma madrassa. Elas falaram em nome de todas as afegãs: “As mulheres que protestam contra o Emirado Islâmico não representam o Afeganistão, são uma minoria. Nós somos a maioria. As afegãs não gostam da democracia da cultura ocidental[…] Estamos contentes pelo Emirado não ter permitido nenhuma mulher nos altos cargos do Governo e por implementar a lei islâmica. Viva o Afeganistão!”.[x]

Aqui, ao contrário do que acontece com o feminismo de Estado, vemos mulheres que dão sustentação às políticas antifeministas do Talibã e utilizam o marcador “ocidental” para declarem guerra às outras mulheres. Possivelmente, aquelas mulheres que foram duramente reprimidas nas manifestações do dia 04 de setembro não tiveram nenhuma solidariedade das que se diziam legítimas representantes das mulheres afegãs contra os valores ocidentais, as que falaram sob olhares atentos dos milicianos do Talibã. Ou seja: o direito ao trabalho, à educação e à equidade de gênero é reduzido a “valores ocidentais”. O que o feminismo de Estado e o antifeminismo de Estado têm em comum? Mulheres que se dizem representantes de outras mulheres e o fazem para justificar políticas de opressão. O que diferencia o feminismo de Estado estadunidense é a utilização da retórica da “mulher oprimida” como moeda global em suas políticas imperialistas.

A superexploração da imagem da mulher oprimida se transforma em um signo que se apresenta como suficiente. Quando eu digo “mulher afegã” ou “mulher palestina”, desencadeia-se um conjunto de imagens vinculadas a uma cadeia maior de significantes: não pode andar na rua, não tem voz, não estuda. Nessa suposta identidade fechada e completa, encontramos seu esvaziamento. É um signo vazio, que pode ser preenchido a partir dos interesses do Estado, como fez agora o Talibã.

Estamos diante da mulher-moeda, mas não no âmbito do feminismo de Estado, mas de um antifeminismo de Estado. Essa talvez seja a grande mudança do Talibã. Entendeu que é preciso fazer outro tipo de guerra para disputar suas posições. Eles também estão na disputa moral-global e aprenderam a fazer a mulher-moeda circular a seu favor.

*Berenice Bento é professora do Departamento de Sociologia da UnB. Autora, entre outros livros, de Brasil, ano zero: Estado, gênero, violência (Editora da UFBA). 

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

PARA NÃO ESQUECER – 23 DE OUTUBRO DE 1970 MORRE JOAQUIM CÂMARA FERREIRA, O “TOLEDO” * Ernesto Germano Parés/RJ

 PARA NÃO ESQUECER – 23 DE OUTUBRO DE 1970 MORRE JOAQUIM CÂMARA FERREIRA, O “TOLEDO”

Ernesto Germano Parés/RJ

Quem foi o “Velho” ou “Toledo”? Figura importante na nossa história de resistência, mas pouco conhecido pelas novas gerações.
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Joaquim Câmara Ferreira nasceu em Jaboticabal (SP), no dia 5 de setembro de 1913. Foi um militante e dirigente comunista brasileiro, integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Comandante Ação Libertadora Nacional (ALN), atuou na luta armada contra a ditadura militar brasileira, instalada no país em 1964.
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Ficou muito conhecido, na época, por ser um dos líderes do sequestro do embaixador estadunidense no Brasil, Charles Burke Elbrick, resultando na libertação de 15 presos políticos em troca do diplomata. Mas sua história começa muito antes, em 1923, quando entra para o PCB com 20 anos. Era jornalista e dirigiu vários jornais do Partido. Em 1937, depois do golpe de Getúlio Vargas, passou para a clandestinidade e foi preso durante o Estado Novo. Durante as torturas, foi submetido ao “pau de arara”, “palmatória” e “afogamentos”. Por fim, arrancaram todas as unhas das duas mãos.
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Em 1946 o Brasil volta à normalidade democrática e Câmara Ferreira elege-se vereador em sua cidade natal, Jaboticabal. Mas, já no governo Dutra, o PCB foi cassado e ele perde o seu mandato.
Novamente na clandestinidade, em 1948 viaja para a União Soviética para aprofundar seus estudos sobre o marxismo.
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Em 1964 está de volta ao Brasil, mas é preso depois de realizar palestra para operários em São Bernardo do Campo, sendo solto pouco tempo depois, quando voltou à clandestinidade. Foi condenado à revelia a dois anos de prisão. Em 1967, junto com Carlos Marighella, deixou o PCB por discordar da linha de ação pacífica do Partido e ambos fundaram a Ação Libertadora Nacional, organização extremista destinada a combater a ditadura militar de armas na mão.
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Com a morte de Marighella, assumiu o comando da ALN. Atraído para uma emboscada pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, foi levado a um sítio clandestino nas proximidades da cidade de São Paulo.
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Foi preso na noite de 23 de outubro de 1970, na avenida Lavandisca, no bairro de Indianopolis, na capital paulistana. Os responsáveis pela sua prisão foram os membros da equipe do delegado Sérgio Fleury. Dali foi levado a um sítio, sugestivamente chamado “31 de março”. No local, que ficava nas proximidades da cidade, foi torturado e acabou não resistindo às condições que foi submetido, morrendo na mesma noite. Joaquim foi enterrado pela família no Cemitério da Consolação, em São Paulo. Em sua homenagem, seu nome hoje batiza ruas e avenidas em São Paulo, Recife e Rio de Janeiro.
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Maria de Lourdes Rego Melo, presa política, é testemunha de que Joaquim Câmara Ferreira estava vivo quando foi preso e que morreu em decorrência das torturas sofridas.[3]
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Joaquim Câmara Ferreira foi anistiado em outubro de 2010, durante evento da Caravana da Anistia, realizado no antigo prédio do DOPS-SP (Departamento de Ordem Política e Social), hoje transformado em Memorial da Resistência. A Comissão de Anistia o declarou como “o jornalista e combatente herói do povo brasileiro”. A Câmara de Vereadores de São Paulo também se pronunciou, concedendo ao militante o título de cidadão paulistano “in memoriam”.
Deixou dois filhos, Denise Fraenkel-Kose e Roberto Cardieri Câmara Ferreira, que receberam o “Diploma de Gratidão” e a “Medalha Anchieta” em nome do pai.
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VIVA JOAQUIM CÂMARA FERREIRA, O “VELHO”.
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O “COMANDANTE TOLEDO” NÃO SERÁ ESQUECIDO POR NÓS!
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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

SER MILITANTE * Wladimir Tadeu Baptista Soares / RJ

 SER MILITANTE

Ser um militante

Não é tarefa fácil.

Além de ser raramente reconhecido por muitos dos seus colegas,

Que, mais comumente, costumam criticá-lo,

Lutar por direitos é estar sempre em um confronto direto contra aqueles que estão no poder.


Portanto, é estar sempre em uma situação de vulnerabilidade frente àqueles que podem lhe causar algum mal. 


A militância requer sacrifícios, renúncias e muito desgaste pessoal, físico, econômico e emocional. 

Historicamente, todos os direitos sociais foram  conquistados a partir de muitas lutas, de muitos mortos e feridos.


Por isso, o militante - aquela pessoa vocacionada para a luta política - merece todo o nosso respeito, porque é uma missão que não é para qualquer um; é para pessoas muito especiais.


O militante é, acima de tudo, um estudioso das suas pautas, alguém que tem argumentos em meio às discussões, porque sabe o que defende e conhece todas as contradições. 


O que seria da história da humanidade sem que houvesse o militante para agir? A humanidade seria escravizada por aqueles que estão no poder. Se hoje podemos gozar de liberdade, é porque, um dia, militantes se arriscaram em exigir esse direito. Do mesmo modo com relação a todos os outros direitos, particularmente aqueles de natureza social. É o militante quem luta pela autonomia universitária, em defesa do SUS, contra a EBSERH, contra a aprovação da Reforma Administrativa, contra a barbárie social, contra o autoritarismo, na defesa dos direitos humanos e pelo reconhecimento da pluralidade familiar, contra o assédio nas relações de trabalho, contra o Congelamento dos salários do trabalhador, contra as privatizações da saúde e da educação públicas, pela realização de concursos públicos, contra demissões arbitrárias, pelos direitos trabalhistas etc.

É da militância promover e participar de debates, procurar esclarecer a conjuntura política do momento.

Sendo assim, é de relevância pública a existência do militante - aquela pessoa corajosa e determinada, que jamais perde a esperança naquilo em que acredita e que dedica boa parte da sua vida na luta pelo direito de todos, inclusive daqueles que só sabem criticá-lo, mas que, no fim, acabam por também gozarem daqueles direitos conquistados graças à militância de alguém. 


Salve todos os militantes deste mundo, porque aonde tem um militante atuando, tem também uma injustiça sendo combatida e um direito sendo pleiteado!


Wladimir Tadeu Baptista Soares 

Cambuci/Niterói - RJ 

Nordestino 

wladuff.huap@gmail.com 

23/10/2021

terça-feira, 26 de outubro de 2021

NOSSO COMANDANTE: MARIGHELLA VIVE! * A MARIGHELLA

NOSSO COMANDANTE:
MARIGHELLA VIVE!

Um dos sete filhos do operário Augusto Marighella, imigrante italiano da região de Emília, terra de destacados anarquistas, e da baiana Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos africanos trazidos do Sudão (negros hauçás envolvidos na revolta dos malês), nasceu em Salvador, capital da Bahia, residindo na Rua do Desterro 9, Baixa do Sapateiro. Concluiu o seu curso primário e secundário. Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor da Bahia Juracy Magalhães. Liberto, prosseguiria na militância política, interrompendo os estudos. Em 1934, abandonou o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Bahia para ingressar no PCB – Partido Comunista do Brasil (à época com este nome). Tornou-se então militante liberado e dirigente do partido, e rapidamente foi para São Paulo e para o Rio de Janeiro, trabalhando na reorganização do PCB.

​Em 1º de maio de 1936, durante a ditadura Vargas, foi preso por subversão e torturado pela polícia de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano. Foi solto pela “macedada” (nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação). Ao sair da prisão entrou para a clandestinidade, até ser recapturado, em 1939. Novamente foi torturado e ficou na prisão até 1945, quando foi beneficiado com a anistia pelo processo de redemocratização do país.

Elegeu-se deputado federal constituinte pelo PCB baiano em 1946. Nesse período teve um breve relacionamento com Elza Sento Sé, operária da Light, com quem acabou tendo um filho, Carlos Augusto Marighella, nascido em 22 de maio de 1948 no Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, antes, em janeiro, Marighella perdeu o mandato, em virtude da nova proscrição do partido. Regressando à clandestinidade, ocupou diversos cargos na direção partidária. Inclusive, foi convidado pelo Comitê Central do PCB para passar um período na China. E entre os anos de 1953 e 1954 residiu na China a fim de conhecer de perto a recente revolução chinesa.

Em maio de 1964, após o golpe militar, Marighella é baleado e preso por agentes do DOPS dentro de um cinema, no Rio. Liberto em 1965 por decisão judicial, escolhe a luta armada contra a ditadura, entendendo que era a singular maneira de ousar derrotar o regime facínora ditatorial. Em dezembro de 1966, Marighella renuncia seu cargo na Comissão Executiva Nacional do PCB. Em agosto de 1967, participa da I Conferência da OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade), realizada em Havana, Cuba, mesmo com orientação contrária do PCB. Aproveitando a estada em Havana, redigiu “Algumas questões sobre a guerrilha no Brasil”, dedicado à memória do guerrilheiro Che Guevara. Ainda em Cuba, Marighella escreve sua carta de desfiliação partidária, tendo reconhecido o golpe dos burocratas pacifistas na listagem de delegados do VI Congresso do PCB.

Ao regressar para o Brasil, meses depois, Marighella fundaria um agrupamento que mais tarde seria denominado por “Ação Libertadora Nacional (ALN)”. A organização acumularia largas conquistas, tendo enorme êxito em suas operações. O plano originário da ALN era acumular forças e estrutura com ações urbanas, ganhar prestígio com a grande população por meio da tática de vanguarda armada, a única, diga-se de passagem, possível naquele período de ditadura, e, enfim, quando já estivesse forte e bem preparada, a ALN entraria para a segunda etapa da guerrilha, a rural. Ocorre que repentinamente, em setembro de 1969, a ALN participaria do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em uma ação conjunta, militarmente bem-sucedida, com o MR-8 (movimento revolucionário 8 de outubro) que visava libertar inúmeros companheiros presos políticos. Porém, após essa ação, a ditadura apertaria o cerco mais ainda. E com o recrudescimento do regime militar, os órgãos de repressão concentrariam esforços na captura do Comandante Marighella, considerado o principal inimigo (o número 1) pelos militares.

Na noite de 4 de novembro de 1969, Marighella foi surpreendido por uma emboscada na Alameda Casa Branca, na capital paulista. Ele foi morto a tiros por agentes do DOPS, em uma ação coordenada pelo terrorista delegado Sérgio Paranhos Fleury. Mesmo com sua morte, a ALN continuou em atividade até o ano de 1974. O sucessor de Marighella no comando da ALN foi Joaquim Câmara Ferreira, o Velho Toledo, que também foi morto por Fleury no ano seguinte (1970). Há muita divergência sobre a suspensão das atividades da ALN, mas acredita-se que entre 1973/74, a organização teria interrompido suas ações.

Poesias

Marighella escrevia poesias, e aos 21 anos, durante as aulas de engenharia divertia professores e colegas fazendo provas em verso, mais uma real comprovação de sua genialidade. Da mesma forma, ainda naquela idade, compôs em versos ataques ao interventor baiano Juracy Magalhães, fato que lhe valeu sua primeira prisão, seguida de tortura, em 1932. Ainda na prisão, dessa feita em 1939, ele compôs o poema “Liberdade”:

“(…) E que eu por ti, se torturado for,

Possa feliz, indiferente à dor,

Morrer sorrindo a murmurar teu nome

Liberdade.”

Minimanual do Guerrilheiro Urbano

Uma das mais divulgadas obras de Marighella, o “Minimanual do Guerrilheiro Urbano” foi escrito em 1969 para servir de orientação aos movimentos revolucionários. Circulou em versões mimeografadas e fotocopiadas, algumas diferentes entre si, sem que se possa apontar qual seja a original. Nessa obra detalhou táticas de guerrilha urbana a serem empregadas nas lutas contra governos ditatoriais. Certamente, é um dos livros políticos brasileiros mais lidos no mundo. O Minimanual foi utilizado por diversos grupos revolucionários brasileiros e estrangeiros.

A Crise Brasileira

Esse é o trabalho teórico no qual analisa a conjuntura nacional a partir da estrutura de classes do Brasil, e critica o PCB por se resguardar de qualquer atividade consequente, acomodado na ideia de um processo eleitoral limpo, e, ao mesmo tempo, refratário ao divórcio da burguesia nacional, setor já flagrantemente golpista. A obra “A Crise Brasileira” é uma breve crítica, ainda atual, às forças pacifistas e conciliatórias da socialdemocracia.

Outros escritos políticos

Alguns escritos políticos de Marighella, embora redigidos por ele em português, ganharam primeiro uma edição em outro idioma, devido a censura imposta pelo regime militar brasileiro. É o caso de “Pela Libertação do Brasil“, que, em 1970, ganhou uma versão na França financiada por grupos marxistas.
Em dezembro de 1968 o guerrilheiro divulgou o manifesto “Chamamento ao Povo Brasileiro“, no qual expunha as principais bandeiras defendidas por sua organização, a Ação Libertadora Nacional:
Fim dos privilégios e da censura
Eliminação da corrupção
Liberdade de criação e liberdade religiosa
Libertação dos presos políticos da ditadura
Eliminação dos órgãos da repressão policial
Expulsão dos americanos do país e confisco de suas propriedades
Monopólio estatal das finanças, comércio exterior, riquezas minerais, comunicações e serviços fundamentais
Fim do latifúndio e garantia de títulos de propriedade aos agricultores
Confisco das fortunas ilícitas dos grandes capitalistas
Garantia de emprego a todos os trabalhadores e às mulheres
Redução dos aluguéis, proteção aos inquilinos e garantia da casa própria
Reforma do sistema de educação e expansão da pesquisa científica
Tirar o Brasil da condição de satélite da política externa americana

A Marighella – Nosso Comandante vive!

Carlos Marighella (Salvador, 5 de dezembro de 1911 – São Paulo, 4 de novembro de 1969) foi político, guerrilheiro, poeta, e herói do povo brasileiro. Foi um dos principais organizadores da resistência contra o regime militar. Chegou a ser considerado o inimigo “número um” do regime militar, e morreu no combate ao sistema capitalista e pelo socialismo no Brasil.

Para a Organização A Marighella, Carlos Marighella, e não diferente poderia ser, é o nosso grande Camarada e eterno Comandante. Marxista-Leninista, socialista, patriota, internacionalista, comunista, revolucionário, amante das raízes do povo brasileiro, legítimo popular que amava o futebol e o carnaval, deputado, guerrilheiro, enfim, inegavelmente, Marighella é o homem público mais completo da política brasileira no século XX. Para tanto, afirmamos que ele seja nosso líder revolucionário ainda presente, o dirigente perpétuo da Revolução Socialista Brasileira, o símbolo de referência para o povo que ousa lutar, ousa dizer, ousa vencer. Fonte inesgotável de inspiração, Marighella vive entre nós! Está presente, agora e sempre!
Somos Soldados do Comandante Marighella!

FONTE
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COMO A MISÉRIA NÃO É POR SI SÓ REVOLUCIONÁRIA, PRECISAMOS REINVENTAR A REVOLUÇÃO – 1 * DALTON ROSADO / CE

COMO A MISÉRIA NÃO É POR SI SÓ REVOLUCIONÁRIA, PRECISAMOS REINVENTAR A REVOLUÇÃO – 1
Assim Alain Tanner simbolizou a esperança, no cult Jonas, que terá 25 anos no ano 2000: uma nova geração atando os fios soltos de todos os idealistas que se dispersaram no pós-1968

Dalton Rosado / CE

A GRANDE RUPTURA

Estamos numa encruzilhada do tempo, divididos entre continuarmos acreditando ou fingindo acreditar que podemos transformar substancialmente a vida social e ecológica por dentro do modelo atual (democrático burguês) ou adotarmos retrocessos consubstanciados em outros modelos menos solidários, próprios aos regimes de força, militarizados, disciplinadores, falsos moralistas, elitistas, como se estas fossem as únicas opções existentes..

Querem (os segmentos formadores de opinião) nos condicionar a acreditarmos que a nós não é permitido promovermos a grande e necessária ruptura de modo de produção atual (que nos últimos séculos tem sido igual na sua base constitutiva, diferindo cosmeticamente em modelos políticos mais ou menos abertos), por nós criado e ao qual obedecemos cegamente.

Vivemos atualmente presos a um modelo social claramente obsoleto, sem que saibamos como dele nos desvencilhar. Algo assim como o criador se submetendo à criatura, ou seja, como um monstro de Frankenstein fugindo ao controle do cientista e precisando ser detido por uma força coletiva maior.

Há uma quase unanimidade consensual no sentido de que o modo de produção capitalista seja algo ontológico, imutável, cuja necessidade seria tão óbvia quanto beber água para matar a sede..

Acredita-se, majoritariamente ou não, que a democracia burguesa é o melhor antídoto contra o totalitarismo político. É a política do medo. Fingimos que o ruim é bom por medo de péssimo no qual está inserida uma grande dose de covarde hipocrisia.

A recente história das revoluções demonstrou muito bem como fracassam as mudanças político-governamentais quando não vão ao âmago da questão (a superação das categorias capitalistas).

A única diferença do capitalismo burguês liberal clássico para o capitalismo de Estado é a forma política de governo e o nome do explorador:
— no primeiro caso, o capitalista privado e seu aparelho de Estado mantenedor da ordem burguesa; e,
— no segundo, a nomenklatura que monopoliza o poder sob o capitalismo de Estado..

Em ambos, os gerenciamentos verticalizados obedecem à lógica funcional do sujeito automático da forma-valor, que tem na sua própria valorização contínua o seu modo inarredável de ser. Consequentemente, tanto a União Soviética como a China terminaram por sucumbir à lógica de mercado, tão cara ao modo de produção capitalista.

E não poderia ser de outra forma, pois do stalinismo e do maoísmo não havia motivo para esperarmos outra coisa senão o extermínio dos verdadeiros revolucionários e o avassalamento à necessária expansão capitalista contínua sem a qual a forma-valor não sobrevive (mas que, paradoxalmente, é a razão de sua ruína no longo prazo, como agora ocorre).

A ordem capitalista tem agora medo da falência da China ao invés de desejá-la, justamente porque, com a economia globalizada na relação de créditos monetários e da dinâmica da produção de mercadorias, qualquer resfriado pode se transformar numa gripe epidêmica e letal.

Somente os oportunistas políticos defensores dos regimes totalitários reverberam como mantra o risco do chamado comunismo e comunistas, que terminou por servir de exemplo antagônico da concepção e visão emancipacionista de mundo, como se a Rússia, China, Cuba, Coreia do Norte, etc., traduzissem o ideal de emancipação humana.

Os totalitários stalinistas, maoístas, nazistas, integralistas, boçalnaristas, putinistas, maduristas, fidelistas, juntamente com os sociais-democratas lulistas, alberto-fernandistas, peronistas, joe-bidenistas, sanchez-pedristas, angela-merkelistas e o diabo que os parta, são todos espécies políticas de um mesmo gênero: o modo de produção capitalista!

A direção política sob o capital termina sempre por convergir para a obediência cega aos seus pressupostos ditatoriais, de vez que, em nome da idolatria ao dito cujo, sacrificam-se seres humanos para garantir sua preservação.

O argumento tão repetido de que a sensibilidade humanista social-democrata seria algo diferente dos regimes totalitários, é (mesmo havendo uma diferença quantitativa no volume de força que ambos empregam para esmagar os respectivos cidadãos por eles subjugados) qualitativamente falsa, posto que ambos terminam sempre por oprimir o povo mediante a supressão de direitos, as primeiras vítimas a sucumbirem quando a economia entra em depressão.

Morrer sob um pelotão de fuzilamento nazista ou de fome num país que se declare democrata burguês e explorado pelo capitalismo, é morte do mesmo jeito, independentemente da intensidade do sofrimento de uma ou do outra forma.

Vivemos no Brasil sob um regime democrático em que pese as tentativas boçalnarianas de golpe. A importância do Brasil no cenário mundial e a consciência institucional e popular majoritária impediram que se consumassem as intenções golpistas de ultradireita e as falácias de salvação política de quem sempre se anunciou como político totalitário.

Boçalnaro, o ignaro não enganou ninguém sobre seus propósitos, ainda que tenha sobrevivido eleitoralmente graças à sua ausência ao debate político-eleitoral após uma facada meio mandrake.

Mas o adeus às ilusões está se aproximando...
(por Dalton Rosado – continua ...  A grande ruptura - Segunda Opinião | Política e Ideias )

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

BAADER MEINHOF RAF * Guerreiro Cabano Manfredo / Face

BAADER MEINHOF RAF
Em 18 de outubro de 1977, auge do "Outono Alemão", os mais importantes líderes da Fração do Exército Vermelho (RAF), "se matam" no presídio, após o fracasso de duas ações contra o governo para libertá-los.
No final da década de 1970, o "terrorismo" estava na ordem do dia na Alemanha. A escalada de ações subversivas era sem precedentes na história do país no pós-guerra. Mesmo após a prisão de seus líderes, o grupo Fração do Exército Vermelho (RAF) ainda mostrava força.
No primeiro esforço para reaver seus líderes, a RAF sequestrara em Colônia Hanns Martin Schleyer, então presidente da Confederação da Indústria Alemã e da Confederação das Associações de Empregadores Alemães. Na ação, morreram o motorista e três guarda-costas do empresário. O grupo revolucionário exigia a libertação de 11 de seus membros capturados. Entre eles, Andreas Baader, Gudrun Ensslin e Jan-Carl Raspe, reclusos no presídio de Stuttgart-Stammheim. O governo Helmut Schmidt optou por não ceder e ganhar tempo até achar o cativeiro de Schleyer.
Sequestro de avião
Os esquedistas apertaram o cerco. No dia 13 de outubro, um avião da Lufthansa vindo de Maiorca com turistas alemães foi sequestrado e teve de pousar em Roma. Os quatro sequestradores palestinos declararam seu apoio à RAF e exigiram igualmente a libertação dos líderes presos em Stuttgart.
Enquanto isto, na Alemanha, os raptores de Schleyer enviavam fitas de vídeo ao governo, com apelos cada vez mais dramáticos do líder empresarial. O chanceler Helmut Schmidt permaneceu, porém, resoluto em mostrar aos "terroristas" que não cederia.
Andreas Baader e Gudrun Ensslin
De Roma, o Boeing da Lufthansa decolou para o Oriente Médio e pousou em Dubai, capital de Omã, a 14 de outubro. Os sequestradores deram novos ultimatos e instauraram clima de terror a bordo, simulando execuções de passageiros, humilhando-os e agredindo-os brutalmente.
O avião decolou novamente, com destino a Aden, no Iêmen, onde os "terroristas" acreditavam estar mais seguros. No entanto, o governo os obrigou a seguir para Mogadíscio, na Somália. Lá, Hans-Jürgen Wischnewski, encarregado com todos os poderes por Helmut Schmidt para resolver o caso, já esperava o avião na torre de controle.
Em princípio, o representante do governo alemão sinalizou sua disposição para uma troca de reféns. No entanto, à meia-noite de 17 para 18 de outubro, um comando da polícia federal alemã entrou em ação e, em poucos minutos, dominou a situação no aeroporto africano, libertando 91 reféns. O piloto já havia sido executado pelos sequestradores.
No ataque, três dos quatro "terroristas" palestinos morreram baleados. A última "terrorista" – uma mulher – ficou gravemente ferida.
"Suicídio" em Stuttgart
Naquela mesma noite, três líderes da RAF se "suicidaram" na Alemanha. Essa é a versão do governo germânico. Um dia depois, o corpo de Hanns Martin Schleyer foi encontrado no porta-malas de um carro abandonado na fronteira da Alemanha com a França. O empresário fora executado com um tiro na nuca. Justiça revolucionária.
"Dois funcionários do Instituto Penitenciário de Stuttgart encontraram o detento Raspe ferido gravemente com um tiro na cabeça ao buscá-lo para o café da manhã. Ele foi levado para um hospital, onde morreu. Baader foi achado morto no chão de sua cela. Assim como Raspe, ele se "suicidara" com um tiro de pistola. Já Ensslin foi encontrada enforcada com um fio de eletricidade na janela de sua cela", anunciou Traugott Bender, secretário de Justiça do estado de Baden-Württemberg. As autópsias "confirmaram os suicídios."
Dos que "tentaram o suicídio" naquela noite, apenas Irmgard Möller sobreviveu, gravemente ferida. Logo a suspeita recaiu sobre um dos advogados dos "terroristas", que teria levado as armas às celas.
"Fomos ingênuos demais. Tínhamos que revistar os presos sempre após as visitas. Mas relaxamos, pois eles praticamente só tinham contato com os advogados. Nunca recebiam outras pessoas", recorda-se Horst Bubeck, funcionário do presídio.
Segundo ele, os "terroristas" não tinham contato com os demais detentos. Um isolamento do qual eles e seus advogados reclamavam enfaticamente. O sétimo andar estava reservado para os membros da RAF e era considerado área de segurança máxima.
"Eles próprios podiam se encontrar diariamente, o que era uma novidade numa penitenciária naquela época. Isto não existia antes, nem existe mais. Ou seja, eles podiam ficar cinco, seis horas juntos e até passar as noites juntos, desde que homem com homem e mulher com mulher", relata Bubeck.
Baader, Ensslin e Raspe foram enterrados numa sepultura coletiva no cemitério de Stuttgart.

FONTE

domingo, 24 de outubro de 2021

PARA NÃO ESQUECER – 17 DE OUTUBRO DE 1920 MORRE JOHN REED * Ernesto Germano Parés/RJ

PARA NÃO ESQUECER – 17 DE OUTUBRO DE 1920
MORRE JOHN REED
Ernesto Germano Parés/RJ

Conheço poucas pessoas na esquerda, principalmente entre os mais velhos, que não tenha lido o livro “Dez dias que abalaram o mundo”, de John Reed! Mas este não é o seu único trabalho e poucos conhecem sua história.
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John Reed era jornalista e, como tal, testemunhou muitos acontecimentos importantes da história. Nasceu em 1887, na cidade de Portland (EUA) mas foi estudar na Universidade de Harvard logo que conseguiu. Terminou seu curso, em 1910, e embarcou em um navio de carga com destino à Europa e conheceu Londres, Paris e Madrid. Quando voltou aos EUA foi trabalhar como editor em uma revista sobre política internacional.
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Reed era uma pessoa bem comum e tinha hábitos simples. Gostava muito de comer e beber, mas tinha uma preferência por estar perto do povo, dos trabalhadores, e isso fazia seus colegas se afastarem dele e até escreverem coisas criticando-o.
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Em 1912 tomou conhecimento de que em Lawrence, Massachusetts, durante uma manifestação dos operários de uma fiação apoiada pelo Partido Socialista, 25 mil operários de uma fábrica na outra margem do rio Hudson, se manifestavam exigindo oito horas de trabalho diário. E a polícia, como sempre, não economizou em cacetadas! Reed, como era sua maneira de ser, juntou-se aos manifestantes, sendo preso durante quatro dias. Aprendeu muito com os grevistas e, depois de solto, foi um dos organizadores de um desfile que reuniu mais de 100 mil manifestantes no Madison Square Garden em defesa do direito de greve. Escreveu sobre a greve no jornal “The Masses”.
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Em 1914 foi duramente atacado por Walter Lippmann, editor da revista “New Republic”, que escreveu sobre ele: “Por temperamento, ele não é um escritor profissional ou repórter. Ele é uma pessoa que gosta de si mesmo” E desferiu um golpe: “Reed não é imparcial e tem orgulho disso”.
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A resposta de Reed foi imediata: “Se imparcialidade significa conivência com a elasticidade na versão dos fatos contados pelos poderosos e pelos sanguinários, então sou parcial, pois estou sempre do lado da verdade e da civilização”.
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No mesmo ano, 1914, Pancho Villa liderava uma rebelião de camponeses no México quando Reed foi enviado como correspondente. Em pouco tempo, tornou-se próximo do líder revolucionário. Os relatos apaixonados de Reed estão no seu livro “México Rebelde”, um dos melhores que já li por sua proximidade e intimidade com os rebeldes.
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Mal voltara aos EUA e acontece, no Colorado, o Massacre de Ludlow, onde mineiros em greve foram abatidos pela Guarda Nacional a mando da família Rockefeller (não, eu não estou enganado, é a família do badalado Rockefeller). Tudo o que aconteceu foi devidamente registrado no seu livro “A Guerra do Colorado”.
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Em 1914 tem início a Primeira Guerra Mundial e Reed escreve “And here are the nations, flying at each other's throats like dogs… and art, industry, commerce, individual liberty, life itself taxed to maintain monstrous machines of death” (“Aqui estão as nações, a se lançar aos pescoços umas das outras como cães… e a arte, a indústria, o comércio, a liberdade individual, a própria vida são taxadas para sustentar monstruosas máquinas de morte”.)
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Foi procurado por grandes jornais que desejavam enviá-lo à Europa para fazer a cobertura da guerra e acabou aceitando o convite da revista The Metropolitan.
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Mas John Reed era uma pessoa diferente. A bordo do navio que o levava para a Europa, viajando na primeira classe, tomou conhecimento de mais de três mil italianos viajando no porão do navio e fez amizade com alguns.
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Esteve na Inglaterra, Países Baixos e Alemanha. Depois foi para a França, andando pelos campos de batalha: chuva, lama, cadáveres. O que mais o deprimiu foi o patriotismo exacerbado de ambos os lados, até em alguns socialistas, como H.G. Wells na Inglaterra.
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Voltou aos EUA por pouco tempo e, em 1915, embarca para a Europa. Dessa vez conheceu a Rússia. Viu vilas sendo queimadas a saqueadas pelos soldados do czar para massacrar os judeus russos.
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Volta para casa e, percebendo o clima de guerra, escreve um breve artigo onde diz que o inimigo para o trabalhador estadunidense eram os 2% da população que recebiam 60% da riqueza nacional. “Nós defendemos que o trabalhador prepare-se para se defender do inimigo. Esse é o nosso preparativo”.
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Reed era socialista, membro ativo do Partido nos EUA, e ficava incomodava pela maneira como os trabalhadores na Europa e EUA estavam sustentando a guerra.
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Em 1917 ele recebe a notícia de que uma revolta na Rússia havia derrubado o czar e que uma revolução estava em marcha. “Finalmente, toda uma população se negou a continuar a carnificina e se revoltou contra a classe governante”, escreveu.
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Com sua esposa, Louise Bryant, partiu para a Finlândia e Petrogrado. Os revolucionários estavam nas ruas e os operários tomavam as fábricas, viu soldados que se recusavam a lutar na guerra e viu o crescimento do soviete de Petrogrado. Entre os dias 6 e 7 de novembro a revolução avançava rapidamente e os revoltosos se apossavam das estações ferroviárias, telégrafo, telefone e correios.
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Ele ainda voltou aos EUA e, em menos de dois meses, pegou todas as suas anotações e escreveu o famoso “Dez dias que abalaram o mundo”.
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Voltou à Rússia, em 1919, e denuncia as tentativas dos governos ocidentais de invadir o país para impedir o avanço do socialismo. Mas Reed já estava desgastado e doente. Muito febril, tinha delírios e os médicos descobriram que ele contraíra tifo.
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John Reed morreu em um hospital de Moscou, no dia 17 de outubro de 1920. Seu corpo foi sepultado perto do Kremlin na Praça Vermelha, com honras de herói, sendo o único estadunidense a quem tal honra foi concedida.
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A primeira edição do livro tem prefácio de Lenin que escreve “Recomendo-o, sem reservas, aos trabalhadores de todos os países. É uma obra que eu gostaria de ver publicada aos milhares de exemplares e traduzida para todos os idiomas...”
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VIVA JOHN REED E O SEU COMPROMISSO PERMANENTE COM A LUTA DOS TRABALHADORES!
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VIVA A REVOLUÇÃO DE 1917*
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