sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

DEMOCRACIA MADE IN USA * Aram Aharonian / Telesur

 DEMOCRACIA MADE IN USA 


O mundo alinhado com os Estados Unidos está atualmente liderando o declínio de um sistema que antes prometia promover um “consenso internacional sobre a democratização” e, em geral, os países aliados viram a qualidade de suas democracias cair quase duas vezes mais do que os países não alinhados.

O governo “democrático” de Joe Biden acaba de celebrar os direitos humanos com grande alarde –e também com bombas e balas -, em uma Cúpula da Democracia, talvez como uma forma de encobrir as mortes de civis na Síria por bombardeios e execuções via drones, ações ordenadas pouco depois de o atual mandatário assumir a presidência. O evento também nasce da necessidade de Washington de definir com quem pode contar ao seu lado para enfrentar os conflitos atuais e tentar isolar a China e a Rússia.

Enquanto tenta impor sua democracia made in USA ao resto do mundo, o governo continua tendo que lidar com seus problemas internos: três ex-generais – Paul Eaton e Antonio Taguba, ambos com 34 anos de carreira, além de Steven Anderson, com 31 anos –escreveram em artigo do Washington Post sobre a possibilidade de outro golpe de Estado, desta vez com maior participação dos militares, antes das eleições de 2024. “Estamos congelados até os ossos, pensando que um golpe poderia ter sucesso na próxima vez”.

Enquanto isso, outros especialistas expressam alarme sobre uma possível “guerra civil” no país, e a investigação legislativa sobre o ataque ao Capitólio no dia 6 de janeiro revela mais detalhes sobre o quão perto o país esteve de sofrer um golpe.

“Se outra insurreição ocorrer, o potencial para um colapso total da cadeia de comando ao longo das linhas do partido – do topo da cadeia até o nível mais baixo– é significativo. A ideia de unidades militares desleais se organizando para apoiar o ‘legítimo’ comandante-chefe não pode ser descartada”, acrescentaram os generais no artigo.

Além disso, eles sugeriram uma investigação de inteligência em todas as instalações militares, para identificar possíveis amotinados e propagandistas que usam desinformação entre as fileiras militares e, finalmente, que o Pentágono conduza jogos de guerra baseados em potenciais insurreições e tentativas de golpe pós-eleitoral, para identificar fraquezas e implementar medidas para evitar rupturas na cadeira de comando militar.

“Além das tribulações político-eleitorais, a política externa dos Estados Unidos enfrenta uma dinâmica multipolar em virtude da projeção econômica e militar da China e da Rússia, que enfraquece sua capacidade de gravitar para a enorme fluidez geoestratégica da liderança eurasiática, com uma população que se sente brutalmente agredida pelas forças militares e econômicas envolvidas nas guerras antiterroristas”, lembra o analista mexicano John Saxe-Fernández

Uma investigação do Instituto Watson, da Universidade de Brown, analisa essas guerras – batizadas por diferentes nomes: contra tráfico de drogas, contra o terrorismo, o crime organizado, o Plano Colômbia, a Iniciativa Mérida, etc… e estima os custos em oito bilhões de dólares, e cerca de 900 mil mortes. Bombas e balas fabricadas pelos Estados Unidos, mas que foram usadas apenas em países como Afeganistão, Iraque e Síria… em nome dessa democracia made in USA.

Os Estados Unidos não têm vida fácil na relação com seus parceiros europeus. A complexa dinâmica russo-germânica em relação a Washington está presente não apenas nas emergências de inverno europeias, onde se impõe o tema do fornecimento de gás natural seguro e barato, disponível através do gasoduto Nord Stream 2, mas também por causa das ameaças dos Estados Unidos de aplicar sanções econômicas de forma unilateral para tentar frear o projeto do gasoduto.

Esse ato, em defesa da democracia (?) e a tolerância da Europa com respeito à Rússia foram superados pelo governo dos Estados Unidos graças a um ato de guerra agravado por umaOTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) mais hostil, e empenhada em colocar a Eurásia no campo de batalha da eventual Terceira Guerra Mundial. Ou a guerra terminal.

Arrogância e ignorância do mundo real

A liderança política de Washington, além de mostrar excessiva arrogância e muito arriscada falta de tato multipolar, nega a tradição presente na articulação das instituições da ONU (Organização das Nações Unidas), como resultado profundamente negativo das guerras desencadeadas sob o pretexto de uma cruzada antiterrorista, após os ataques de 11 de setembro de 2001.

Sem dúvida, a incorporação de preceitos da doutrina outrora adotada pelo nacional-socialismo nazista,como a autodefesa antecipada na política de segurança internacional dos Estados Unidos, não ajuda em nada.

Saxe afirma que a catástrofe terminal está se desenvolvendo a partir de operações agressivas unilaterais e altamente explosivas, em um contexto multidimensional cada vez mais multipolar. Juntamente com o abandono do compromisso de Bush pai com Gorbachev de não mover a OTAN um centímetro para o Leste, a transferência de forças daquela aliança militar para as vizinhanças da Rússia e da China é a receita explosiva para uma Terceira Guerra Mundial, desta vez terminal, como advertiu o diplomata, cientista político e historiador norte-americano George Kennan.

A esse verso democrático, deve-se adicionar a situação conflitiva no Mar da China, a tensão entre a Rússia e a Ucrânia, o alerta estadunidense de que será necessário estar preparado caso o diálogo atual com o Irã fracasse, o convite dos Estados Unidos a Taiwan para participar da Cúpula da Democracia, o que irritou – e muito – a China, que reivindica aquele território como seu. Sem falar nas tensões que a Casa Branca mantém no que considera seu quintal: a América Latina e o Caribe.

O que alarma os analistas é a incrível ignorância – e desinteresse – das agências de inteligência dos Estados Unidos sobre o que realmente está acontecendo nos países da região. Eles já têm um discurso pronto desde a época da Guerra Fria, e novas instruções sobre como proceder para alcançar a aniquilação do suposto inimigo.

Logo, continuamos com a mesma “normalidade” de sempre: Guantánamo em seu lugar, os aliados ocidentais que desmembraram jornalistas seguem impunes e fazendo campanha, o rei emérito da Espanha, Juan Carlos I, se livrando de mais um de seus muitos crimes cometidos, ninguém sabe muito bem nem como, e nem importa mais saber… O mais importante é que a Estátua da Liberdade ainda está no lugar, para que mais?

A ilusão da democracia ocidental sofreu uma queda temporária, como se fosse um servidor de internet, quando a imprensa anunciou que a Suprema Corte do Reino Unido extraditaria Julian Assange para os Estados Unidos. “A angústia durou apenas algumas horas, já que, pouco depois, os servidores foram restaurados e tudo continuou funcionando normalmente”, descreveu o analista político Luis Gonzalo Segura, no canal RT.

Julian Assange –um terrorista, segundo Barak Obama, Donald Trump e também Joe Biden –foi condenado por ter publicado informações que revelaram os crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos, incluindo assassinatos de jornalistas e de crianças filhas de imigrantes. O fundador do WikiLeaks está preso em um centro penitenciário de segurança máxima no Reino Unido, desde abril de 2019.

Aconteça o que acontecer no julgamento a ser realizado em terras norte-americanas, o arremedo de democracia que governa os estadunidenses, ocidentais e cristãos já venceu. Já serviu para intimidar publicamente potenciais jornalistas e denunciantes de corrupção. “Desde que Assange publicou as revelações mais importantes em décadas, ele foi processado, desacreditado, deslegitimado, preso, maltratado e humilhado”, lembra Segura.

Foi apedrejado, foi socialmente executado pelo terrorismo da mídia transnacional, pelos trolls das redes sociais, na frente de todo o planeta, não só uma, mas sim várias vezes, como forma de dar o exemplo, de alertar sobre o que acontece com que faz o que ele fez, mostrando que a democracia ocidental pode ser ocidental, mas não é democracia.

A verdade sobre a cúpula

Em publicação recente, os embaixadores da Rússia e da China em Washington definiram a recente Cúpula pela Democracia como “um produto que mostra sua mentalidade (de Biden) ancorada na Guerra Fria (…), que só vai alimentar o conflito ideológico e criar novas divisões”.

A profunda crise que as democracias atravessam mostra que esse conceito vive um processo de revisão, e esta iniciativa de Joe Biden tem a ver com a estratégia de impor sua versão desse novo conceito, e à necessidade do país de se fortalecer perante seus inimigos externos (China e Rússia) e internos (políticas e forças herdadas de Donald Trump).

Washington se vendeu, durante muitos anos, como um defensor global da democracia, mas a realidade é mais complicada que isso. Ao longo dos anos, um número importante de aliados se rendeu a esse sistema, criando a impressão de que aceitar a democracia made in USA gera liberdades ao estilo norte-americano. Essas tendências atuais sugerem que isso pode não ser mais verdade, se é que algum dia foi.

Os Estados Unidos apoiaram ou instalaram ditadores, incentivaram a repressão violenta de elementos progressistas e/ou de esquerda, patrocinaram grupos armados antidemocráticos, etc. Frequentemente, isso era feito em países parceiros, com a cooperação dos governos locais. Até que veio a guerra contra o terrorismo em 2001, e Washington, novamente, pressionou para estabelecer autocratas dóceis e freios à democratização, especialmente em sociedades onde o Islã é predominante.

O resultado foi mais de uma década de enfraquecimento das bases da democracia nos países aliados. Ao mesmo tempo, as pressões em favor de uma visão muito específica de democracia, em ações de grupos organizados pelos Estados Unidos começaram a diminuir.

Retrocesso democrático

“Os Estados Unidos e seus aliados foram responsáveis %u20B%u20Bpor uma parte consideravelmente grande do retrocesso democrático global experimentado na última década”, observa Max Fisher, em artigo ao New York Times, acrescentando que quase todos os aliados da Casa Branca sofreram algum grau de erosão democrática desde 2010. Isso significa que os elementos essenciais, como eleições justas ou independência judicial, enfraqueceram e a uma taxa que excede em muito as quedas médias entre outros países.

Os países alinhados com os Estados Unidos quase não experimentaram nenhum crescimento democrático nas últimas duas décadas, embora muitos daqueles que estão longe da órbita de Washington tenham tido esse avanço.

Os dados registrados pela V-Dem, uma organização sem fins lucrativos com sede na Suécia, deixam claras as dificuldades da democracia, tendência característica da era atual. Sugerem, por exemplo, que muito do retrocesso do mundo “não é imposto às democracias por potências estrangeiras, mas sim a partir de uma podridão que está crescendo dentro da rede mais poderosa de alianças. Nessa forma de governo, os líderes eleitos se comportam como caudilhos e as instituições políticas são mais fracas, o que faz com que os direitos das pessoas sejam mantidos, desde que excluídos os das minorias”, explica o informe do New York Times.

Ao fazer um tour, vemos que Turquia, Hungria, Israel e Filipinas são exemplos disso, e até mesmo os próprios Estados Unidos, onde os direitos eleitorais, a politização dos tribunais e outros fatores preocupam muitos estudiosos da democracia.

“Seria muito fácil dizer que tudo isso pode ser explicado pela existência de Trump”, alertou Seva Gunitsky, cientista político da Universidade de Toronto. “Os dados indicam que a tendência se acelerou durante a presidência de Donald Trump, mas a origem do fenômeno é anterior a isso”, completa o acadêmico. Os analistas dizem que essa mudança é, provavelmente, impulsionada por forças de longo prazo, e apontam para o declínio da crença nos Estados Unidos como um modelo ao qual se inspirar.

O declínio da crença no próprio modelo, que já passou por uma série de choques neste primeiro quarto de Século 21, se explica por décadas de política norte-americana baseada apenas em questões de curto prazo, como a prioridade à guerra contra o terrorismo. Também se viu um aumento no entusiasmo por políticas não liberais.

A análise define como “aliados”aqueles países com os quais os Estados Unidos têm compromissos formais ou implícitos de defesa mútua. São 41 os países que se encaixam nesse conceito. Os dados contradizem as suposições de Washington de que essa tendência é impulsionada pela Rússia e pela China, cujos vizinhos e parceiros viram como suas pontuações mudam muito pouco. Outra corrente afirma que a tendência é promovida por Trump, que assumiu o cargo quando essas mudanças estavam bem avançadas.

Em vez disso, o retrocesso é endêmico em democracias emergentes, e até em democracias estabelecidas, de acordo com Staffan I. Lindberg, um cientista político da Universidade de Gotemburgo que ajuda a monitorar o índice V-Dem. Esses países, geralmente, estão alinhados com os Estados Unidos. Isso não significa que Washington seja exatamente a causa de sua retração, mas também não é uma informação irrelevante.

Entre muitos, um?

“E pluribus unum”. Ou, em português, “entre muitos, um”. São as palavras do grande brasão estadunidense. Existem vários estados, mas eles estão unidos. Os Estados Unidos são um país ou vários? Pode ser ambas as coisas, mas o que, então, mantém essa união? “Aparentemente, o povo norte-americano já foi muitos povos, e com o tempo se tornou um. Então, o que acontece com a memória daqueles que eram povos norte-americanos, no plural, antes de se tornarem um só? O que isso realmente significa?”, se pergunta o historiador Kenneth Weisbrode.

Segundo os últimos dados publicados pela ONU, há mais de 50 milhões de imigrantes nos Estados Unidos, o que representa 15,42% da população total. A imigração feminina é maior do que a masculina (51,66% do total). São o 37º país do mundo em porcentagem de imigração. Os principais países de origem da imigração nos Estados Unidos são México (22,68%), China (5,72%) e Índia (5,25%).

Em 2020, o país era etnicamentecomposto por 74,7% (224,1 milhões) de brancos – incluindo muitos de origem latino-americana –, por 12,1% (36,3 milhões) de afro-americanos, por 4,3% (12,9 milhões) de asiáticos e por 0,8% (2,4 milhões) ameríndios. Pessoas de outras raças constituem 6,0% (18 milhões) e outras pessoas com duas ou mais raças constituem 1,9% (5,7 milhões).

Este governo será capaz de curar essas divisões? Porque, na realidade, o país está dividido desde a sua fundação, em questões de tribo, confissão, classe, origem, aparência, estilo de vida, crenças e assim por diante. Muitos desses qualificativos identitários são vistos em oposição aos outros, às vezes dentro de uma mesma família, um povoado, uma nação.

Na maioria dos países, a identidade constitui o cerne da ordem política e social. As crianças aprendem que pertencem a uma tribo, uma confissão, uma raça, um grupo étnico, uma história, uma nação. A palavra que os estadunidenses gostam de usar para descrever essa combinação de identidade coletiva e individual é “excepcional”. Dizem que eles e seu país são excepcionais, porque qualquer um pode se tornar estadunidense.

A maioria dos estadunidenses que votou nas eleições presidenciais não o fez para reeleger Donald Trump, mas mais de 70 milhões votaram nele, um homem cuja reivindicação de poder e influência é baseada em sua habilidade de semear a divisão. Mas o país continuou a se dividir em vários tons de azul e vermelho, associados ao Partido Democrata e ao Partido Republicano, respectivamente.

Trump utilizou conceitos stalinistas para se referir aos“inimigos do povo”. O fez apenas para separar seus seguidores daqueles que identificou como seus inimigos. Assim, o ex-presidente deixa como legado o gesto de puxar a cortina e oferecer ao povo um vislumbre desse futuro de divisão.

Contudo, o país não está mais dividido hoje do que já esteve em outras épocas. Entre 1860 e 1865 foi travada uma brutal guerra civil. Os estados norte-americanos deixarem de ser verdadeiramente unidos, e passarem de ser um só país para serem muitos, é algo que pode acontecer, antes mesmo que alguém perceba.

Um conjunto de papéis, muitos deles assinados por norte-americanos, alertam para uma provável, ou até iminente desintegração dessa potência. Impérios maiores ou comparáveis %u20B%u20Bem tamanho ao dos Estados Unidos desmoronaram ao longo dos séculos. Arnold Toynbee, em seu memorável “Estudo da História”, afirma que todo império cria dois proletariados, um externo e outro interno, e acaba colapsando sob os escombros de ambos.

Quando os europeus se estabeleceram na América do Norte, no final do Século XVII, eles não encontraram grandes impérios como os que existiam nas Américas do Sul e Central. A população indígena foi dividida em vários grupos tribais, com poucas federações, mas sem um grande sistema político unificado. A relação entre os invasores europeus e os nativos americanos não era de disputa ou hostilidade aberta, mas de rivalidade e colaboração flutuantes e negociáveis.

Os europeus eram fracos e precisavam desesperadamente de ajuda para sobreviver. A população local cobiçava as armas e a tecnologia europeias, bem como lealdade contra os inimigos locais. Ambos usaram – ou se opuseram – ao outro, e com isso as divisões se multiplicaram.

O acadêmico Luis Britto lembra que os Estados Unidos não resultam de uma união entre povos, mas de uma violência implacável que exterminou grande parte da população originária, que devorou, por exemplo, %u20Ba América do Norte francesa, a qual se estendia do atual Canadá até Nova Orleans, roubou mais da metade de território do México, comprou o Alasca e invadiu e anexou ilhas como Havaí, Porto Rico, Filipinas, Samoa e Guam.

Graças a esta expansão e à disponibilidade ilimitada de trabalho escravo – ou semiescravo, no caso de muitos imigrantes –, os Estados Unidos foram capazes de explorar mais riquezas naturais do que qualquer outro país na terra, sobreviver à primeira tentativa de secessão e se tornar um império, impondo sua hegemonia por meio de uma rede de quase mil bases militares no hemisfério ocidental e em um Velho Mundo exausto e dilacerado pela guerra.

O acadêmico estadunidense Jared A. Brock argumenta que o país em breve será dividido em doze, e diz que essa situação é inevitável. “Cerca de metade dos norte-americanos querem se separar do sindicato e 31% acham que é provável que ocorra uma guerra civil nos próximos cinco anos. Os seguidores do Partido Democratasão a maioria dos que consideram provável essa situação”.

Cerca de 32% dos californianos concordam com o que se conhece como “Calexit” (separação da Califórnia do resto dos Estados Unidos). Argumentam que seria a quinta maior economia do mundo, com centenas de corporações, além de áreas de mercado maiores do que muitos países que parecem desesperados para se libertar de qualquer tipo de governo democrático.

Implosão? Guerra civil? Guerra terminal? Quem sabe. Enquanto isso, o aquecimento global continua, a crescente desigualdade continua, nos Estados Unidos e ao redor do mundo… e continuaremos a recitar o evangelho da democracia feito nos Estados Unidos. E sofrendo asconsequências também neste ano de 2022, que mal começou e já se parece aos anteriores.

Aram Aharonian é jornalista e comunicador uruguaio, criador do canal TeleSur, presidente da Fundação para a Integração Latino- Americana (FILA) e diretor do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

*Publicado originalmente em estrategia.la | Tradução de Victor Farinelli
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Aram Aharonian / Telesur

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

América latina construindo a Pátria Grande * Beto Almeida / DF

AMÉRICA LATINA CONSTRUINDO A PÁTRIA GRANDE 
Beto Almeida*

Em 2021, os povos de diversos países da América Latina registraram combates memoráveis e alcançaram vitórias significativas que permitem prever que esteja em curso uma busca por retomar o caminho da integração regional soberana e libertadora. Em batalha de rua, em cada resistência a massacres, em cada voto rebelde, em cada greve contra privatizações, parece que se ouve a voz de Juan Domingo Peron quando declarou, profetizando para a Pátria Grande: o século XXI nos encontrará unidos ou escravizados!

O continente latino-americano jamais deixou de lutar contra velhas e novas imposições imperiais, agora sob a forma brutal do neoliberalismo, que vai submetendo vastas regiões em fome, miséria, sofrimento, rapina, destruição de direitos conquistas com largas lutas, especialmente as empresas estatais e legislações sociais fundamentais.

A ofensiva neoliberal tem encontrado resistências históricas, tais como o verdadeiro levante popular que sacode o Chile a alguns anos, culminando com a eleição de um Assembleia Constituinte avançada e, agora, a vitória das forças progressistas, com a eleição de Gabriel Boric. Um das características fundamentais para a vitória popular chilena foi a unidade das forças progressistas, tanto para a Constituinte como na eleição presidencial, inclusive precedida de uma indispensável recuperação da prática chamada Puerta a Puerta, na qual a militância percorria os bairros, conversando cara a cara com o povo, de casa a casa, de porta a porta. Tal como já havia ocorrido na eleição de Lopes Obrador anos atrás, com a distribuição de milhões de exemplares do jornal do MORENA, partido vencedor.
Na Bolívia, a unidade e a mobilização popular foram decisivas
Pouco antes a Bolívia já havia retomado o caminho da democracia com justiça social, após um golpe sanguinário organizado pelos EUA, com operação criminosa da OEA. O golpe não pode se sustentar em razão de uma resistência tenaz do povo boliviano, que, com unidade, derrotou o golpismo e reelegeu Lúcio Arce, retomando o caminho de defesa das empresas estatais, da soberania nacional, dos direitos populares, do funcionamento democrático pleno, com amplo protagonismo dos movimentos populares. E toda a tentativa de desestabilizar o governo democrático e anti-imperialista de Lucho Arce, vem sendo rechaçada por intensas mobilizações populares, indicando que não se pode descansar um minuto frente ao império. Novas tentativas de golpe virão, é da natureza do império!

A eleição de Lucho Arce permitiu a volta da Bolívia ao ALBA, o que possibilita a participação do Estado Plurinacional Boliviano em planos, ações e projetos de cooperação e integração com demais países que integram este Bloco de Cooperação, onde também se planejam e aplicam políticas de saúde e educação que escapam ao controle do imperialismo e fortalecem os estados nacionais.

Antes, também em 2021, o Peru já havia dado também uma manifestação clara de que o povo quer conduzir aquele país por um novo curso, valorizando o Estado, a educação com a eleição de um professor rural, Pedro Castilho. É bastante simbólica informação de Pedro Castilho havia sido aluno das políticas de alfabetização do governo nacional e popular do General Juan Velasco Alvarado, que contou, na época, com apoio do educador brasileiro Darcy Ribeiro, colaborador daquelas políticas de combate à praga do analfabetismo e a criação massiva de escolas rurais. A reação das oligarquias peruanas à eleição de Pedro Castilho, previsível, não se fez por esperar e revela a absoluta necessidade de governos de natureza popular e democrática organizarem amplos mecanismos de participação e protagonismo populares para enfrentar o golpismo imposto sistematicamente por Washington. Com todas as limitações da conjuntura política peruana, uma governabilidade difícil de assegurar, o governo de Castilho resiste e busca caminhos para poder tomar medidas populares, apesar do cerco midiático e das sabotagens diárias contra sua estabilidade. De todo modo, o povo peruano se pronunciou pelo voto, rejeitando os sucessivos desastres neoliberais, especialmente a volta do fujimorismo, tanto fascista como neoliberal.

Cuba, Venezuela e Nicarágua: grandes vitórias contra o império

É preciso assinalar que mesmo onde não tenha havido exatamente uma vitória contra as ações do império, como nos casos do Equador e do Uruguai, houve grandes expressões de luta, de combate e de manutenção da autoridade das forças progressistas, que se mantém como alternativa concreta, como é o caso da Frente Ampla uruguaia e da candidatura lançada por Frente País equatoriana, que preservam suas respectivas autoridades políticas.

Mas, sem dúvida, foi em Cuba, pela Resistência do Povo Cubano em defesa de sua Revolução, e também na Venezuela e na Nicarágua, onde se registraram muito importantes derrotas para o império, já que são os três países mais atacados, bloqueados, sancionados pelos EUA, onde se tentaram golpes e sabotagens, firmemente derrotadas pela unidade popular em torno de seus respectivos governos. Em Cuba, Biden recrudesceu uma série de medidas para desestabilizar a revolução, ampliando a ingerência ilegal e criminosa do bloqueio com o financiamento de atores internos, que foram devidamente derrotados pela consciência revolucionária das massas cubanas. Mesmo enfrentando grandes dificuldades econômicas, seja pelo Bloqueio, mas também ela Pandemia que afetou duramente uma das atividades econômicas mais importantes da Ilha, o turismo, Cuba não só não se paralisou, como também seguir avançando na produção de vacinas próprias, hoje exportadas para inúmeros países, como também demonstrou sua elevada capacidade de oferecer solidariedade a numerosos países, inclusive alguns da União Europeia, com a Itália. Assim, a derrota das iniciativas contra revolucionárias no último período, não deixam de ser uma demonstração da energia e vigência da Revolução de Cuba, que, com estes gestos concretos, comunica ao mundo sua razão, também expressa em nova derrota dos EUA também na Assembleia da ONU, com esmagadora votação contra o Bloqueio ilegal e criminoso.

Na Nicarágua, país que também é alvo de sanções e guerra econômica e midiática por parte dos EUA, a reeleição do governo sandinista liderado por Daniel Ortega, com mais de 75% dos votos, sinaliza que o povo nicaraguense optou por consolidar e fortalecer o modelo de desenvolvimento social inclusivo, transformando aquele país em uma nação com os melhores indicadores de desenvolvimento humano da região, tendo alcançado uma saúde pública e gratuita, um modelo de educação igualmente público e gratuito, a autossuficiência na produção de alimentos, a eletrificação de todo o país e uma muy significativa redução das taxas de pobreza. Deve-se recordar que essa vitória sandinista foi construída ao largo de vários mandatos de Daniel Ortega, e teve como fator decisivo a mobilização popular do governo sandinista para derrotar a tentativa de golpe de estado, em abril de 2018, organizado pela Casa Branca, operando junto com a oligarquia local e segmentos mais retrógados da Igreja Católica. O objetivo era interromper a aplicação do modelo social inclusivo sandinista, com medidas anti neoliberais, e significativa expansão produtiva, um exemplo para os padrões sócio econômicos da América Central. Logo após a vitória eleitoral sandinista, em novembro de 20121, Nicarágua comunica sua decisão de sair da OEA, instrumento que tem sido sistematicamente utilizado em favor dos EUA contra a Pátria de Sandino, além de reconhecer , finalmente, a República Popular da China, revelando-se em nova derrota geopolítica para Joe Biden, já que traz a possibilidade concreta de construção de um segundo canal interoceânico, o que daria nova e espetacular alcance ao Porto de Mariel, construído em Cuba com participação do Brasil. Duas medidas pós eleitorais indicativas de que o voto no sandinismo guarda profundo conteúdo anti imperialista.

Venezuela: 29 eleições em 22 anos de Revolução Bolivariana!

A vitória do Chavismo na Venezuela , em 21 de novembro, com o PSUV elegendo a imensa maioria dos governadores, prefeitos e integrantes dos parlamentos regionais e municipais, constitui-se em vigorosa mensagem da Revolução Bolivariana para o mundo, vencendo os efeitos destrutivos do bloqueio econômico, da guerra monetária a que tem sido submetida, incluindo a guerra política e midiática, que chegou a ponto de organizar um “governo” fantoche, reconhecido por vários países capitalistas do mundo, que terminou por se dissolver ante a firmeza das massas chavistas, desmoralizando todos estes ridículos apoiadores, inclusive o bestial Bolsonaro. Este foi duplamente derrotado, pois um Relatório recente emitido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, organismo governamental, chegou à conclusão de que foi o Brasil o grande prejudicado com a ruptura de relações com a Venezuela, com enormes prejuízos econômicos. O Relatório governamental termina recomentando a retomada de relações com a Venezuela, além de deixar filtrar a informação de que tal virada de posição e defendida inclusive por setores das Forças Armadas Brasileiras, a despeito da postura do Palácio do Planalto. Tremenda derrota política para o bolsonarismo.

A integração é imprescindível

Especialmente nestes países, Cuba, Venezuela e Nicarágua, o tom mais importante a destacar foi a presença de povo na rua como um fator determinante e diferencial que explica a essência das derrotas impostas ao imperialismo. A mobilização popular em favor dos respectivos governos, dos processos revolucionários e de transformação em curso, foi o que permitiu assegurar a continuidade de importantíssimas conquistas, como ALBA, que integra de forma cooperativas estas e outras nações da região.

Por fim, vale assinalar a importância da eleição da candidata progressista Xiomara Castro, em Honduras, especialmente por ter sido um país alvo de golpe de estado há poucos anos, depondo Manuel Zelaya, justo no momento que estruturava uma significativa linha de cooperação com Cuba e Venezuela. Exatamente por isso, a vitória de um governo progressista em Honduras, que faz fronteira com a Nicarágua, expande possibilidades de um comércio bilateral e de uma cooperação muito mais aprofundada, sinalizando, inclusive, para um possível ingresso hondurenho na ALBA, o que reforça, novamente, a ideia de que todas estas vitórias eleitorais do último período, trazem consigo uma potencial e necessária retomada do caminho da integração regional latino-americana. Agora com uma muito maior presença de países como China, Rússia e Irã.

Este novo desenho do mapa político da América Latina, que está em curso, é como a tradução , renovada para no tempo, daquele desejo do General Peron, mas aponta também para a importantíssima necessidade da presença do Brasil neste mapa, país com o peso econômico e industrial mais amplo, com capacidade singular de reduzir prazos históricos nesta integração, muito embora hoje ela esteja neutralizada pela presença de um governo vassalo aos EUA. Entretanto, todos os sinais políticos no último período, inclusive a retumbante presença de Lula, com Mujica, Cristina e Alberto Fernandez, em manifestação peronista de 200 mil argentinos na Plaza de Mayo em Buenos Aires, é expressão viva e concreta de que há, grosso modo, uma elevação e uma preparação na América Latina para que, em 2022, o Brasil volte a ser, pelo voto democrático de seu povo, uma alavanca decisiva para que o continente retome a construção de uma integração, sem a qual, separados, estes países não podem exercer uma resistência eficaz contra as ações destrutivas do império, que não vai parar de nos agredir. Como profetizou o General Peron.

FONTE

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Urge o debate à esquerda * Luiz Eduardo Mergulhão Ruas / RJ

 URGE O DEBATE À ESQUERDA

Pontos para reflexão, resumidamente, para iniciar o debate. Em relação a importantíssima vitória das forças populares chilenas, salientamos o seguinte:


1- A derrota do candidato fascista foi fundamental para inibir a força da extrema direita que se articulam em todo o mundo;


2- A vitória de Boric mostra que é real a reaglutinação das forças de esquerda e a dificuldade dos governos de direita justamente pela tragédia social provocada pelo neoliberalismo;


3- Essa reaglutinação das forças de esquerda é muito diferenciado de país para país. Em que pese todas as alternativas de se darem no campo eleitoral institucional, varia o grau de organização e radicalização dos movimentos populares de país para país;


4-  As vitórias eleitorais foram alcançadas com base na unidade dos setores de esquerda com base em programas mais amplos que aglutinaram outros setores políticos e sociais . Não são programas , portanto , anticapitalistas. A ressaltar que onde essa unidade não aconteceu fomos derrotados , como no Equador;


 5- A capacidade política dos grupos mais à esquerda e setores populares na construção de medidas capazes de comprometer esses novos governos com a transformação social é central . Essa tem sido a maior dificuldade nas experiências populares da América Latina;


6- Dentre tantas explicações , certamente essa dificuldade em ultrapassar dialeticamente essa fase do processo revolucionário tem relação com as características do capitalismo atual e a crise de estratégia das forças de esquerda;


7- A tarefa central das forças de esquerda está na organização dos movimentos sociais e populares realizando também de forma unitária uma profunda discussão sobre a questão estratégica , ou seja, como superar o capitalismo e sua lógica nos dias de hoje , e que caminhos os governos populares devem seguir nesse sentido;


8- A organização popular é também fundamental para sustentar esses governos mais á esquerda e determinantes para as suas ações . Comparemos , nesse sentido , Bolívia e Peru, esse último sem contar com uma experiência de organização e radicalidade que acaba enfraquecendo o presidente Castilho;


 9- Tendo em vista essa caracterização , a nossa situação talvez seja uma das piores do continente . Sofremos uma sequência de duras derrotas com reações pontuais dos movimentos populares que não foram capazes de criar um novo patamar em termos de consciência popular  e  um projeto mais à esquerda;


10- Diante desse quadro de recuo não há outra alternativa que apoiar a candidatura Lula porque o nível de organização dos movimentos e consciência das massas não permite algo mais radicalizado . Que transformemos esse apoio a uma candidatura de coligações muito amplas e programa certamente mais tímido que em 2002 em campanha de massa capaz de organizar o povo , construir um programa alternativo , capaz de levar Lula  a vitória mas também superar o lulismo.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Desde Chile por toda América Latina * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros / PCTB

 Desde Chile por toda América Latina

A REBELIÃO CONTINUA
Deputada Camila Vallejo, PC Chile

ENTREVISTA EXCLUSIVA À REVISTA JACOBIN
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O MARXISMO NÃO É MAIS ÚTIL * FREI BETO / SP

O MARXISMO NÃO É MAIS ÚTIL

O papa Bento XVI tem razão: o marxismo não é mais útil. Sim, o marxismo conforme muitos na Igreja Católica o entendem: uma ideologia ateísta, que justificou os crimes de Stalin e as barbaridades da revolução cultural chinesa. Aceitar que o marxismo conforme a ótica de Ratzinger é o mesmo marxismo conforme a ótica de Marx seria como identificar catolicismo com Inquisição. Poder-se-ia dizer hoje: o catolicismo não é mais útil. Porque já não se justifica enviar mulheres tidas como bruxas à fogueira nem torturar suspeitos de heresia. Ora, felizmente o catolicismo não pode ser identificado com a Inquisição, nem com a pedofilia de padres e bispos.

Do mesmo modo, o marxismo não se confunde com os marxistas que o utilizaram para disseminar o medo, o terror, e sufocar a liberdade religiosa. Há que voltar a Marx para saber o que é marxismo; assim como há que retornar aos Evangelhos e a Jesus para saber o que é cristianismo, e a Francisco de Assis para saber o que é catolicismo.
Ao longo da história,
• em nome das mais belas palavras foram cometidos os mais horrendos crimes.
• Em nome da democracia, os EUA se apoderaram de Porto Rico e da base cubana de Guantánamo.
• Em nome do progresso, países da Europa Ocidental colonizaram povos africanos e deixaram ali um rastro de miséria.
• Em nome da liberdade, a rainha Vitória, do Reino Unido, promoveu na China a devastadora Guerra do Ópio.
• Em nome da paz, a Casa Branca cometeu o mais ousado e genocida ato terrorista de toda a história: as bombas atômicas sobre as populações de Hiroshima e Nagasaki.
• Em nome da liberdade, os EUA implantaram, em quase toda a América Latina, ditaduras sanguinárias ao longo de três décadas (1960-1980).

O marxismo é um método de análise da realidade. E, mais do que nunca, útil para se compreender a atual crise do capitalismo. O capitalismo, sim, já não é útil, pois
• promoveu a mais acentuada desigualdade social entre a população do mundo;
• apoderou-se de riquezas naturais de outros povos;
• desenvolveu sua face imperialista e monopolista;
• centrou o equilíbrio do mundo em arsenais nucleares; e
• disseminou a ideologia neoliberal, que reduz o ser humano a mero consumista submisso aos encantos da mercadoria.

Hoje, o capitalismo é hegemônico no mundo. E de 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta, 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecem fome crônica. O capitalismo fracassou para 2/3 da humanidade que não têm acesso a uma vida digna.
• Onde o cristianismo e o marxismo falam em solidariedade, o capitalismo introduziu a competição;
• onde o cristianismo e o marxismo falam em cooperação, o capitalismo introduziu a concorrência;
• onde o cristianismo e o marxismo falam em respeito à soberania dos povos, o capitalismo introduziu a globocolonização.

A religião não é um método de análise da realidade. O marxismo não é uma religião. A luz que a fé projeta sobre a realidade é, queira ou não o Vaticano, sempre mediatizada por uma ideologia. A ideologia neoliberal, que identifica capitalismo e democracia, hoje impera na consciência de muitos cristãos e os impede de perceber que o capitalismo é intrinsecamente perverso. A Igreja Católica, muitas vezes, é conivente com o capitalismo porque este a cobre de privilégios e lhe franqueia uma liberdade que é negada, pela pobreza, a milhões de seres humanos.

Ora, já está provado que o capitalismo não assegura um futuro digno para a humanidade. Bento XVI o admitiu ao afirmar que devemos buscar novos modelos. O marxismo, ao analisar as contradições e insuficiências do capitalismo, nos abre uma porta de esperança a uma sociedade que os católicos, na celebração eucarística, caracterizam como o mundo em que todos haverão de “partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano”. A isso Marx chamou de socialismo.

O arcebispo católico de Munique, Reinhard Marx lançou, em 2011, um livro intitulado O Capital – um legado a favor da humanidade. A capa contém as mesmas cores e fontes gráficas da primeira edição de O Capital, de Karl Marx, publicada em Hamburgo, em 1867. “Marx não está morto e é preciso levá-lo a sério“, disse o prelado por ocasião do lançamento da obra. “Há que se confrontar com a obra de Karl Marx, que nos ajuda a entender as teorias da acumulação capitalista e o mercantilismo. Isso não significa deixar-se atrair pelas aberrações e atrocidades cometidas em seu nome no século 20″.

O autor do novo O Capital, nomeado cardeal por Bento XVI em novembro de 2010, qualifica de “sociais-éticos” os princípios defendidos em seu livro, critica o capitalismo neoliberal, qualifica a especulação de “selvagem” e “pecado”, e advoga que a economia precisa ser redesenhada segundo normas éticas de uma nova ordem econômica e política. “As regras do jogo devem ter qualidade ética. Nesse sentido, a doutrina social da Igreja é crítica frente ao capitalismo“, afirma o arcebispo.

O livro se inicia com uma carta de Reinhard Marx a Karl Marx, a quem chama de “querido homônimo”, falecido em 1883. Roga-lhe reconhecer agora seu equívoco quanto à inexistência de Deus. O que sugere, nas entrelinhas, que o autor do Manifesto Comunista se encontra entre os que, do outro lado da vida, desfrutam da visão beatífica de Deus.

domingo, 26 de dezembro de 2021

Um aviso a Gabriel Boric * Frente Patriótica Manuel Rodeiguez / FPMR

COMUNICADO FPMR

UM ANISO A GABRIEL BORIC

 

FRENTE PATRIÓTICA MANUEL RODRIGUES

(3) Frente Patriótico Manuel Rodríguez | Facebook

ELN DESEJA A TODOS UM FELIZ 2022 * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros / PCTB

 ELN DESEJA A TODOS UM FELIZ 2022

Exército de Libertação Nacional / Colômbia

COMUNICADO DO ELN
divulga seu desejo de um feliz 2022 para todos os trabalhadores de todo o mundo, especialmente, os latinoamericanos e mais ainda, àqueles que estão empenhados na luta pela transformação social rumo ao socialismo.
ALGO MAIS:
TELESUR NET
*
CONVOCATÓRIA SEGUNDA INDEPENDÊNCIA

Carta a Gabriel Boric * Pablo Sepúlveda Allende / Ve

CARTA A GABIEL BORIC

_ duplo padrão em direitos humanos e a esquerda "Nice" _

Pablo Sepúlveda Allende

Pablo Sepúlveda Allende | Allende Live 2021


Deputado, atrevo-me a responder porque vejo o perigo de que isso signifique que dirigentes importantes como o senhor, jovens referentes daquela "nova esquerda" que surgiu na Frente Amplio, façam comparações simplistas, absurdas e mal informadas sobre questões tão delicadas como direitos humanos.

É muito tendencioso e rude que você equiparar - sem o menor argumento - o suposto "enfraquecimento das condições básicas da democracia na Venezuela", a "restrição permanente das liberdades em Cuba" e "a repressão do governo Ortega na Nicarágua" com as comprovadas atrocidades da ditadura militar no Chile, o evidente intervencionismo criminoso dos Estados Unidos em todo o mundo e o terrorismo do Estado de Israel contra o Povo da Palestina.

O fato de você escrever tal absurdo não "significa se tornar um pseudo agente da CIA", mas denota uma importante irresponsabilidade e imaturidade política que pode transformá-lo em um elemento útil para a direita, ou pior, acabar sendo essa "esquerda" do que o desejo certo; uma esquerda burra, ambígua, uma esquerda inofensiva, que pelo oportunismo prefere parecer "politicamente correta", aquela esquerda que não é "nem chicha nem limonada", aquela que não quer ficar mal com ninguém.

Essa esquerda confunde, porque não ousa apontar e enfrentar com coragem os verdadeiros inimigos dos povos. Daí o perigo de emitir opiniões politicamente imaturas.

Você já se perguntou por que a Venezuela está sendo tão difamada e atacada pela mídia? Por que é notícia todos os dias em praticamente todos os países do mundo ocidental onde os meios de comunicação de massa dominam? Por que é atacado por todos os lados e em uma gangue? Por que esses grandes noticiários se calam sobre os massacres contínuos na Colômbia e no México? Por que aqueles que rasgam a roupa preocupados com um deputado venezuelano, que confessou ter participado de uma tentativa de assassinato, não têm a coragem de exigir que Israel acabe com o genocídio contra o povo palestino?

O mundo de cabeça para baixo. Esse é o mundo da política sem ânimo e sem coragem.

Margarita Labarca Goddard já argumentou de forma clara e contundente por que você está errado em seus julgamentos em relação a Cuba, Venezuela e Nicarágua. Acrescentarei apenas que a Venezuela tem uma democracia muito mais saudável e transparente do que a do Chile, sempre que você quiser posso argumentar com você e podemos debater, se você estiver interessado.

Também é fácil argumentar por que a "restrição permanente das liberdades em Cuba" é uma falácia. Sem mencionar que a palavra "liberdade" é tão confusa, que agora seu verdadeiro significado é ambíguo, e uma definição sensata requer até mesmo um debate filosófico. Ou diga-me, o que é liberdade?

Eu nomeio esses dois países porque os conheço muito bem. Morei em Cuba por 9 anos e na Venezuela estou morando por mais 9 anos. Não conheço a Nicarágua em primeira mão, mas convido você a se perguntar qual teria sido a reação de um governo de direita à ação de gangues de criminosos pagos e fortemente armados, que vêm para assumir setores das cidades mais importantes no país; e onde, ademais, ditas gangues de mercenários estão instaladas para cometer atos abomináveis ​​como sequestro, tortura, mutilação, estupro e até mesmo queimar vivas, dezenas de seres humanos, pelo simples fato de serem militantes de uma causa - no caso, “Sandinista militantes” -, onde a perseguição chegou ao ponto de assassinar famílias inteiras em suas próprias casas.

O governo legitimamente eleito na Nicarágua, mesmo tendo os recursos, a estrutura legal e a força para tomar medidas imediatas e enérgicas contra tal desestabilização fascista, foi bastante contido. Você acha que a direita no poder teria tido aquela visão pacífica e um apelo ao diálogo para resolver o conflito?

A história nos responde.

Eu entendo que você pode se confundir com a grande “mídia” que se encarregou de vitimar os perpetradores; assim como fizeram há um ano na Venezuela durante as chamadas guarimbas.

Portanto, Gabriel, objetivamente falando, com argumentos sérios -sem opiniões formadas e moldadas pela mídia com base em deturpações e mentiras repetidas diariamente-, não há duplo padrão em que defendamos Cuba, Venezuela e Nicarágua.

Não desaparecemos nem torturamos, não prendemos quem pensa ou pensa diferente, sim criminosos; sejam esses deputados, políticos ou supostos alunos. Em vez disso, parece-me ver esse "padrão duplo" em você, emitindo julgamentos de valor confortáveis ​​por manipulação e ignorância.

Na mídia, democracia e liberdade, podemos discutir a comparação do Chile com esses países. Garanto que infelizmente o Chile não se sairia muito bem, ainda mais, se incluíssemos os direitos humanos, econômicos e sociais, que nada mais são do que mercadoria.

"Uma pessoa atinge seu nível mais alto de ignorância quando rejeita algo de que nada sabe."

Saúde.

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Doutor, Coordenador da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade, * neto do Presidente Salvador Allende Gossens. 

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sábado, 25 de dezembro de 2021

LULA E A OPÇÃO BURGUESA * VILEMAR COSTA / CE

 LULA E A OPÇÃO BURGUESA

VILEMAR COSTA / CE

Boa parte da esquerda brasileira jogou a toalha de um jeito que não se encoraja nem para reclamar do Alckmin. A direita pressiona, ganha espaço, pauta. Mesmo uma direita sem muitos votos como se tornou o Alckmin, o cara da Opus Dei que teve menos de 5% de votos em 2018 e está saindo do PSDB porque perdeu o comando do partido. 


E nós? Aceitamos porque é o que tem pra hoje? Achamos que é ele quem vai garantir as eleições contra um possível golpe (que já ocorreu, embora a mesma parte dessa esquerda pareça esperar ainda o golpe no formato clássico)? Não vale nem tentar fazer ser melhor? Ignoramos, fazendo de conta que não está acontecendo e postando "Lula lá"? É, francamente, desolador. 


Discutir isso não é ignorar as agruras do povo, mas buscar encontrar respostas que permitam um caminho de superação real. Para isso, tem que ter projeto e não só um nome, deveríamos ter aprendido (pelo menos desde o Levy).


Lula está com percentual que aponta poder até ganhar no 1º turno. É o que todos nós queremos, aliás. Mas o que fazer até lá? Saiamos das cordas para, pelo menos, pressionarmos por algo mais digno e menos opressor. 


Assim como não haveria Boric, no Chile, sem os movimentos estudantis, de mulheres e indígenas, aqui não vai ter saída para essa tragédia sem luta, inclusive em relação à posição de quem deveria liderar uma saída à esquerda para a crise.


Crise, aliás, que está longe de se resumir a Bolsonaro e terá que seguir sendo enfrentada a cada ato e decisão do novo governo. Alguém duvida para qual lado da corda o Alckmin vai puxar?


Aliás, Projeto e Lula são duas palavras que não combinam. Antes de Levy, teve Palocci e Meirelles, sob protestos do vice à época, José Alencar. O vice do Lula poderia ser Rui Costa Pimenta, Zé Maria, Boulos, Marx, Jesus Cristo, que não faria diferença nenhuma.


Parece reprise de "Sessão da Tarde". Lula e o PT se aliando a uma corja para ganhar votos do centro-direita e garantir a tão decantada "governabilidade". Não aprenderam a lição com José Alencar e o PMDB, o mesmo partido que adiante encabeçaria a derrubada de Dilma.


A "sorte" de Lula é que, na primeira vez, o ineditismo e a expectativa de tê-lo no poder suplantaram essa pouca vergonha. Agora, é a urgente premissa de tirar o Bozo que o faz. Porém, a sorte dele se configura no azar do povo, porque mais uma vez sabemos que infelizmente Lula estará, mais uma vez, de rabo preso com os poderosos. 

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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

DIANTE DA ELEIÇÃO DE GABRIEL BORIC * Movimento de Esquerda Revolucionária / MIR / CHILE

DIANTE DA ELEIÇÃO DE GABRIEL BORIC 

Movimento de Esquerda Revolucionária


FRENTE PATRIÓTICA MANUEL RODRIGUES


Ontem um candidato pinochetista foi derrotado nas urnas. O povo saiu às ruas feliz, não por eleger Gabriel Boric, mas por finalmente se permitir uma derrota para o fascismo. O Movimento de Esquerda Revolucionária MIR deseja contribuir com sua opinião para a necessária discussão política sobre o que significa esta eleição.


1. O nazista Kkkast permitiu que a direita se manifestasse novamente em torno do pinochetismo.


2. O presidente eleito já deu sua mensagem de unidade até com o pinochetismo.


3. O Partido Comunista do Chile não gravitará neste governo. Boric já ignorou seu principal candidato, Daniel Jadue, que nem subiu ao palco. Ele não deu o nome do PC dentro dos partidos que o apoiavam. Mas como era de se esperar, o PC chileno não se incomoda com essa posição se conseguir obter vários cargos no governo central e nas regiões.


4. O Parlamento está vinculado entre a esquerda reformista neoliberal e o pinochetismo. Isso significa que ele governará novamente com a antiga “política de acordos” da Concertación. Por isso, não haverá possibilidade de mudanças profundas.


5. As mudanças drásticas de opinião durante este processo, com esperanças quase messiânicas, mostram-nos que a educação política deve necessariamente crescer. A explosão social, nesse sentido, não foi um acelerador da consciência de classe e da luta de classes. 


6. Por tudo isso, o Movimento de Esquerda Revolucionária do MIR evidentemente se assume como OPOSITOR DA ESQUERDA desse governo neoliberal. 

Por sua vez, o Movimiento de Izquierda Revolucionaria MIR clama pela unidade da esquerda revolucionária que está fora do parlamento e que está atuando em pequenos coletivos, e posições para alcançar mais militância do que um projeto político socialista unitário.


* Gente, Consciência e Rifle! *

* MIR MIR MIR! *

▪️ Movimento de Esquerda Revolucionária MIR 

▪️Diretoria de Resistencia 

Santiago, 20 de dezembro de 2021


FONTE

Movimiento de Izquierda Revolucionaria -MIR – Sitio web Oficial del Movimiento de Izquierda Revolucionaria – MIR de Chile

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