sexta-feira, 4 de março de 2022

Uma “esquerda” para o capital * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros / PCTB - Brasil

 Uma “esquerda” para o capital:

como a guerra da OTAN fez revelar uma “esquerda” completamente moldada pela propaganda midiática do imperialismo.

Uma grande histeria midiática tem tomado conta da sociedade brasileira (e do mundo), após o presidente russo Vladimir Putin, autorizar no último dia 24 de fevereiro, uma operação para “desmilitarizar” e “desnazificar” a Ucrânia, visando impedir este país de tornar-se um posto avançado da OTAN nas fronteiras russas. Dias antes (21/02), Putin havia reconhecido as Repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk, ambas da região de Donbass de maioria russa, como áreas independentes. É bem provável que estejamos presenciando a maior e mais sórdida campanha de manipulação, lavagem cerebral e mentiras, por parte da grande imprensa e outros veículos de comunicação de massa na história.

 O mais impressionante, é ver setores que se auto-intitulam “progressistas” ou de “esquerda”, até mesmo “marxistas” e “trotskistas”, tomados inteiramente pela propaganda imperialista-midiática, se colocando em seguida, como espécie de “ventrílugos” da campanha de guerra informacional dos EUA/OTAN, fazendo coro com a “putinfobia” tocada pelos tais jornalistas e “especialistas” bonecos da Casa Branca.

 Segundo a imprensa capitalista, seguida pelos papagaios de “esquerda”, que nada mais fazem do que repercutir internacionalmente o que a publicidade do Pentágono ordena, Putin estaria fazendo “demagogia” para justificar uma suposta política de “conquista”, quando afirma que pretende “desnazificar” a Ucrânia. Estes elementos, quase em sua totalidade apoiaram o golpe da Euromaidan de 2014, chamando aquilo de “revolução”, quando era já claro as mãos do imperialismo por detrás; sobretudo porque, na mesma Ucrânia e Geórgia poucos anos antes, ocorreram acontecimentos semelhantes, conhecidos como “as revoluções coloridas”, que derrubaram governos amistosos para com a Rússia e colocaram em seus lugares, fantoches de Washington, essenciais para o avanço de sua geopolítica neocolonial; ou quando nos fins de 2010, vemos explodir as chamadas “primaveras árabes”, também revoluções coloridas em região próxima desse tabuleiro que envolve diretamente a segurança da Rússia e de seu povo.    

 Longe de expressar uma política internacional expansionista e imperialista contra o povo ucraniano, Putin demonstra posição claramente defensiva em relação às posições geopolíticas russa. Desde o fim da União da Repúblicas Socialistas Soviéticas, a OTAN avançou sobremaneira e de forma avassaladora sobre os antigos Estados do Pacto de Varsóvia, ex-repúblicas soviéticas, cercando a Rússia militarmente com as bases da OTAN.

  Com o golpe de 2014 na Ucrânia, abriu-se um risco real deste país passar a integrar as forças abertamente anti-russas da OTAN, ou/e servir como Estado fantoche, posto avançado do imperialismo há poucos quilômetros de Moscou, significando um risco existencial real para o país de Putin. Neste contexto, foi tentado entre as partes o acordo de Minsk em 2015, assinado por representantes da Rússia, Ucrânia, Republica Popular de Donetsk e Lugansk. Tal acordo visava pôr fim aos conflitos no leste ucraniano, no entanto, as forças ucranianas, por orientação dos EUA/OTAN, sabotaram o tratado e mantiveram uma ofensiva militar permanente e com contornos genocida, contra as Republicas de Donbass. Uma das motivações principais da intervenção russa atual é, portanto, produto da própria postura belicosa e beligerante da Ucrânia, atuando como procurador dos interesses geoestratégicos do imperialismo na região, contra a Rússia, fato esquecido e escondido pela grande imprensa e seus “amigos” de “esquerda”.  

  Uma das questões fundamentais e estratégicas da política exterior dos EUA, independente do partido que ocupe a presidência da república de ocasião, é enfraquecer a Rússia e não permitir qualquer possibilidade deste país, ou de outra potência regional, em manter ou avançar, qualquer tipo de protagonismo geopolítico em sua zona de influência, ou mesmo tocar uma agenda econômica e política nacionalista. Por sua vez, como já teorizaram grandes pensadores geopolíticos do imperialismo, sobretudo  Zbigniew Brzezinski, que traçou como os EUA poderia avançar seu domínio unipolar na Eurásia, era preciso explorar todas as tensões étnicas, nacionais, etc., na região que ele denominou “balcãs euroasiáticos”, que pudessem levar a desestabilização da Rússia. O plano de manter a desestabilização permanente da Ucrânia, ou de qualquer outro país da periferia russa por exemplo, é parte desse jogo. O imperialismo possui interesses em alcançar e manter a supremacia energética no globo e controlar as rotas de transporte de óleo e gás em toda região euroasiática e da Ásia Central, para daí, exercer um domínio total sobre os povos, e/ou minar a influência russa por tabela; além de que, é fato objetivo o interesse dos EUA impedir qualquer bloco ou acordo de folego da Europa ocidental com a Rússia, como vemos por exemplo a questão do gasoduto nordstream, entre Rússia e Alemanha. Acrescente que o avanço da crise estrutural do capital em todo o globo, é um combustível dos mais inflamáveis para o avanço da política de guerras, conquistas e rapinas do imperialismo em todos os cantos da Terra. É neste contexto que se pode entender o golpe de 2014 na Ucrânia e o atual “avanço defensivo” russo.

          O nazifascismo mobilizado pelo imperialismo para eliminar Donbass 

 As duas Republicas independentes russófonas, localizadas no leste da Ucrânia, vem resistindo ao regime nazifascista de Kiev, desde o golpe da praça Euromaidan de 2014, articulado pelos EUA e União Europeia, que deixou mais de 14.000 mil mortos nos anos posteriores, produto de uma tentativa claramente genocida de limpeza étnica, por parte do exército ucraniano (completamente nazificado ) e dos grupos paramilitares nazistas e de mercenários no país, financiados pela CIA e M16. Tais agrupamentos paramilitares terroristas, são entusiastas apoiadores da SS Galitzia, que lutou ao lado dos nazistas alemães em 1943-1945 e do chefe nazista ucraniano e colaborador de Adolf Hitler contra a União Soviética, Stepan Bandera,  como o Setor Direito, milícias do Svoboda, batalhão Azov (este integrado a Guarda Nacional ucraniana), etc.

 São incontáveis, repugnantes e de conhecimento público as atrocidades dessas forças paramilitares da extrema direita contra a população de fala russa, militantes e simpatizantes do comunismo, sindicalistas, etc. Entre outros fatos horripilantes praticados por esses grupos, um dos mais cruéis sem dúvida foi o massacre na Casa dos Sindicatos em Odessa, no mês de maio de 2014, quando os nazistas ucranianos queimaram vivos 42 trabalhadores antifascistas, que tentaram se abrigar no espaço, contra a horda criminosa. Segundo o jornal “Hora do Povo”: “Putin se referiu ao massacre que naquele dia teve o seguinte desenrolar trágico: em maior número, os neonazistas haviam invadido a Praça Kulikovo, incendiando as barracas do acampamento em favor do referendo pela federalização da Ucrânia, promovendo espancamentos e disparando tiros, e os manifestantes antifascistas tiveram de se abrigar no prédio da Casa dos Sindicatos, em frente, enquanto a polícia simplesmente olhava.

Coquetéis molotov arremessados pelos neonazistas acabaram por incendiar o prédio e aqueles em desespero, que pularam das janelas tentando escapar, eram simplesmente linchados a pauladas e chutes.

Um sobrevivente relatou que ‘gente foi queimada viva dentro do prédio’, sem ter como sair. Quem conseguia, era atacado pela turba ‘como um bando de lobos’. ‘Tivemos de passar sobre cadáveres quando descemos as escadas’”.(Hora do Povo, 02/2022).

 Dessa forma, vemos que tem total sentido quando Putin fala em “desnazificar” a Ucrânia. Os elementos nazifascistas e mesmo mercenários wahhabistas islâmicos, foram manobrados pelo imperialismo para, desde a Ucrânia enfraquecer a Rússia. Segundo Moniz Bandeira, “O presidente Putin, em 2014, sabia perfeitamente da participação de unidades islâmicas na Ucrânia e que as forças especiais dos Estados unidos e outros países, nos campos da Tunísia e da Turquia, estavam a treinar 400 a 1.000 tchetchenos...” (“A Desordem Mundial”). Desde 2014, portanto, Donetsk e Lugansk tem sido alvos de vasta campanha militar de aniquilamento por parte das forças ucranianas; a respeito desse fato, impera o mais nebuloso silêncio por parte dos jornalistas mercenários e seus seguidores de “esquerda”. Mas quando a Rússia toma posição claramente em defesa de seu povo, a grita hipócrita se faz ouvir incessantemente. 

 No entanto, tal campanha midiática de demonização russa nada mais é do que produto de campanha psicológica e propagandística do imperialismo, neste sentido, é parte da chamada guerra de “quarta geração” e de “informação”. Como diz o especialista militar Willian Lind: “As operações psicológicas podem se tornar a arma operacional e estratégica dominante assumindo a forma de intervenção midiática/informativa [...] O principal alvo a atacar será o apoio da população do inimigo ao próprio governo e à guerra. As notícias televisionadas se tornarão uma arma operacional mais poderosa do que as divisões armadas.” (citado em: Andrew Korybko, “As Guerras Hibridas”).

      O “imperialismo” russo?

 Um dos mantras que setores da “esquerda” brasileira têm repetido insistentemente e sem a mínima reflexão teórica, é acerca do suposto “imperialismo” russo. O fato de a Rússia ser país de grandes dimensões geográficas, possuir forte tecnologia militar e ter em seu passado o império czarista, tem confundido não poucos acadêmicos e ativistas “progressistas”. Putin por sua vez, é acusado no ocidente de “ditador”, porque em essência, é um elemento do nacionalismo burguês russo, que, diante de determinadas condições objetivas, é empurrado para uma política claramente anti-imperialista.

 No entanto, como pode ser imperialista, um país que depende para tocar sua economia da venda ao exterior de produtos primários? A Rússia tem fundamentalmente, como carro chefe de sua economia, a dependência entorno da exportação de petróleo e gás natural.

 Embora o período nacionalista “estatista” de Putin significou que a Rússia tenha avançado em sua economia significativamente, em relação a fase neoliberal da “terapia do choque” dos Chicago boys da época do bêbado Boris Yeltsin, que fez o país retroceder a quase uma colônia do capital financeiro internacional, não houve em grande medida uma transformação radical quanto a estrutura econômica do país, que continua essencialmente dependente do setor primário exportador.

 Ao longo dos anos 2000, 80% da média das exportações russas foram calcadas no setor primário, especialmente em petróleo e gás; enquanto importou, em média, 50% de sua pauta de produtos manufaturados. 

 Neste sentido, a Rússia é um país de capitalismo atrasado, dependente da tecnologia e das forças produtivas mais avançadas dos países imperialistas: ou seja, depende do capital alienígena e, portanto, também é vítima da transferência de parte da sua riqueza para os grandes centros metropolitanos imperialistas. Para os teóricos clássicos sobre o imperialismo, como Hobson, Hifferding, Lenin, Rosa Luxemburgo, Bukharin, Paul Sweezy, Paul Baran, Harry Magdoff, Ernest Mandel, etc., as principais características do país imperialista é o alto desenvolvimento de forças produtivas que lhe permitem a produção de um excedente, que o obriga a buscar outras formas e raios de alocação, investimento e acumulação, no exterior, assim criando a necessidade dos mercados coloniais, da exportação de capitais, do saque da mais-valia nos países dependentes, etc.; dois outros traços clássicos de uma nação imperialista é o alto nível de concentração e centralização do capital em seu interior, além da fusão em larga escala do capital industrial com o bancário, potencializando o capital financeiro que passa a exercer a dominação em todo o mundo. Acrescentaríamos que outras importantes características do imperialismo na atualidade, é o controle exercido sobre organismos internacionais do capital, tais como Organização Mundial do Comércio, FMI, Banco Mundial, controle da moeda hegemônica ou influente internacionalmente, etc.; também a hegemonia cultural sobre outros povos, o domínio militarista, assim por diante. Nenhuma dessas características a Rússia possui, pelo contrário, longe disso. 

 Pensamos que tal confusão teórica e anticientífica por parte destes setores, é expressão do período histórico que presenciamos. Vivemos um retrocesso programático, teórico e falta de perspectivas classista sem precedentes em nossa esquerda. O fato de que a grande maioria da atual militância saia dos quadros universitários burgueses diz muito, mas não só. A propaganda anticomunista imperialista, a queda da União Soviética e de quase todos os antigos Estados operários; o avanço ideológico do identitarismo em nosso meio; as derrotas operárias históricas das últimas quatro décadas frente ao capital, também tiveram efeitos desastrosos entre a esquerda.

  Não podemos esquecer que, outro fator de suma importância que ao longo do tempo tem limitado significativamente a esquerda brasileira em particular, é o fato de nossos esquerdistas das últimas décadas nunca pensarem a importância da questão nacional na periferia do sistema e consequentemente, deixaram de ser por princípio, anti-imperialista. Hoje vemos como a propaganda burguesa penetrou profundamente entre estes setores, que “voluntariamente” seguem a todos os ditames da guerra psicológica dos EUA/OTAN contra a Rússia. As máscaras estão caindo neste momento e um fenômeno novo se impõe: uma certa “esquerda” entusiasta do nazifascismo contemporâneo.

      É preciso uma Frente dos povos do mundo em defesa da Rússia e contra o imperialismo!

  Diante de situação histórica tão dramática, os povos oprimidos do mundo não podem vacilar: uma suposta vitória do imperialismo sobre a Rússia fortaleceria sobremaneira a máquina de guerra da OTAN, que em seguida passaria uma ofensiva geral contra as nações oprimidas como Irã, Coréia Popular, Venezuela, Cuba, Nicarágua, em suma, veríamos um avanço absolutamente destrutivo do imperialismo para saquear e pilhar os povos, como imperativo do grande capital frente a crise geral do capitalismo.

 Pelo contrário, uma vitória de Putin, mesmo dentro dos limites do nacionalismo burguês, significaria um golpe histórico dos povos oprimidos contra o maior inimigo da humanidade e seu exército genocida neocolonial, que é a OTAN.

 Qualquer posição neutra ou hostil com relação a Rússia neste momento, é colocar-se voluntariamente no mesmo campo dos criminosos imperialistas. 

 A vitória russa é a vitória da humanidade!

 Abaixo o imperialismo! 

PARTIDO COMUNISTA DOS TRABALHADORES BRASILEIROS

PCTB

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