segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

OS NEGÓCIOS DE Sir JOE BIDEN * Prof. Thomas de Toledo / WEB

 OS NEGÓCIOS DE Sir JOE BIDEN

JOE BIDEN E FILHO

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Prof. Thomas de Toledo 

Joe Biden conseguiu. Pela irresponsabilidade do atual governo dos Estados Unidos em insistir na expansão da OTAN para as fronteiras russas, agora temos uma guerra na Ucrânia que pode escalar para um conflito de média intensidade ou até para além disto. Por envolver diretamente uma potência nuclear, há sempre um fantasma pairando no ar. Entretanto, é precipitado classificar este conflito como uma 3a Guerra Mundial. Seja como for, o Brasil precisa manter uma equidistância pragmática sem tomar lado. Vamos aos dados.


A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foi criada pelos Estados Unidos em 1949 com o objetivo de combater a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Após o fim da Guerra Fria em 1989 e a dissolução da URSS, a OTAN perdeu o sentido de existir. Mas, ao contrário, os Estados Unidos decidiram expandi-la para países do Leste Europeu. Nas últimas 3 décadas, a OTAN foi cercando a Rússia com a inclusão de novos membros. Entretanto, nenhum país nas fronteiras russas havia sido acrescido na aliança atlântica.


Em 1991, George H. Bush bombardeou o Iraque para mostrar ao mundo que só havia no momento uma superpotência. Bill Clinton atacou e destruiu a Iugoslávia em 1999, fragmentando o território daquele país e criando um estado postiço no Kossovo. Isto foi uma afronta direta a um aliado histórico da Rússia, que naquele momento não teve como reagir.


Com os ataques em 11 de setembro de 2001, a Doutrina de George W. Bush declarou que os Estados Unidos poderiam fazer guerras preventivas sem o consentimento da ONU e que quem não estivesse ao lado deles seria seus inimigos. Os resultados concretos foram duas grandes guerras: a do Afeganistão em 2001 e do Iraque em 2003. A primeira foi para controlar o heartland da Eurásia e a segunda, para atender ao interesse da indústria petrolífera. Ambas visavam drenar recursos públicos para a indústria bélica.


Desde o fim da URSS, a Rússia teve que confrontar guerras em seu próprio território ou nas fronteiras, muitas das quais tendo os Estados Unidos como patrocinador. Um a um, os regimes aliados à Rússia no Leste Europeu foram sendo derrubados com as chamadas “revoluções coloridas”, que eram operações de mudança de regime empregando as modernas técnicas de guerra híbrida. Em 2014, um golpe de estado articulado pelos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia derrubou o governo ucraniano, então aliado a Moscou. O objetivo era retaliar a Rússia por ela ter contido a operação de mudança de regime na Síria – uma guerra criada para redesenhar o mapa geopolítico do Oriente Médio na complexa geopolítica dos hidrocarbonetos que também envolve o peso russo no comércio de gás e petróleo. Também visava impedir o acesso russo a mares quentes através do Mar Negro. Planejava ainda expandir a OTAN para as fronteiras russas e assim conter a possível retomada da sua influência na área da antiga URSS.


A subjetividade é um elemento central das modernas guerras híbridas. Assim, foi preciso construir um sentimento de desagregação da identidade eslava russo-ucraniana. Para tanto, foram financiados grupos ultranacionalistas, neonazistas e bandeiristas. Saíram do armário ideias que estavam adormecidas desde a 2a Guerra Mundial com financiamento europeu e estadunidense. Grupos como Svoboda e Setor Direita formaram bancadas no parlamento ucraniano após o golpe. Em 2 de maio de 2014, neonazistas promoveram um massacre de sindicalistas em Odessa, resultando na morte de mais de 40 pessoas e 200 feridos gravemente por terem sido queimados vivos na sede de um sindicato. Nem Estados Unidos nem União Europeia condenaram as ações dos neonazistas.


A Rússia agiu rapidamente para garantir seus interesses estratégicos: reanexou a Crimeia e o poderoso porto de Sebastopol no Mar Negro. Apoiou grupos separatistas na região fronteiriça de Donbass, das autoproclamadas Repúblicas Populares de Luganski e Donetsky. Apesar de ter uma grande população étnica russa, o idioma russo foi banido da oficialidade e sentimentos de xenofobia passaram a ser promovidos amplamente na Ucrânia. Mesmo assim, em 2014, foram estabelecidos os Acordos de Minsk, no qual a Rússia prometeria não atacar a Ucrânia e a Ucrânia deixaria em paz os russos étnicos.


Em 2019, um comediante de televisão, Volodymir Zelensky, foi eleito presidente da Ucrânia com a promessa de retomar a Crimeia, massacrar os separatistas em Donbass e solicitar o ingresso da Ucrânia na OTAN. Ou seja, sua plataforma era rejeitar os Acordos de Minsk. Logo, o conflito se escalonaria para a situação atual.


Desde a crise de 2008/2009, os Estados Unidos e a União Europeia vêm passando por um declínio relativo, enquanto a China e a Rússia vivem uma ascensão – o primeiro na economia e o segundo militarmente. Estes dois países, afastados durante a Guerra Fria, seguiram num processo de reaproximação estratégica. Grupos como o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a OCX (Organização para a Cooperação de Xangai) contribuíram neste sentido. O projeto chinês da Nova Rota da Seda conta com a Rússia, que também procura retomar sua influência na região eurasiana, particularmente no estratégico Cazaquistão e nas outras antigas repúblicas soviéticas, inclusive as do Leste Europeu.


Com a eleição do republicano Donald Trump em 2017, os Estados Unidos distanciaram-se das hostilidades com a Rússia. Os democratas acusavam-no de ter recebido apoio russo nas eleições. Em 2020, Trump retirou as tropas estadunidenses do Iraque. Joe Biden foi eleito e em 2021, removeu o exército do Afeganistão. Os Estados Unidos foram derrotados nas duas guerras iniciadas na gestão Bush e que tiveram quase duas décadas de duração. Para completar, a guerra na Síria, iniciada no governo Barack Obama, foi contida pela Rússia. Ou seja, os três principais movimentos militares estadunidenses das últimas décadas fracassaram. Mas nada teve impacto tão visível quanto a retirada desesperada dos Estados Unidos de Joe Biden do Afeganistão, derrotados por um grupo de pastores de cabra fundamentalistas religiosos.


Para completar, Biden faz internamente um governo desastroso. Sem ter interesse em mexer nos interesses dos ricos, o país vem enfrentando uma crise econômica e social. A pobreza extrema cresce a olhos vistos e, ao mesmo tempo, os bilionários lucram como nunca antes na História. Com carisma inexistente, Biden precisava de algum tipo de diversionismo. Assim, passou a instar Zelensky a provocar a Rússia em direção a uma guerra que também atende aos interesses do complexo militar-industrial que, fora do Afeganistão e do Iraque, precisava de um novo conflito para receber dinheiro público. Em outras palavras, enquanto o povo dos Estados Unidos passa dificuldades na vida cotidiana, a indústria bélica se deleita com verbas federais.


A Ucrânia seria o cenário perfeito para os Estados Unidos criarem uma guerra por procuração. Biden, o alto escalão de seu governo e a grande mídia estadunidense passaram a provocar a Rússia sob a ameaça de aceitar um pedido de ingresso da Ucrânia na OTAN. Entretanto, isto fere mortalmente os interesses estratégicos russos. Caso a Ucrânia entre para a aliança atlântica, esta finalmente ficará encostada nas fronteiras russas. Isso significa que qualquer conflito que se inicie na região, colocaria todos os membros da OTAN em guerra automática contra a Rússia. Para um país que foi invadido pelas guerras napoleônicas e nas duas guerras mundiais, tal risco é inaceitável. Por isso, a Rússia tentou por todas as vias diplomáticas evitar este conflito. 


Em 23/02/2022, Putin ordenou a invasão da Ucrânia. Foi uma resposta a sucessivos ataques ucranianos a russos étnicos na região de Donbass e a uma sabotagem por forças especiais na fronteira. Putin deixou claro que não irá negociar os interesses estratégicos da Rússia. Os Estados Unidos e o Reino Unido querem o conflito e estão enviando armas e dinheiro para a Ucrânia. A Rússia quer garantia de que a OTAN não alcance sua fronteira e que russos étnicos não sejam hostilizados, mas sabe os custos de uma guerra duradoura com ocupação territorial. A União Europeia está dividida. A Alemanha depende do gás russo e sua elite econômica possui grandes investimentos na Rússia. A França, que ingressou à OTAN no governo Sarkozy, não deseja uma guerra de grandes proporções na Europa. Entretanto, será difícil manterem a neutralidade num conflito que pode redesenhar as fronteiras europeias e pode ser entendido como uma onda de expansionismo russo em direção ao oeste. 


Qual a posição o Brasil deve adotar? O Brasil deve agir como estado e não como governo. Uma guerra de grandes proporções não é do interesse do Brasil. Como atual membro do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil não pode tomar lado neste conflito e precisa manter uma equidistância pragmática. Mas também o país não pode fazer vista grossa ao expansionismo da OTAN. Hoje, o Brasil está cercado de bases militares dos Estados Unidos em vários países sul-americanos e em algum momento este tema terá que ser tratado. Da mesma forma, é preciso que os cidadãos brasileiros não se deixem contaminar pela propaganda de guerra estadunidense ou russa. Ter posição de torcida organizada neste conflito, independente do lado que se escolha, é um grande erro. O Brasil tem que pensar em seus próprios interesses. E o interesse do Brasil é a paz.


Por último, Putin não é santo nem demônio. Ele pode ter ações condenáveis internamente mas neste caso ele está agindo para garantir a sobrevivência da Rússia com a ameaça de expansão da OTAN. Esta guerra não se trata ainda de uma 3a Guerra Mundial, nem de um conflito termonuclear. Mas a depender das movimentações, corre o risco de escalonar para desdobramentos mais complexos. A paz precisa ser negociada. Mas este conflito jamais teria se iniciado se não fosse a sanha do governo Biden em recuperar sua popularidade e de sanar a ganância do complexo militar-industrial dos Estados Unidos. Basta os Estados Unidos cumprirem o acordo feito com a Rússia no fim da Guerra Fria de não expandirem a OTAN pras fronteiras russas e a Ucrânia cumprir os acordos de Minsk que a Rússia não terá mais motivos para seguir em guerra. Guerra e diplomacia caminham lado a lado. Por isso, só a diplomacia pode levar à paz.


Thomas de Toledo

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Proibido esquecer Jorge Zabalza * Coordenadoria Simon Bolivar

PROHIBIDO OLVIDAR
Jorge Pedro Zabalza Waksman

Jorge Zabalza nace en Minas en 1943, fallece en Montevideo el 23 de Febrero de 2022, apodado el Tambero, fue un político uruguayo, exdirigente del Movimiento de Liberación Nacional - Tupamaros (MLN-T) y exedil de la Junta Departamental de Montevideo.

Estuvo preso en calidad de rehén durante toda la dictadura cívico-militar que gobernó Uruguay entre 1973 y 1985 (incluso desde un tiempo antes). Su hermano Ricardo Zabalza Waksman, también tupamaro, murió en una acción armada realizada por el grupo, el 8 de octubre de 1969, recordada como «Toma de Pando».

En 1985, una vez retornada la democracia, siguió en la vida política, siendo elegido edil (1994) por el departamento de Montevideo y ejerciendo la presidencia de la Junta Departamental.

Se recuerda particularmente la instancia, ocurrida en 1997, cuando el intendente Mariano Arana propuso dar en concesión el Hotel Casino Carrasco, propiedad del municipio de Montevideo. Si bien todos los ediles del Frente Amplio votaron a favor del proyecto, Zabalza votó negativamente, al igual que la oposición. Este hecho hizo fracasar la concesión y provocó la renuncia de Tabaré Vázquez a la presidencia del Frente Amplio.

Entre 1990 y 1994 dirigió el quincenario Mate Amargo, órgano oficioso del MLN y fue fundador y redactor responsable del periódico Tupamaros, vocero oficial de la misma organización. En 1987 publicó el ensayo El miedo a la democracia donde analiza el funcionamiento vertical de la estructura de las fuerzas armadas. En 1996 escribió El Tejazo y otras insurrecciones relato sobre los sucesos ocurridos en el barrio de La Teja (Montevideo) el 8 de octubre de 1971, donde los vecinos y los militantes tupamaros ocuparon puntos estratégicos del barrio, empantanando con barricadas y grampas todo el parque de vehículos de la policía, mientras 111 tupamaros de fugaban del Penal de Punta Carretas.

En 1998 presentó el ensayo titulado La Estaca, en el cual, a partir de los gobiernos municipales de Tabaré Vázquez y Mariano Arana, analizaba lo que consideraba los límites del Frente Amplio como fuerza para impulsar un cambio social y se anticipaba al viraje hacia la socialdemocracia de sus principales componentes.

En el año 2009 publicó Raúl Sendic, el tupamaro. Su pensamiento revolucionario, analizando a fondo los cuatro principales puntos del programa propuesto por el fundador y líder histórico del MLN (T), no pago de la deuda externa la cual Zabalza considera inmoral y contraída forzosamente en función de los intereses del capital financiero y no del pueblo uruguayo; recuperación del control sobre la economía nacional mediante la estatización de todo el sistema bancario y, finalmente, un aumento sustancial de los salarios dirigido a aumentar la demanda de productos en el mercado interno para incentivar el desarrollo industrial del Uruguay.

Mediante la cita de libros, artículos y entrevistas, Zabalza afirma que queda claramente documentado que el sentido del Frente Grande propuesto por Raúl Sendic, era luchar contra la extranjerización de la producción uruguaya y los cuatro puntos programático anteriormente expuestos. Asimismo plantea que Raúl Sendic desconfiaba de la democracia burguesa y no renegó nunca de la metodología guerrillera como instrumento de acumulación de fuerzas en conciencia y organización del pueblo trabajador.

Fallece hoy 23 de febrero de 2022, tras padecer una enfermedad por varios años.

Cuanto dolor y tristeza al enterarme de la noticia, voy a extrañar las conversas y consejos que me disteis en estos últimos 20 años, para la Coordinadora Simón Bolívar sin duda alguna eres uno de los referentes más importantes del campo popular y revolucionario de Latinoamerica y el Caribe.

Rescatando la Memoria Histórica.

Arriba los que luchan ! ! !

La única lucha que se pierde es la que se abandona ! ! !

Solo la lucha nos hará libres ! ! !
Desde Venezuela Tierra de Libertadores a 530 años del inicio de la Resistencia Antiimperialista en América y a 211 años del inicio de nuestra Independencia.

Coordinadora Simón Bolívar
Caracas - Venezuela .
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domingo, 27 de fevereiro de 2022

Desumanização dos entregadores * Thomas Klikauer/Meg Young / CounterPunch

DESUMANIZAÇÃO DOS ENTREGADORES

Uma das empresas de entrega de fast food de ciclistas mais populares da Alemanha é na verdade uma empresa holandesa , chamada Lieferando.de . Além de operar na Alemanha, a Lieferando .de também opera em treze outros países europeus, nos quais 18% da empresa é detida pela Morgan Stanley , 5% pela BlackRock , etc. Em 2020, aumentou seu faturamento em 50% para € 2,4 bilhões.

Empresas como a Lieferando .de dão bons lucros – para quem já tem muito dinheiro, como Morgan Stanley, BlackRock, etc. A ganância continua boa! Simultaneamente, os trabalhadores mal pagos que possibilitam esses lucros estratosféricos estão expostos à desumanização gerencialmente orquestrada e ao despotismo no local de trabalho . Não apenas por causa disso, a maioria, se não todos, os serviços de entrega foram criticados por causa da quantidade minúscula de comissões que os trabalhadores recebem e das condições de trabalho abomináveis ​​que enfrentam.

Por causa do efeito de camuflagem das ideologias preferidas do neoliberalismo de livre mercado e competição, semimonopolistas como Lieferando.de gostam de explorar seu poder de mercado. É apenas mais um exemplo do que o ex- editor da Harvard Business Review , Magretta , disse uma vez:

os executivos de negócios são os principais defensores do livre mercado e da competição na sociedade, palavras que, para eles, evocam uma visão de mundo e um sistema de valores que recompensa boas ideias e trabalho árduo, e que fomenta a inovação e a meritocracia. Verdade seja dita, a competição pela qual todos os gerentes anseiam está muito mais próxima da extremidade do espectro da Microsoft do que dos produtores de leite. Apesar de todas as conversas sobre as virtudes da concorrência, o objetivo da estratégia empresarial é afastar uma empresa da concorrência perfeita e em direção ao monopólio.

O “mercado” de entrega de comida (!) não é diferente – ainda se criam monopólios. No entanto, a assimetria monopolista do poder de mercado também opera em um mercado muito diferente, onde (na maioria dos casos) nada é realmente vendido. Este é o mercado de trabalho . Para evitar cair na pobreza abjeta e ser turbinado pela sucessiva eliminação do estado de bem-estar, os trabalhadores de empresas como Lieferando.de enfrentam salários mínimos e condições de trabalho precárias.

Há já algum tempo que os sindicatos da área da alimentação e restauração qualificam as condições de trabalho no Lieferando.de e noutros como verdadeiramente precárias . Atormentar o estilo alemão pobre, deixa muitos dos trabalhadores da Alemanha expostos ao trabalho nos chamados mini-empregos . O termo mini-emprego esconde o substancial setor de baixos salários da Alemanha .

No total, as forças do capital trabalhando contra os trabalhadores no mercado de trabalho são mascaradas pela ideologia de livre escolha do neoliberalismo, permitindo que os trabalhadores decidam quando, onde e quanto trabalharão. Na realidade, tudo isso é definido pelo gerenciamento algorítmico .

Para os pilotos do Lieferando.de, isso significa más condições de trabalho e um salário um pouco acima do salário mínimo de € 10 por hora – em breve aumentará para € 12 . Além dos salários na linha da pobreza, os funcionários são forçados a usar seus próprios telefones celulares. Auxiliados pela alucinação da administração de serem “empreiteiros autônomos”, eles não são sequer reembolsados ​​pelos custos de seus aparelhos e contratos de telefonia móvel.

A exploração de sua posição de monopólio foi registrada até mesmo pelas autoridades alemãs. O órgão regulador da competição da Alemanha – o Bundeskartellamt – disse recentemente que atualmente não estamos conduzindo nenhum processo contra o Lieferando.de. No entanto, continuamos a acompanhar de perto o desenvolvimento do mercado . Uma afirmação clássica para manter a aparência de competição enquanto reina o capitalismo monopolista .

Apesar de tudo isso, até a Associação Alemã de Hotéis e Restaurantes vê o Lieferando.de como tendo estruturas monopolistas. De acordo com a DEHOGA, isso levou a uma dependência brutal dos donos de restaurantes do monopolista Lieferando.de. A DEHOGA sugere que os clientes façam seus pedidos diretamente com os restaurantes. Esta é uma sugestão pouco útil para os clientes e não ajuda os trabalhadores mal pagos presos a más condições de trabalho.

Enquanto isso, os pilotos de Lieferando são mais propensos a serem jovens fisicamente aptos. É claro que algumas pessoas que simplesmente gostam de andar de bicicleta podem gostar de trabalhar para o Lieferando .de. No entanto, cada vez mais, os ciclistas de Lieferando são de fora da Alemanha. Hoje, muitos pilotos são do sul da Ásia e até da América do Sul.

Devido às barreiras linguísticas, muitos trabalhadores migrantes não conseguem encontrar outro emprego, a menos que possam fazer trabalhos ilegais ou enfrentar trabalhos ainda mais precários. Um piloto do Lieferando .de disse: Estou fazendo o trabalho há três anos. Antes, eu tinha o emprego como estudante, mas não estava mais empregado após o término do meu contrato a termo e, desde então, estou sentado na bicicleta .

Outro trabalhador (38 anos) tem viajado pela capital alemã de Berlim para Lieferando .de nos últimos três anos para entregar comida nas portas dos apartamentos locais. Por um salário pouco acima do salário mínimo, os trabalhadores estão expostos aos perigos do trânsito urbano todos os dias – a Alemanha teve 2.700 mortes nas estradas em 2020. Para obter condições de trabalho mais seguras e melhores, os trabalhadores estão comprometidos com os sindicatos . No entanto, alguns trabalhadores do Lieferando.de começaram a pensar em aplicar a solidariedade entre os passageiros dentro do Lieferando.de com trabalhadores contratados por outros serviços de entrega.

Anos atrás, quando os primeiros serviços de entrega de comida começaram a conquistar o mercado de entrega de rápido crescimento da Alemanha, foi apresentado como um trabalho de estudante. Essa era a narrativa preferida do capital para que as corporações pudessem se envolver em dumping salarial enquanto o público era mantido à distância.

No entanto, muitos trabalhadores fazem o trabalho de entrega por apenas vários anos. Alguns até mudam de país para conseguir um emprego, enquanto outros migram de e para a Alemanha. Em alguns casos, os trabalhadores ficam apenas meio ano em uma empresa. Isso ocorre porque seus contratos de curto prazo geralmente são muito limitados. E, em alguns outros casos, os trabalhadores são simplesmente demitidos pela empresa mesmo durante o período de experiência.

Pior ainda, há trabalhadores que se mudaram para a Holanda porque passaram por um punhado de serviços de entrega que operam na Alemanha. Esses pilotos são forçados a fazer o mesmo trabalho não apenas em empresas diferentes, e agora em um país diferente. Mudanças frequentes de empregos ocorrem porque quase todas as empresas de entrega operam uma política rígida de contratação e demissão .

Na verdade, a maioria dos pilotos não consegue fazer esse trabalho por mais de cinco anos. O estresse , o perigo e o trabalho árduo simplesmente o quebrarão , diz um piloto. Não é incomum que os trabalhadores que precisam usar uma mochila pesada por mais de meio ano desenvolvam danos permanentes. Com alguns pilotos começando a perceber que, se você precisar de três dias para se recuperar antes de iniciar um novo turno, algo está errado.

Como era de se esperar, há muitos exemplos de reclamações que surgem do trabalho desumano de entrega. A maioria dos danos no trabalho de parto é sustentada não apenas pelas costas humanas, mas também pelos joelhos. Subir e descer vários lances de escadas em arranha-céus da cidade com uma mochila pesada é uma ocorrência diária.

Pior, também existem distúrbios psicológicos que muitas vezes são esquecidos quando as pessoas falam sobre entregadores. Embora os pilotos vejam muitas pessoas – os trabalhadores estão realmente sozinhos. Sozinhos em suas bicicletas, eles andam pelo trânsito denso. Todos os dias, os entregadores estão completamente sozinhos em meio a multidões de estranhos.

Há entregadores que, ao descansar após o expediente, fecham os olhos e só veem ônibus e caminhões se aproximando. A ameaça de um acidente de trânsito é um dado constante. Nos piores casos, os pilotos foram seguidos por motoristas de carro – a raiva na estrada não é incomum na Alemanha .

Houve situações em que a raiva na estrada levou ao espancamento de entregadores. Alguns trabalhadores passaram por isso várias vezes. Um motociclista se dirigiu a um motorista de carro em uma situação insegura que era um perigo para o motociclista. O motorista do carro reagiu com violência.

Por forçar os trabalhadores a andar sem pausas, outra empresa de entrega alemã chamada Gorillas foi multada em € 15.800 por violar as normas alemãs de horário de trabalho e segurança ocupacional. O principal diário de negócios da Alemanha – o Handelsblatt – estimou que o faturamento anual do Gorilla está em torno de € 260 milhões. A coima de 15.800 euros emitida pelas autoridades alemãs corresponde a 0,0006% do volume de negócios anual da Gorilla. Isso vai afetar muito a empresa!

Com multas risíveis como essas, não é de se admirar que os trabalhadores continuem sofrendo enquanto estão sentados sozinhos em suas bicicletas. Sem surpresa, os entregadores se sentem isolados. No entanto, quando falam algumas palavras com outras pessoas, a conversa limita-se à simplista e repetitiva “troca de dinheiro em comida” com os clientes. Esses pequenos bicos de comunicação não criam interações reais entre humanos. Depois de algumas palavras, a solidão continua.

Em vez disso, esse tipo de comunicação é uma interação de negócios predeterminada realizada por humanos. Não é à toa que os trabalhadores se sentem incomodados pela apatia. Presos entre duas forças opostas, eles são levados a se sentirem insignificantes pelos clientes e suas empresas. Pior, os trabalhadores fazem praticamente os mesmos processos repetidamente como uma máquina – é totalmente desumanizante.

No entanto, de vez em quando ainda há momentos positivos – como em qualquer trabalho. Alguns clientes e participantes do tráfego têm tempo para uma pequena Guten Tag ou olá! ou até mesmo um sorriso. Mas também existem os aspectos negativos de viajar para uma empresa de entrega online. Às vezes, os clientes estão em seu próprio mundo e não percebem mais como tratam os entregadores.

Mesmo durante um clima frio e tempestuoso lá fora – como é frequentemente o caso na cidade de Berlim, na Alemanha Oriental, durante os longos meses de inverno – muitos clientes apenas fazem seus pedidos on-line e, quando um entregador chega à sua porta, eles fazem nem paga gorjeta. Em alguns casos, as pessoas nem se incomodam em vir até a porta, mas reclamam quando um motociclista toca duas vezes enquanto está na chuva fria de Berlim.

Talvez os clientes on-line devam se sentir um pouco culpados ou talvez não devam mais fazer pedidos on-line. Em seus passeios solitários, alguns trabalhadores pensam muito sobre o que pode ser feito para apoiar os outros pilotos. Na verdade, as condições de trabalho são muito ruins em todo o setor de catering. Como remédio, algumas pessoas sugerem, é preferível pedir diretamente no restaurante .

No entanto, muitos trabalhadores discordam. Eles acham que é melhor pedir diretamente ao serviço de entrega. Isso ocorre principalmente porque as condições de trabalho dos entregadores que viajam para alguns dos pequenos restaurantes de fast food são ainda piores. Portanto, os entregadores acham que é muito melhor buscá-lo sozinho.

Apesar de tudo isso, as condições de trabalho não melhoraram nos últimos dois anos da pandemia do Coronavírus . De fato, com as rígidas restrições do Covid-19 , tornou-se cada vez mais difícil para os entregadores. Como a maioria das entregas de alimentos ocorre hoje na vitrine, os entregadores nem têm a chance de usar o banheiro. Pior ainda, com a introdução da gorjeta online, os trabalhadores dizem que é a empresa que mais se beneficia com essa mudança.

Assim, os salários dos pilotos vêm caindo. Foi exatamente o que aconteceu nos EUA. Como resultado das mudanças recentes na Alemanha, os pilotos recebem o que suas empresas chamam de salário misto . Isso significa que a gorjeta é incluída em seu salário, ou seja, os trabalhadores agora recebem ainda menos. Sem surpresa, é por isso que os entregadores preferem receber dinheiro em mãos dos clientes.

Por causa de tudo isso, as empresas de entrega on-line definitivamente estão obtendo grandes lucros. Isso pode ser visto na Amazon . Gera lucros bastante obscenos enquanto a administração é capaz de compensar suas chamadas perdas, a fim de disfarçar sua verdadeira lucratividade. Para eles, a ideia de Joe Biden de um imposto corporativo global de 15% sobre suas contas bancárias secretas no exterior não é nem uma piada.

De volta ao Lieferando.de, os trabalhadores acreditam que não devem ser pagos apenas pela entrega de alimentos. Um trabalhador disse que não sou pago para andar pela cidade, embora funcione como um anúncio vivo. Os trabalhadores são pagos por entrega. Pior ainda, os dados de negócios gerados pelos trabalhadores são meticulosamente coletados, reutilizados, analisados, inseridos em algoritmos e vendidos.

Além de tudo isso, os trabalhadores são pagos enquanto as condições de trabalho pioram. Aqui está como funciona. Quanto mais entregadores houver, mais essas empresas estabelecerão uma nova forma de realidade de trabalho. Com o tempo, isso se torna socialmente aceitável e até legítimo. Estabelece uma espiral descendente e isso pode ser parte de um investimento corporativo. Seu objetivo é estabelecer um trabalho ruim. Isso é um contra-modelo para o capitalismo de bem-estar social da Alemanha e regimes de trabalho altamente regulamentados com sindicatos fortes.

Por tudo isso, há vários anos protestos de motociclistas, inclusive em Berlim. Uma das razões é a desumanização que os trabalhadores experimentam ao serem enviados em más condições climáticas sabendo que os trabalhadores estão arriscando suas vidas. Em uma pergunta recente no Senado de Berlim sobre acidentes no setor de transporte, surgiu que há um acidente envolvendo um entregador por dia em Berlim.

Muitos trabalhadores sabem que há um número maior, pois há muitos casos não notificados. Há também semanas terríveis em que todos os dias um entregador sofre um acidente e acaba em um hospital de Berlim. No entanto, nunca foi apenas sobre os salários.

Uma das principais demandas dos motociclistas locais não é conseguir um salário mais alto, mas sim o fato de que os salários estão sendo pagos. O atraso no pagamento de salários é comum e, com a maioria dos trabalhadores, não pode esperar o salário chegar.

Se os salários chegam tarde demais – o que geralmente acontece – os trabalhadores lutam para pagar suas contas. Os trabalhadores estão convencidos de que, se recebessem tudo a que têm direito, seu salário aumentaria cerca de 30%.

Os entregadores devem receber uma bicicleta, um telefone celular, acesso à Internet e roupas de trabalho apropriadas e protetoras. Se o Lieferando .de realmente pagasse pelo desgaste, os trabalhadores não se sentiriam mais roubados. Muitos trabalhadores também se sentem prejudicados nas férias e nos horários de trabalho acordados.

Tudo isso equivale ao fato de que os trabalhadores teriam 30% a mais de renda, uma vez que esses custos corporativos não fossem mais transferidos para os trabalhadores . Lieferando.de também deve fornecer uma conexão rápida e estável à Internet. Se um trabalhador ficar sem ligação à Internet no seu telemóvel durante apenas cinco minutos, o dinheiro será deduzido pela empresa imediatamente.

Ainda assim, há resistência e os entregadores conquistaram inúmeras melhorias. Surpreendentemente, os sindicatos dificilmente desempenharam um papel nessa luta. Isso levanta a questão, o que você gostaria dos sindicatos? Os sindicatos terão que desenvolver métodos específicos para condições de trabalho precárias. Muitos sindicatos alemães ainda acreditam que, se você for privado de seu salário, apresentamos uma reclamação legal para você.

Isso geralmente significa que, em meio ano, esse processo será decidido por um dos tribunais trabalhistas da Alemanha. No entanto, dizem os trabalhadores, meu aluguel terá que ser pago amanhã . Em vez disso, os sindicatos alemães deveriam compensar os trabalhadores pelos salários perdidos quando essas perdas são causadas por uma greve.

Vimos como isso funciona no Reino Unido. Foi uma greve histórica dos pilotos que trabalham para a Stuart Delivery . A Stuart Delivery é subcontratante da Just Eat Takeaway , que por sua vez pertence à Lieferando.de. A greve durou mais de 30 dias e o sindicato local apoiou os motociclistas financeiramente por salários perdidos.

O último problema é que os sindicatos estabelecidos na Alemanha ainda estão tentando fazer tudo dentro da Alemanha . No entanto, muitos entregadores acham importante que os passageiros conversem entre si como entregadores, e não apenas por meio de sindicatos e advogados.

SOBRE O AUTOR

Thomas Klikauer (Mestrado, Boston and Bremen University e PhD Warwick University, Reino Unido) ensina MBAs e supervisiona doutorados na Sydney Graduate School of Management, Western Sydney University, Austrália. Ele tem mais de 700 publicações e escreve regularmente para BraveNewEurope (Europa Ocidental), Barricades (Europa Oriental), Buzzflash (EUA), Counterpunch (EUA), Countercurrents (Índia), Tikkun (EUA) e ZNet (EUA). Seu próximo livro é sobre Media Capitalism (Palgrave). Meg Young (GCA e GCPA, University of New England em Armidale) é uma contadora financeira e gerente de RH de Sydney que gosta de boa literatura e leitura de provas.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

PÓS UCRÂNIA OU PÓS BIDEN * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros / PCTB - BR

PÓS UCRÂNIA OU PÓS BIDEN
Vladimir Putin e Xi Jinping

A proposição é uma incognita, mas a verdade é que o imperialismo ocidental todo poderoso ruiu. Vladimir Putin é o protagonista da maior operação politico-militar de que se tem notícias nos últimos trinta anos, pelo menos.

Para falar sobre isso nada melhor que alguém lá do "ventre da besta". Convidamos o Professor Danny Shaw, militante antiimperialista norteamericano. Danny Shaw ensina Estudos Latino-Americanos e Caribenhos e Raça, Etnia, Classe e Gênero na City University of New York.
PROFESSOR DANNY SHAW

VÍDEO Nº1
VÍDEO Nº2
VÍDEO Nº3
MAIS PROFESSOR DANNY SHAW
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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

MANIFESTO COMUNISTA * Karl Marx / Friedrich Engels

 MANIFESTO COMUNISTA

KARL MARX / FRIEDRICH ENGELS

JULIO CORTAZAR: O POETA QUE AMAVA A REVOLUÇÃO * Manuel Lucero * Nicarágua

JULIO CORTAZAR: O POETA QUE AMAVA A REVOLUÇÃO

“Compreendi que o socialismo, que até então me parecia uma corrente histórica aceitável e até necessária, era a única corrente dos tempos modernos que se baseava no fato humano essencial, no ethos tão elementar quanto ignorado pelas sociedades em que Eu estava envolvido, vivo, no princípio simples, inconcebivelmente difícil e simples de que a humanidade começará a merecer verdadeiramente o seu nome no dia em que cessar a exploração do homem pelo homem” – (Julio Cortázar)

O mundo das letras comoveu-se com a morte do escritor argentino-francês Julio Cortázar. Ele tinha 69 anos quando morreu ao meio-dia de 12 de fevereiro de 1984, no hospital Saint Lazare, em Paris.

Cortázar foi um escritor brilhante, da geração que renovou a literatura, enriquecendo-a com pensamentos mágicos, fantásticos mas ligados à realidade do povo. Alejo Carpentier, Gabriel García Márquez, Juan Rulfo, José Luís Borges, Juan Carlos Onetti, fizeram parte dessa constelação de escritores que deslumbraram o mundo renovando a linguagem.

Basta entrar, você está na Nicarágua

Na Nicarágua, dois grandes amigos, apaixonados pela Revolução Popular Sandinista, são lembrados com carinho, o querido Gabo, solidário e cronista da luta do povo nicaraguense; o outro, Julio Cortázar, que veio clandestinamente para a Nicarágua em 1976, desafiando a ditadura somocista, dias em que esteve no mágico arquipélago de Solentiname. 

Nos dias jubilosos do triunfo ele voltou, primeiro do Panamá junto com sua amada esposa Carol Dunlop, usando passaportes nicaraguenses fornecidos pelo comandante Tomás Borge, o seu havia sido roubado. Voltou várias vezes. Ele estava lá quando a Cruzada Nacional de Alfabetização estava sendo planejada, ele participou de uma entrega de títulos de reforma agrária em Siuna, e em 1983 ele estava em vigília junto com um grupo de intelectuais na comunidade Miskito de Bismuna, na Região Autônoma do Caribe Norte Região, às margens do rio Coco, para protestar contra as manobras militares realizadas pelo exército hondurenho em conjunto com os Estados Unidos e que foram chamadas de Awas Tara.

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Sua última viagem foi em janeiro de 1984, apenas um mês antes de morrer. Nesta ocasião, o governo revolucionário concedeu-lhe a Ordem de Independência Cultural Rubén Darío. Em seu discurso de aceitação, deixou testemunho de seu compromisso como escritor, foi sua maneira de se despedir da Nicarágua que tanto amava e que tanto o ama.

Júlio, poeta extraordinário

Lembramos dele como um ser extraordinário, o cronópio ingênuo, idealista, sensível, esquecido, não convencional, bagunceiro , que vive com paixão e intensidade. Tão distante da fama rígida , ordeira, rígida e arrogante, mas pouquíssimos exemplos. Lembramos de Julio Cortázar com um grande abraço e docemente lhe dizemos que ele é muito amado aqui.

Obrigado querido Julio, por Amarelinha, Los Reyes, Territórios, Bestiário, Histórias de cronópios e fama, Tudo acende o fogo, Exceto Crepúsculo. Obrigado pela Nicarágua tão violentamente doce, mas sobretudo por seu amor, dedicação e compromisso com os povos latino-americanos.



quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

O feirão de armas da "era bolsonaro" * Ana Flavia Gussen

  O feirão das armas da "era bolsonaro"

Sob Bolsonaro, é possível adquirir pistolas até por meio de rifas que correm pela Loteria Federal.  O número de registros quadruplicou em três anos

Por Ana Flávia Gussen


Boa parte do armamento liberado por Bolsonaro cai nas mãos do crime organizado

   

A Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público deflagraram uma operação de combate ao tráfico que acabou por jogar luz à política armamentista do atual governo. Durante o cumprimento dos 20 mandados de busca e apreensão, os agentes chegaram a Vitor Furtado Rebollall Lopes, conhecido como “Bala 40”, na rodoviária de Goiânia, quando ele transportava 11 mil balas de fuzil. Logo depois, um verdadeiro arsenal de guerra foi encontrado em sua casa, no Grajaú, Zona Norte do Rio: 26 fuzis, entre modelos AR-15 e 5.56, fabricados no Brasil, três carabinas, 21 pistolas, dois revólveres, uma espingarda calibre 12, um rifle e um mosquetão, além de caixas com milhares de munições. Só os fuzis foram avaliados em 1,8 milhão de reais e o total apreendido, em 3 milhões.


Tudo legal e autorizado pelo Exército, uma vez que Rebollall era registrado como CAC, sigla usada para designar colecionadores de armas, praticantes de tiro desportivo ou caçadores. Segundo a polícia, o preso possui 43 Certificados de Registro de Arma de Fogo (Crafs) ativos e vinculados ao estado de Goiás, onde adquiria os materiais bélicos e levava de carro até a capital fluminense. O Exército suspendeu as autorizações e cancelou o Certificado de Registro de “Bala 40” quando a operação foi deflagrada.


Rebollall vale-se de uma possibilidade que a legislação faculta, a de que colecionadores possam comprar uma quantidade muito grande de armamentos. Com o auxílio da sua companheira e de outros criminosos, “ele revendia essas armas para integrantes do Comando Vermelho, uma das maiores facções do estado”, diz o promotor Rômulo Santos, integrante do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, o Gaeco.


COM UM ARSENAL DE 3 MILHÕES DE REAIS ADQUIRIDO LEGALMENTE, UM TRAFICANTE REVENDIA FUZIS PARA O COMANDO VERMELHO


Não se trata de um caso isolado. Em setembro de 2020, um narcotraficante ligado ao PCC no Paraguai fez cursos de tiros, adquiriu armas e também possuía o registro do CAC. Após a prisão, o Exército informou que seu registro havia sido cassado em 2017. Ronnie Lessa, acusado pelo assassinato de Marielle Franco, era atirador desportivo e foi acusado de usar autorizações de importação para adquirir fuzis.


Além desta modalidade criminosa, também ganhou força um novo “mercado”, o das rifas para aquisição de armas de fogo. Elas costumam ser divulgadas, sobretudo, em grupos bolsonaristas no Telegram, onde milhares de “apreciadores” buscam realizar o sonho da arma própria, adquirindo bilhetes de loteria por preços módicos, de 7 a 20 reais. “Vocês pediram e é hoje, hein? Taurus G3 9mm por 15 reais! Chega mais que a rifa abriu agora”, dizia um desses anúncios, ao qual CartaCapital teve acesso. “Rifa de uma pistola Rex ­Delta 9mm por 20 reais. Só mil participantes. Com brinde: uma caixa de munição”, anuncia outro. Nos grupos, as pistolas de 9mm parecem ser as “queridinhas” do público. Elas eram de uso restrito das forças policiais, mas acabaram liberadas via decreto presidencial de Jair Bolsonaro.


Ao monitorar grupos de CACs, apreciadores de armas e profissionais de segurança no Telegram, a reportagem de ­CartaCapital encontrou subgrupos voltados apenas para a nova modalidade comercial. Para entrar na rifa, que corre pela loteria da Caixa Econômica Federal, basta entrar no site criado pelas próprias empresas, a maior parte delas de venda de armas e cursos de tiros, e escolher os números. No cadastro não são solicitadas documentações ou comprovantes de posse ou porte de armas. Burocracia zero, e os interessados podem pagar os bilhetes com um Pix direto para os organizadores da rifa, via Mercado Pago ou com cartões de crédito.


Em 2010 e 2014, Onyx Lorenzoni recebeu 200 mil reais em doações da Taurus, presidida por Nuhs

De acordo com as regras descritas nas páginas, a arma só é entregue mediante comprovação de Autorização de Compra e CRAF da Arma, devidamente registrada, ou pela Polícia Federal (SINARM) ou pelo Exército Brasileiro (SIGMA). Caso contrário, o “prêmio” fica retido. No ­site da Caixa Econômica Federal, os objetos são registrados como valores em dinheiro. Uma pistola Glock, por exemplo, corresponde a uma cota de 20 mil reais.


“Para comprar as nossas rifas, é preciso ser maior de 25 anos, ter toda a documentação, exame psicológico, curso de tiro, senão não leva nada. Se não nos mandar a documentação, não tem negócio”, explica o proprietário da Tactical Militaria, Pedro Antônio. A empresa, localizada na cidade goiana de Anápolis, promove as rifas em um grupo do Telegram com 17 mil participantes. A periodicidade é incerta, ocorre “de tempos em tempos”.


Questionado sobre o possível aumento da procura por rifas após a flexibilização do acesso a armas e munição feita pelo governo federal, Pedro Antônio diz discordar que houve um afrouxamento das regras. “Não existe flexibilização. O presidente só tornou mais popular. Diminuiu, inclusive, a quantidade de armas que cada um pode ter, de seis para quatro”, respondeu. Ao contrário do informado pelo negociante, o decreto não reduziu, mas aumentou de quatro para seis o total de armas permitido a cada cidadão. Na categoria dos CACs, contudo, é possível montar um verdadeiro arsenal sem desrespeitar a lei, como mostraremos mais adiante.


Qualquer um pode participar do sorteio, mas o prêmio só pode ser entregue a quem tem autorização

“Partindo do pressuposto de que a Caixa Econômica Federal não tenha restrição interna de sorteio do produto arma de fogo, é necessário que o vendedor esteja habilitado e a arma legalizada e documentada. Com o sorteio da rifa, o ganhador precisa estar totalmente dentro das exigências, como ser idôneo, ter autorização e preencher os requisitos para que a propriedade da arma seja transferida”, explica Raquel Gallinati, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.


De acordo com a legislação, o Exército é responsável por fiscalizar o comércio, registro e o porte de trânsito de arma de fogo de colecionadores, praticantes de tiro e caçadores. “Cabe destacar que o Exército não compactua com qualquer tipo de ilegalidade eventualmente cometida, repudiando veementemente atitudes e comportamentos em conflito com a lei”, diz a assessoria de comunicação da força, por meio de nota. Procurada por ­CartaCapital, a Caixa Econômica Federal não respondeu aos questionamentos sobre a licitude dos sorteios de armas de fogo pelo banco estatal, tampouco informou as regras e exigências documentais feitas.

Desde que assumiu o governo, Bolsonaro publicou mais de 32 medidas relacionadas ao tema, entre portarias, instruções normativas e decretos, algumas delas cassadas por determinação do Supremo Tribunal Federal. Com isso, o Brasil quadruplicou o número de novas armas registradas a cada ano. Segundo dados da Polícia Federal, o número de registros passou de 51 mil, em 2018, para 202,5 mil no ano passado. 


Zero Dois, Zero Três e o ministro Mário Frias fazem campanha aberta pelo armamento da população civil

Curiosamente, os estados que mais avançaram na corrida armamentista são aqueles que mais entregaram votos a Bolsonaro em 2018. Minas Gerais lidera o ranking, com 24,3 mil novas armas e 31,5 mil autorizações. Depois vem São Paulo, com 23 mil novas armas e 32 mil autorizações. Na sequência, aparecem o Rio ­Grande do Sul, com 19 mil e 27 mil, respectivamente, e Santa Catarina, com 13,6 mil e 17,4 mil, revelam dados enviados pela Polícia Federal à reportagem de CartaCapital.


O vertiginoso crescimento vem no embalo dos CACs. Desde 2019, praticantes de tiro desportivo podem adquirir até 60 armas e os caçadores, 30. Eles também podem comprar até mil munições por ano para cada arma de uso restrito. Fuzis e pistolas de calibre 9mm e .40, antes de uso exclusivo das Forças Armadas e das polícias, agora estão liberadas. Além disso, é possível comprar até 5 mil munições por ano para cada arma de fogo de uso permitido por civis, graças às dezenas de decretos e instruções normativas editadas pelo governo federal e que desmantelaram a legislação anterior.


Com a flexibilização, o Exército emitiu mais de mil novos registros de CAC’s por dia. Em 2019, foram 147 mil registros e, no ano passado, 388 mil, revelam dados coletados pelo Instituto Sou da Paz. As novas regras dão um verniz legal à compra de armas que pode abastecer organizações criminosas. Segundo especialistas ouvidos por CartaCapital, 99% das armas apreendidas foram legais em algum momento.


“VOCÊS PEDIRAM E É HOJE, HEIN? TAURUS G3 9MM POR 15 REAIS!”, ANUNCIA UM VENDEDOR DE RIFA NO TELEGRAM


“Precisamos chamar atenção para outras duas medidas: a presunção da veracidade da declaração de necessidade de se armar e a periodicidade de renovação dos registros, que passou de cinco para dez anos. Nesse período, a pessoa pode, por exemplo, ter alguma doença que o torne incapaz de manusear armas, mas a autorização continua válida”, critica Ivan Marques, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Antes, um delegado analisava a declaração de necessidade, bem como os antecedentes criminais do solicitante, a prova de tiro e o atestado psicológico. Agora, basta o interessado passar nas provas e entregar um papel, acrescenta o especialista. Não existe uma avaliação do risco de a arma cair em mãos erradas ou de contribuir para o aumento da violência. “Não bastasse, o presidente e seus filhos fazem propaganda ativa pelo armamento da população civil.” 


Na avaliação de Marques, essas iniciativas se converteram em uma “política pública”, capaz de baratear o acesso a armas de alto poder ofensivo. Ele destaca especialmente a “arma da moda”, um fuzil que passou a ser fabricado no Brasil pela Taurus em 2017 e vendido amplamente a partir de 2019. “Antes, um narcotraficante precisava pagar de 40 mil a 60 mil reais para comprar um fuzil 5.56. Com a produção interna e a liberação para civis, o fuzil passou a ser vendido no mercado ilegal por 20 mil.”


Fonte: Polícia Federal e TSE


Anteriormente, qualquer arma que disparasse um projétil com energia de lançamento acima de 407 joules era considerada de uso restrito. Agora, o limite passou para 1.620 joules, o que liberou a posse de fuzis para a caça, treinos de tiro e até mesmo proteção de propriedades rurais.


Os efeitos são notados até na balança comercial. Em 2021, o volume de importações de armas cresceu 33%, alcançando 51,2 milhões de dólares, segundo dados do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), do governo federal, revelados pela BBC Brasil. A compra de revólveres e pistolas do exterior teve alta de 12%. Entre fuzis, carabinas, metralhadoras e submetralhadoras, houve um vertiginoso aumento de 574%.


EM 2021, O VOLUME DE IMPORTAÇÕES DE ARMAS CRESCEU 33%, ALCANÇANDO A CIFRA DE 51,2 MILHÕES DE DÓLARES


O clã Bolsonaro sempre teve fortes vínculos com a indústria armamentista. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho Zero Três do presidente, é filiado à Associação Nacional de Rifles dos EUA desde 2018. Com mais de 5 milhões de associados pelo mundo, a entidade é uma das principais interessadas no afrouxamento do Estatuto do Desarmamento no Brasil. 


De 18 a 21 de janeiro, Zero Três esteve em Las Vegas, nos EUA, onde participou da exposição Shot Show e comentou como a “ideologia” da “liberdade do cidadão” da Associação de Rifles norte-americana é a mesma usada por Bolsonaro para legislar sobre armas no Brasil. O parlamentar destacou, ainda, a importância do soft power, termo usado quando um corpo político atua influenciando a cultura e os costumes dos cidadãos. Segundo ele, a política de armas adotada pelo pai tem “salvado vidas”. O Atlas da Violência aponta, porém, que os homicídios voltaram a subir 5% em 2020.


Nos últimos dias, uma compra de 500 fuzis pela Polícia Civil do Rio de Janeiro acabou por envolver o senador Flávio Bolsonaro em mais uma investigação, desta vez por direcionamento de licitação e conflito de interesses, noticiou o portal UOL. A Sig Sauer, empresa alemã com sede nos EUA, venceu o pregão em julho com uma proposta de 3,81 milhões de reais, 2% abaixo do teto estipulado, mas a compra só foi concretizada cinco meses depois, quando Flávio conseguiu a liberação de 3 milhões de reais com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, principal estrutura do Ministério da Justiça. A Polícia Civil e o senador negam ter feito l­obby para a empresa. Vale lembrar que o irmão Eduardo Bolsonaro é uma espécie de “garoto-propaganda” da Sig Sauer e chegou a comemorar nas redes sociais quando a empresa recebeu autorização para fabricar pistolas no Brasil, em 2020.


Os seguidores de Bolsonaro não perdem a oportunidade de se fantasiar de Rambo nas manifestações

De 2019 a 2020, os ministérios da Casa Civil, da Defesa, da Justiça e das Relações Exteriores tiveram 73 audiências com representantes do setor de armas, segundo levantamento feito pelos deputados Ivan Valente e Talíria Petrone, ambos do PSOL. À época, a Casa Civil era comandada por Onyx Lorenzoni, que recebeu 200 mil ­reais em doações de campanha da Taurus nas eleições de 2010 e 2014, quando o financiamento de candidatos por empresas ainda era prática legal. A fábrica da empresa, uma das maiores do mundo, fica no Rio Grande do Sul, domicílio eleitoral de Onyx.


Agora está nas mãos do Congresso regulamentar essas medidas. Os parlamentares podem referendar as iniciativas de Bolsonaro, dificultando uma mudança na eventual troca de governo, ou arquivar de vez o PL 3.723/19, de autoria do ex-capitão. Caso o projeto seja aprovado, além de chancelar o emaranhado legal feito pelo Executivo nos últimos três anos, a proposta vai praticamente acabar com o rastreamento de munições, uma vez que desobriga a marcação. O Sou da Paz e o Instituto Igarapé alertam, porém, que o rastreamento é essencial para solucionar crimes. •

Ciente de que vai levar uma surra nas urnas, Bolsonaro está procurando fazer  todas as viagens, inclusive de turismo, que pode as custas do dinheiro do povo brasileiro e, para satisfazer o ego, ele acha que está fazendo o maior sucesso como presidente da República, quando, na verdade, está sendo visto como um presidente de segunda categoria. Na Rússia, foi recebido p vice-ministro das Relações Exteriores, uma espécie de secretário-executivo de um ministério no Brasil.