quinta-feira, 30 de junho de 2022

A MAIORIA DE NÓS COMEÇOU COM MARTA HARNECKER * Miguel Stédile / Brasil de Fato

A MAIORIA DE NÓS COMEÇOU COM
 MARTA HARNECKER

Em uma entrevista, o então vice-presidente boliviano Alvaro Garcia Linera e o deputado espanhol Pablo Iglesias trocavam impressões sobre obras clássicas e sobre a iniciação política de cada um, quando o dirigente espanhol sentenciou: “Todos começamos com Marta Harnecker”. A definição é precisa não apenas para dois expoentes jovens da esquerda, como para milhares de pessoas que reivindicam o marxismo e o socialismo nas últimas quatro décadas.

Não é exagero afirmar que, provavelmente, Marta Harnecker seja a principal difusora do pensamento de Marx e Lênin na América Latina para sucessivas ondas de militantes, desde a publicação de seus Cadernos de Educação Popular, nos anos 1970, seguido pelos Conceitos elementares do materialismo histórico. Ao mesmo tempo, sua própria trajetória militante e intelectual é ilustrativa do percurso da esquerda latino-americana na segunda metade do século 20.


Nascida em Santiago do Chile, em 1937, iniciou sua militância na juventude católica, sendo, mais tarde, profundamente impactada pela Revolução Cubana, como todos seus contemporâneos. Foi orientada por Louis Althusser, na França, e, no retorno ao Chile, participou ativamente da construção do governo do socialista Salvador Allende, período em que escreve os Cadernos de Educação Popular como forma de levar as discussões ao maior número de trabalhadores urbanos e camponeses.

Com o golpe militar de Augusto Pinochet, no Chile, exila-se em Cuba, a partir de onde continua a registrar, discutir e elaborar sobre a experiência cubana, mas também sobre a Revolução Sandinista e a revolução em El Salvador.

A partir dos anos 1990, estudaria ainda as experiências de governos locais progressistas na América do Sul que se iniciavam, como, por exemplo, nos primeiros mandatos do Partido dos Trabalhadores no Brasil e da Frente Amplia no Uruguai, até, finalmente, assessorar e refletir sobre o processo bolivariano na Venezuela.

Nos anos 1990, após a queda do Muro de Berlim, uma elite acadêmica e eurocêntrica, aproveitando a onda de crítica da experiência soviética, criticou e condenou a obra de Harnecker como “mecaniscista” e “manualesca”. Ora, justamente ao contrário desta aristocracia intelectual, Marta era a materialização do “intelectual orgânico”, profundamente vinculada com os movimentos políticos, contradições e questões de nosso tempo.

Sua obra não teve apenas a capacidade de realizar e incorporar a autocrítica do período anterior, como sua produção nos anos 1990 – assim como já o fazia na década anterior – teve a sensibilidade de identificar novas práticas e formulações da esquerda latino-americana. Tanto que sua análise leva em conta os acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) quanto as experiências de poder local em toda a América do Sul.


Em Desafios da esquerda latino-americana (Expressão Popular, 2019), Harnecker identifica três fatores para a crise da esquerda: a crise teórica, com o abandono do materialismo histórico dialético como instrumento de análise da realidade; por consequência, sem conseguir identificar as contradições na análise da realidade, a esquerda não é capaz de entender as mudanças no mundo do trabalho e na sociedade e, portanto, é incapaz de produzir um programa de transformações para este tempo, esta é a segunda crise; e, por fim, os instrumentos de luta social do século 20 tornam-se incapazes de enfrentar os desafios dos novos tempos, seja pelo engessamento, sejam pelas duas crises anteriores citadas.

Sua última publicação em português, Um mundo a construir (Expressão Popular, 2018), é, de certa forma, uma síntese das duas últimas décadas de seu trabalho. Nele, Marta faz um balanço das experiências em curso naquele momento dos governos progressistas na América do Sul, sem sectarismo, nem triunfalismo, atenta para seus avanços e para suas contradições. Destaca todas as formas de exercício popular do poder e enfatiza que não há processo transformador sem que haja protagonismo popular. Mais uma vez, sem construir fórmulas e permanentemente apontando que cada processo depende da correlação de forças que encontra em cada país.

Na terceira parte de Um mundo a construir, Marta retorna ao tema do novo instrumento político, tema também presente em Ideias para a luta (Expressão Popular, 2018). Harnecker retoma o conceito gramsciano de hegemonia, como capacidade de uma classe transformar sua visão de mundo e sua interpretação da realidade em um projeto universal.

A tarefa do instrumento político é justamente a construção desta nova hegemonia. Portanto, ele é portador de um projeto para a sociedade, a partir de seu lugar, mas apresentando-o para o conjunto desta sociedade. De maneira que este instrumento se produz na luta – ou melhor, nas diversas e diferentes lutas contra-hegemônicas – e deve ter capacidade de atrair para este projeto e formar em torno dele um bloco social, amplo e diverso, cujo parâmetro é justamente este novo projeto de sociedade. Por isso, este instrumento deve ser dirigido de forma coletiva – e não de forma burocrática ou como expressão de um pensamento monolítico.


Logo, este novo projeto, portado pelo instrumento político, é resultado de uma visão de mundo, de uma interpretação da realidade contra-hegemônica, mas que se traduz em uma plataforma de lutas que seja capaz de alterar a correlação de forças na sociedade e de construir mudanças reais na vida das pessoas. E, por fim, mas não menos importante, sua militância deve ser expressão hoje do porvir que este projeto representa, como pedagogos populares.

Trata-se, na verdade, de uma equação complexa em que as novas formas organizativas não serão – e nunca poderiam ser – construídas a priori, e sim como resultado das lutas deste tempo que são produzidas e produzem uma plataforma de reivindicações reais e concretas, capazes de transformar a realidade e mudar a correlação de forças, na medida em que conscientize e atraia outras pessoas e setores para este projeto. Não para exigir o possível. O projeto neoliberal afirma que o possível é microscópio. Ao contrário, lembrava e enfatizava várias vezes Marta, a política é arte de fazer o impossível.

Somente uma intelectual orgânica com presença nas lutas populares seria capaz de compreender os dilemas do movimento político de forma tão sensível e propor – mais uma vez – não fórmulas, mas caminhos para a superação de sua crise teórica, programática e orgânica. O que significa que ainda que tenha nos deixado em junho de 2019, ainda leremos muito Marta Harnecker e muitos ainda começarão a caminhar com a sua ajuda.

MAIS MARTA HARNECKER
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OS CONCEITOS ELEMENTARES DO MATERIALISMO HISTÓRICO
ACESSE E LEIA GRÁTIS
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ENTREVISTA COM FIDEL CASTRO * Al Mayadeen

ENTREVISTA COM FIDEL CASTRO

Fidel Castro: 
El capitalismo “no tiene ninguna solución a los grandes problemas de la humanidad”
Fuente: Canal de Televisión mexicano Imevisión

En julio de 1991 se realizó en Guadalajara, México, la I Cumbre de jefes de Estado y Gobierno de América Latina, en la que se incluía a Cuba. La isla estaba en ese entonces en el centro de la atención mundial que apostaba por la desaparición de su sistema socialista, luego del colapso de la Unión Soviética.

Cuba pasaba por sus momentos más difíciles, pero con su máximo líder al frente se cernía un camino en el que solo se reafirmaba el carácter democrático, humano y socialista de la Revolución Cubana.

En la cita de México, Cuba estuvo representada por Fidel Castro, explicó sobre la necesidad de la integración que, luego de su magistral participación y posterior intervención dio lecciones a América Latina y al mundo sobre la inoperancia del sistema capitalista y su “espíritu de victoria” que en ese entonces, y hoy más que nunca, intenta a ahogar al mundo.

En el marco de la cumbre, Fidel Castro concedió una entrevista al periodista mexicano Epigmenio Ibarra, del Canal de Televisión mexicano Imevisión. En esta intervención, Fidel expone ideas que siguen siendo muy relevantes en nuestra realidad y los problemas de nuestro mundo actual, revelando que la ideología del capitalismo es una “ideología reaccionaria”.

Males como el hambre, las desigualdades, el daño al medio ambiente y su consecuente cambio climático, siguen imperantes y causados por esa desigualdad que origina el capitalismo.

Tres décadas después estos cuestionamientos de Fidel tienen total vigencia:
“¿Le ha ofrecido el capitalismo al mundo un modelo a seguir? ¿Un ejemplo a imitar por las sociedades? ¿No deberíamos centrarnos en cosas más racionales? ¿Cómo educar a toda la población? ¿Cómo la nutrición, la salud, la vivienda digna o la alta cultura? ¿Puedes decir que el capitalismo, con sus leyes ciegas, con su egoísmo como principio básico, nos ha dado un modelo a seguir? ¿Nos mostró un camino a seguir? ¿Seguirá la humanidad los pasos que ha planeado hasta ahora?”

Es esta intervención una clase magistral sobre la inoperancia del capitalismo que no debemos pasar por alto, estudiar y entender que, aún, estamos a tiempo de crear un mundo mejor.

Por su importancia y vigencia, el periódico libanes Al-Akhbar retomó y publicó esta entrevista traducida al idioma arabe.

FONTE
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O QUE É MARXISMO * José Paulo Netto / SP

O QUE É MARXISMO
ACESSE E LEIA GRÁTIS
JOSÉ PAULO NETTO
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MAIS MARXISMO

MANOBRAS DESESTABILIZANTES NA VENEZUELA, ARGENTINA E NA PÁTRIA GRANDE * JORNAL VENCEREMOS . AR

MANOBRAS DESESTABILIZANTES NA VENEZUELA, ARGENTINA E NA PÁTRIA GRANDE
Mais uma vez, uma operação conjunta do Together for Change, da CIA, do MOSSAD, do Judiciário e da grande mídia prejudica a democracia e o quadro institucional em nosso país.

A prisão constrangedora da tripulação do avião da EMTRASUR e a retenção da aeronave expõem a gravidade institucional a que nos submetem os EUA, Israel e seus parceiros indígenas.

O cumprimento pelos juízes argentinos das disposições políticas emanadas de Washington significa uma grave lesão à soberania nacional. Aceitar as decisões políticas e jurídicas dos EUA, de caráter absolutamente extraterritorial, marca a submissão de um dos poderes da República a um país estrangeiro e, com isso, enfraquece o governo nacional.

Os argumentos grosseiros apresentados sobre o alegado transporte de carga proibida ou ilegal, ou a denúncia de uma ONG sobre o "possível cometimento de um crime de carga ilegal" ou as denúncias da Together for Change de que este avião e sua tripulação poderiam representar um terrorista ameaça à Argentina, mostram descaradamente a validade dos complexos mecanismos de lawfare que fortaleceram o ex-presidente Mauricio Macri e seu governo.

Nenhum dos tripulantes – 14 venezuelanos e 4 iranianos – possui mandado de prisão internacional, segundo informações da Interpol. A única coisa que pesa sobre eles é uma clara perseguição política por suas nacionalidades.

A juíza federal de Lomas de Zamora, Dra. Villena, após indeferir o habeas corpus em favor da tripulação, toma a decisão de realizar uma nova inspeção do avião e sua caixa preta (realizada apenas em casos de acidentes aéreos). ). Essas medidas são abusivas, pois não há crime, causa ou qualquer irregularidade que as justifique. Também é grave que o DAIA e a AMIA tenham se apresentado como autores e que tenham sido admitidos pelo juiz, ainda que não haja acusação ou processo criminal contra os tripulantes.

No entanto, esses mesmos juízes e meios de comunicação não investigam e denunciam a fuga de capitais e o endividamento fraudulento do governo Cambiemos, nem o contrabando e a lavagem que se materializa nos portos privados de nosso país, muito menos que ano após ano é transportado por hidrovias (especialmente no Rio Paraná). Nada disso ocupa um dos poderes da República.

Exigimos a devolução imediata dos documentos apreendidos ilegalmente. Exigimos a liberação do avião venezuelano com toda a tripulação. Denunciamos a ação do Judiciário, da mídia hegemônica e do Juntos pela Mudança, que aliados a Washington, o MOSSAD e a CIA colocam em risco a estabilidade institucional, violando flagrantemente a autodeterminação dos povos, os direitos humanos e o direito internacional.

A República Bolivariana da Venezuela e seu governo, presidido por Nicolás Maduro Moros, são aliados estratégicos para a integração emancipatória da Grande Pátria. Portanto, expressamos nossa solidariedade com a Venezuela, seu povo e seu governo, diante deste ataque perpetrado contra ela, organizado a partir de Washington e realizado na Argentina.


Rosário, 18 de junho de 2022

A LOMO DE MULA * ALFREDO MOLANO - COLÔMBIA

A LOMO DE MULA:
VIAJES AL CORAZON DE LAS FARC
ALFREDO MOLANO - COLÔMBIA
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quarta-feira, 29 de junho de 2022

Claudino José da Silva * Texto e pesquisa da UJC/PCB-Leste fluminense - RJ

Claudino José da Silva
negro, operário e comunista
UJC/PCB

Claudino José da Silva nasceu numa fazenda em Natividade (RJ), a 23 de julho de 1902. Sua mãe, Maximiana Maria da Glória, morreu em 1915.

Enlouquecido pelo luto, seu pai, Querino José Alfredo, morreu três anos depois. Órfão, Claudino se viu na obrigação de abandonar os estudos primários, tornando- se trabalhador rural nas fazendas de sua região natal.

Transferiu-se para Niterói, então capital do estado do Rio de Janeiro, onde trabalhou como aprendiz de carpinteiro e integrou a diretoria do Centro dos Carpinas e Classes Anexas de Mar e Terra e participou da Liga Operária da Construção Civil de Niterói. Na sede da Liga, assistiu a palestras de Octávio Brandão, Laura Brandão e Astrojildo Pereira, tornando-se um grande admirador de Lênin e da Revolução Russa.

Filiou-se ao PCB em 1928. Foi dirigente do comitê zonal do partido em Niterói e, em 1929, ingressou na Estrada de Ferro Leopoldina, envolvendo-se nas lutas da categoria. Em 1931, foi preso em decorrência de sua atividade política. Posto em liberdade, voltou a atuar no PCB e no movimento operário. Neste mesmo ano, deixou a Leopoldina e seguiu para Recife, a fim de participar do Congresso da União dos Trabalhadores de Pernambuco na condição de delegado eleito pela Conferência Geral dos Trabalhadores do Brasil. Preso em Recife por sua atuação

em reuniões sindicais, mudou-se para João Pessoa ao sair da prisão e continuou sua militância no PCB. Diversas vezes preso e torturado, ficou seriamente doente. Restabelecido, foi para Minas Gerais, onde atuou na reorganização do Partido durante os anos 1935 e 1936.

Preso pela repressão em 1936, sua ativa militância na denúncia do racismo interno e do expansionismo colonialista e imperialista contra os povos africanos não lhe garantiu o apoio de todas as lideranças negras do Brasil de então.

Presidente da Frente Negra de Minas Gerais, foi atacado pelos dirigentes da Frente Negra Brasileira (FNB), vinculados ao integralismo, que consideravam o comunismo uma “doutrina exótica e inadaptável ao Brasil”.

Claudino permaneceu preso até 1938. Voltou para Minas Gerais e retomou sua militância no PCB, pelo que foi novamente preso. Solto mais uma vez, atuou clandestinamente no PCB durante o Estado Novo, voltando à prisão em 1940. Em 1943, integrou o comitê de organização da 2ª Conferência Nacional do PCB, a Conferência da Mantiqueira, realizada clandestinamente em 1943, na qual foi eleito membro do diretório nacional do PCB, responsável pelos trabalhos da agremiação no Norte e Nordeste do país. Com a desagregação do Estado Novo (1937-1945) e a legalização do Partido, tornou-se Secretário Político do Comitê Estadual do Rio de Janeiro e foi reconduzido ao Comitê Central.

Em dezembro de 1945, foi o único representante negro, eleito pelo antigo Estado do Rio de Janeiro, na Assembleia Nacional Constituinte. Diferenciando-se das demais em função, principalmente, da origem social de seus integrantes, a bancada comunista incomodou os parlamentares burgueses e foi responsável por apresentar propostas avançadas em favor direitos dos trabalhadores e da população pobre.

Após a promulgação da nova Constituição, em setembro de 1946, Claudino exerceu seu mandato ordinário na Câmara Federal até a cassação, em 1948, decorrente da suspensão do registro do PCB em 1947. Na clandestinidade, foi preso pichando a frase “Salve Luiz Carlos Prestes!” em um muro da cidade de Niterói, em 1950. Foi condenado a um ano de prisão pela auditoria da 5ª região militar, em 27 de junho de 1968, por distribuir material subversivo em Joinville.

Pouco se sabe sobre a sua vida ou militância política nos anos subsequentes. Faleceu em 12 de fevereiro de 1985, aos 82 anos de idade, e foi velado no saguão da Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro, por solicitação de Luiz Carlos Prestes.

FONTE
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MAIS CLAUDINO SILVA
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Cinco Falácias sobre o Preço Paritário de Importação * Felipe Coutinho/AEPET

Cinco Falácias sobre o Preço Paritário de Importação 
(PPI)
 praticado pela direção da Petrobrás 
Publicado em 14/03/2022Escrito por Felipe Coutinho

Desde outubro de 2016 as direções da Petrobrás decidiram inovar e adotar a política dos Preços Paritários de Importação (PPI)

[1]. Arbitram os preços nas refinarias da Petrobrás como se os combustíveis tivessem sido importados. Estimam o preço pago ao refinador estrangeiro (a maioria da Bacia do Golfo nos EUA), somam o custo do transporte, as taxas portuárias, seguros, margem de risco, com os lucros de toda a cadeia de importação e definem que este Preço Paritário de Importação (PPI) deve ser cobrado para os combustíveis vendidos nas refinarias da estatal.

Com preços altos em relação aos custos de importação, os combustíveis da Petrobrás perdem competitividade e até 30% do mercado brasileiro é transferido para os importadores. A ociosidade das refinarias aumenta também em até 30%, há redução do processamento de petróleo e da produção de combustíveis no Brasil. Outra consequência da política de preços é a desnecessária e perniciosa elevação da exportação de petróleo cru.

Como consequência dessa política, no dia 10 de março de 2022, a direção da Petrobrás anunciou aumentos de 16,1%, 18,8% e 24,9% para o GLP, gasolina e óleo diesel, respectivamente, nas refinarias da companhia.

O objetivo desse artigo é analisar criticamente argumentos utilizados para justificar ou defender o PPI.

FALÁCIA #1

“O petróleo brasileiro é incompatível com nosso parque de refino, logo é necessário importar petróleo e por isso o preço dos combustíveis têm que acompanhar o preço do petróleo no mercado internacional e a cotação do dólar”

Esse argumento parte da premissa que o petróleo produzido no Brasil tem alguma característica que o impede de ser processado pelas refinarias nacionais. Ora se diz que é muito pesado, ou é leve, ou grosso (sic).

Em 2021 foram produzidos 2,90 milhões de barris de petróleo por dia no Brasil, dos quais 1,32 milhões foram exportados (46% do total). [2]

A Petrobrás produziu 2,21 milhões de barris por dia, sendo 76% do total produzido no país, dos quais 73% vieram do pré-sal. Foram exportados pela Petrobrás 575 mil e importados 154 mil barris por dia. [3]

O parque de refino da Petrobrás processou 95% do petróleo nacional no 4º trimestre de 2020, em 2021 processou 92%. O que demonstra a compatibilidade entre a qualidade do petróleo e as refinarias brasileiras. [3]

Existe petróleo brasileiro em qualidade e quantidade disponível e compatível com o parque de refino do país. A premissa é falsa e conduz a conclusão enganosa, trata-se de uma Falácia de Falsa Premissa.

FALÁCIA #2

“O Brasil não tem capacidade de refino para atender nosso mercado de combustíveis, logo é necessário importar e se a Petrobrás praticar preços inferiores aos de importação ninguém vai importá-los e haverá desabastecimento”

Para analisar esse argumento devemos recorrer ao desempenho histórico do parque integral de refino da Petrobrás.

Gasolina

Em 2014 foram produzidos 181,6 milhões de barris de Gasolina A no Brasil, equivalente a 248,8 milhões de barris de Gasolina C (com 27% de etanol anidro). [4]

Em 2021, o mercado brasileiro de Gasolina C foi de 247,2 milhões de barris. Ou seja, existe capacidade instalada e provada de se produzir no Brasil a demanda pela Gasolina C de 2021. [5]

Óleo Diesel

Em 2014 foram produzidos 312,4 milhões de barris de diesel no Brasil. [4]

Em 2021, o mercado brasileiro de diesel de origem fóssil – descontada a fração de Biodiesel – foi de 343,4 milhões de barris. [5]

O 1º trem da RNEST (refinaria de Pernambuco) entrou em operação em dezembro de 2014, o que aumenta significativamente a capacidade de refino e produção de óleo diesel. Em 2016, a RNEST produziu 22,2 milhões de barris de diesel. Sua capacidade instalada para a produção de diesel é de 27,4 milhões de barris por ano. Somada sua capacidade instalada ao que foi produzido pelo parque de refino da Petrobrás em 2014, antes de sua entrada em operação, pode se alcançar 339,8 milhões de barris por ano (99% do óleo diesel vendido em 2021 no Brasil). [4]

O 2º trem da RNEST que pode dobrar sua produção do diesel e demais combustíveis está em fase avançada de construção e pode ser concluído em prazo relativamente curto, mas sua implantação foi interrompida por decisão da direção da Petrobrás.

A capacidade de produção nacional do óleo diesel é compatível com a demanda, caso exista a necessidade de importação seria residual.
O argumento pressupõe que não há capacidade de refino para atender nosso mercado, o que os resultados históricos demonstram que não é verdade para a gasolina e, no caso do diesel, a necessidade de importação é residual em comparação com o que pode ser produzido aqui. A premissa é falsa para a gasolina e pouco relevante para o diesel.

Depois se conclui que por, supostamente, existir a necessidade de importar, caso a Petrobrás não pratique o PPI, haverá desabastecimento. Ocorre que a Petrobrás não adotou o PPI desde sua criação, em 1953, até outubro de 2016 e não houve desabastecimento. O argumento não traz nenhum fato novo que justifique porque agora a consequência de não se adotar o PPI seria diferente.

A Petrobrás ao praticar preços inferiores ao PPI tende a recuperar o mercado e, caso haja necessidade, o volume residual pode ser importado por ela. Os custos médios e ponderados de produção e importação da Petrobrás sempre foram menores que seus preços. É possível adotar política de preços competitivos, baseados nos custos e na paridade de exportação do combustível brasileiro e garantir alta lucratividade da Petrobrás. [6]

O argumento inclui uma pressuposição que não foi previamente esclarecida como verdadeira, a premissa de que a Petrobrás não poderia importar os volumes residuais de combustíveis que não pudessem ser produzidos no Brasil. Trata-se de uma Falácia da Pressuposição.

FALÁCIA #3
“A Petrobrás praticou preços inferiores aos de importação entre 2011 e 2014, essa prática trouxe prejuízos que quebraram (ou quase quebraram) a estatal. Por isso, não se pode praticar preços inferiores aos de importação para não quebrar a Petrobrás”

A Petrobrás praticou preços inferiores aos de importação na maior parte de sua história, inclusive entre 2011 e 2014. No entanto, a Petrobrás nunca esteve quebrada, ou próxima de quebrar, por causa disso.

A estatal é uma grande geradora de caixa. Em 2011, foram US$ 43 bilhões, entre 2012 e 2017, a geração se manteve estável entre 25 e US$ 33 bilhões por ano. Da mesma forma, entre 2018 e 2020, variou entre 28 e US$ 33 bilhões, em valores atualizados.

Também neste período nos quais praticou preços relativamente baixos (2011-2014) manteve enormes reservas em caixa, entre 13,5 e US$ 25 bilhões, em valores nominais, superiores às multinacionais estrangeiras. A capacidade de honrar compromissos de curto prazo sempre foi evidenciada pelo índice de liquidez corrente superior a 1,5. [6]

Uma empresa com essa capacidade de geração de caixa, disponibilidade vultosa de reservas e que sempre contou com acesso a crédito abundante nos mercados nacional e internacional (recursos de terceiros para investimentos e administração da dívida) não pode ser caracterizada como falimentar. Trata-se de mais uma Falácia de Falsa Premissa.

FALÁCIA #4
“A Petrobrás deve maximizar seu lucro. O Preço Paritário de Importação (PPI) aumenta o lucro, logo deve ser praticado”

O objetivo essencial das sociedades de economia mista, como a Petrobrás, não é a obtenção de lucro, muito menos aquele lucro não recorrente e de curto prazo, mas a implementação de políticas públicas. O que legitima a ação do Estado como empresário (a iniciativa econômica pública do artigo 173 da Constituição de 1988) é a produção de bens e serviços que não podem ser obtidos de forma eficiente e justa no regime da exploração econômica privada. Não há nenhum sentido em o Estado procurar receitas por meio da exploração direta da atividade econômica. A esfera de atuação das sociedades de economia mista é a dos objetivos da política econômica, de estruturação de finalidades maiores, cuja instituição e funcionamento ultrapassam a racionalidade de um único ator individual (como a própria sociedade ou seus acionistas). A empresa estatal em geral, e a sociedade de economia mista em particular, não tem apenas finalidades microeconômicas, ou seja, estritamente “empresariais”, mas tem essencialmente objetivos macroeconômicos a atingir, como instrumento da atuação econômica do Estado. [7]

Temos aqui mais uma falsa premissa, a de que a Petrobrás deve maximizar seu lucro.

A política de preços altos e vinculados à variação do preço do petróleo e do câmbio, inaugurada em 2016, prejudicou tanto a Petrobrás, quanto o consumidor brasileiro. O diesel caro da estatal encalhou nas refinarias, assim ela perdeu mercado e receita de vendas com a ocupação de até 30% do mercado brasileiro pela cadeia de importação que é multinacional e estrangeira.

Sem conseguir escoar a produção de diesel, as refinarias da Petrobrás precisaram limitar a carga de petróleo e se tornaram ociosas, em até 30%. Ganharam os refinadores dos EUA, os operadores de logística “traders” estrangeiros e as distribuidoras concorrentes da Petrobrás que operaram, lucrativamente e com baixo risco, na importação de diesel. Assim como, os produtores de etanol que tomaram o mercado da gasolina cara.

Assim, pode se concluir que preços mais altos, como os que têm sido praticados a partir da adoção do PPI, não necessariamente trazem maiores lucros, em consequência da perda do mercado.

Aqui temos uma combinação de duas Falácias de Falsas Premissas, a de que a Petrobrás deve maximizar seu lucro e a de que o PPI necessariamente o eleva, resultando na conclusão enganosa de que o PPI deve ser adotado pela direção da Petrobrás.

FALÁCIA #5
“A Petrobrás tem o monopólio do refino no Brasil, por isso não há competição e os preços são altos. A solução é privatizar suas refinarias”

Desde a promulgação da Lei nº 9.478/1997, a Petrobrás não é mais a executora única do monopólio da União nas atividades de refino no Brasil.Existem outras refinarias operando no País, que podem ampliar sua capacidade, e qualquer outra empresa estatal ou privada pode exercer atividades de refino, de acordo com seu apetite de assumir riscos de investimento, assim como a Petrobrás fez, com objetivo de atender ao crescimento do mercado brasileiro de derivados, desde que autorizada pela União.

O mercado brasileiro do refino é aberto e competitivo, faz parte da bacia do Atlântico, como demonstra a invasão do mercado pelo diesel e a gasolina produzidos nos EUA, como resultado dos preços relativamente altos praticados pela Petrobrás.

Mais uma vez o argumento apela para uma pressuposição falsa de que a Petrobrás tem “monopólio do refino”, se referindo ao monopólio da venda de combustíveis de origem fóssil. Depois conclui que o fim do “monopólio” traria a competição e preços menores, mas ocorre que quando a Petrobrás pratica preços menores, a lucratividade dos importadores cai, se reduz a importação e a competição. Logo, para que exista maior competição é preciso que a Petrobrás pratique preços altos, o contrário da relação de causalidade do que se alega com o argumento.

Então existe uma inversão de causalidade e uma inversão no sentido da correlação. O suposto fim do monopólio não traz a competição e a redução dos preços. Não existe monopólio e a redução dos preços praticados pela Petrobrás é que reduz a importação e a competição. Temos a Falácia da Falsa Premissa, a Falácia da Inversão de Causa e Efeito, combinada com a Falácia da Causa Complexa.

Conclusão

O Brasil tem capacidade de produzir e refinar o seu petróleo no país. Mas a política de preços tem promovido a importação de combustíveis e a exportação de petróleo cru. Cerca de 50% do petróleo cru produzido no Brasil tem sido exportado, em grande medida por multinacionais estrangeiras. Enquanto isso, até 30% do mercado de combustíveis tem sido ocupado por importados, na maior parte dos Estados Unidos, com ociosidade proporcional do parque de refino brasileiro.

Trata-se de um ciclo do tipo colonial, extrativo e primário exportador do petróleo cru do Brasil. Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo cru por multinacionais estrangeiras e importando combustíveis e derivados de maior valor agregado, com o Brasil não será diferente.

Preços desnecessariamente altos, exportação crescente de petróleo cru, importação de derivados e ociosidade das refinarias brasileiras, são consequências do Preço Paritário de Importação (PPI), política de preços inédita e arbitrariamente adotada pelas direções da Petrobrás desde outubro de 2016. São decisões de responsabilidade do Presidente da República que podem e devem ser revertidas para o bem do Brasil.

Felipe Coutinho é vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
Março de 2022



Referências









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Homenagem pública à luta pelo mundo de todas e todos para todas e todos * Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI/RJ

Homenagem pública à luta pelo mundo de todas e todos para todas e todos
28/06/2022

Por Maria Luiza Busse,
diretora de Cultura da ABI

Um livro e muitas vidas serão celebrados nesta quarta-feira (29), às 18:00, no plenário da Câmara de Vereadores de Niterói. Homenagem aos 54 anos da Passeata dos Cem mil e à Geração 68, militantes que lutaram contra a ditadura no Brasil, eternizados em 68 – a geração que queria mudar o mundo: relatos. Organizado por Eliete Ferrer, o livro reúne 170 depoimentos daquelas e daqueles que sofreram o exilio, prisão, tortura, e outras tantas violências de Estado.
O professor Ivan Cavalcanti Proença, decano da ABI e presidente do Conselho Consultivo também será homenageado.

68 – A Geração que Queria Mudar o Mundo reúne histórias reais contadas pelos protagonistas ocorridas de 1964 à abertura política, nas reuniões, tarefas, manifestações, discussões, na prisão, nas ações armadas ou não, nos treinamentos, na clandestinidade, no país ou no exterior. São sensibilidades reveladas de brasileiros então dispostos a enfrentar de corpo e alma o Golpe de 64 engendrado com o imperialismo estadunidense que esmagou a democracia e assombrou o Brasil por 21 anos.

“Em um momento grave como o que vivemos, em que a democracia é posta à prova por aquele que ocupa a presidência, é fundamental celebrarmos todos os que tanto lutaram contra a ditadura em prol da democracia. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”, diz Eliete, ela própria uma exilada política, da qual reproduzimos um trecho dessa experiência impressa no livro:

Passaporte para o Mundo

(…)
“Na documentação da ABIN que obtive por meio de habeas data, consta, entre outras informações, que eu morei no México. Jamais pus os pés nesse país. Às vezes, os caras viajavam! Ou seria falha da Operação Condor? Entrei na Argentina com carteira de identidade. Aliás, a saída do Brasil e entrada na Argentina constituem outros episódios. Velhas recordações, algumas esmaecidas. Cicatrizes indeléveis na alma. É muito difícil contar isto tudo. Mas, de certa forma, é bom estar viva e poder relatar estes fatos hoje.
Nunca soube que houvesse na legislação brasileira alguma proibição de se conceder passaporte a cidadãos contra os quais não haja qualquer processo criminal, civil ou administrativo: cidadão em pleno gozo de seus direitos, com folha corrida “limpa”. Legalmente, não há tal impedimento.

Assim que o meu companheiro Luiz Carlos foi solto, ingressei com pedido de passaporte como qualquer pessoa. Quando ele saiu do DOPS, entramos os dois na clandestinidade e decidimos deixar o país. Tínhamos pressa, pois o Luiz Carlos poderia ser preso, outra vez, a qualquer momento. Não havia tempo para esperar e não sabíamos se o documento iria ser concedido. Tínhamos muita pressa de abandonar o país. Iríamos para o Chile. Estávamos vivos.

Depois de passar pela fase do “pau”, da tortura, no DOI-CODI do Rio e na OBAN de São Paulo, ele foi transferido para o DOPS, onde o vi pela primeira vez desde aquela manhã de abril do dia em que a PE o sequestrou na porta do Correio da Manhã. Ainda estava muito machucado, com marcas de hematomas e feridas dos choques elétricos. Magro e abatido. Menciono as marcas físicas. Quase milagre o fato de ele estar vivo. Temos ciência de que os governos militares que tomaram o poder em 1o de abril de 1964, orquestrados pelo governo estadunidense, cometiam todos os tipos de ilegalidade e atrocidades com supostos opositores do regime: sequestravam, mantinham presos, torturavam, assassinavam e executavam pessoas e, ainda, desapareciam com seus corpos.

O general amigo que conseguiu o relaxamento da prisão para que ele respondesse ao processo em liberdade não podia garantir nada. Tínhamos que agir rápido. No dia seguinte à soltura, a PE foi procurá-lo, de novo, no Correio da Manhã, onde ele trabalhava como jornalista.

“NÃO É VÁLIDO PARA CUBA” estava carimbado na página quatro daquele passaporte, com vigência até 25 de julho de 1975. Um amigo levou-o para mim em Buenos Aires onde estávamos, em agosto de 1973, eu e o Luiz Carlos. Morávamos em uma espécie de aparelho do ERP. Era um belo e enorme apartamento, no Centro, perto da Praça do Congresso, que servia de estúdio fotográfico. Nossos amigos eram publicitários. Certa vez, abrimos um armário e vimos dezenas de coquetéis Molotov.

Inverno. Muito frio. Adorei aquela linda cidade. Apesar da ótima hospitalidade e carinho dos argentinos, sentíamo-nos muito perdidos em Buenos Aires, recém saídos do Brasil. Ele, da prisão, tortura e do medo da morte. Tínhamos receio de sair na rua por causa de nossos documentos, especialmente, ele, por estar com identidade falsa.

Finalmente, viajamos para o Chile, depois de receber notícias daquele país. O povo chileno era legalista e lá não aconteceria nenhum golpe, apregoavam. Primeiro, de Buenos Aires a Mendoza, de ônibus. De Mendoza a Santiago, viajamos de trem. Muito frio e, por causa das greves de transporte, jornada mais que longa onde me impressionou a imponência dos Andes, cordilheira masculina, com certeza. Andes. Másculo, colossal, alto, forte, quase sem vegetação, seco, duro, silencioso … lindo e assustador!

Sem tempo hábil para acalmar as águas turbulentas turvas das emoções, mudanças muito rápidas e radicais na vida, mundo que ficou para trás, sem falar no perigo de morte. Ainda muito abalados com a prisão, torturas, saída do Brasil, curta permanência/passagem pela Argentina, passaporte na bolsa, sem uso, chegamos, poucos dias antes do golpe. Santiago, cidade singela emoldurada pelos mistérios dos Andes. Na viagem, ninguém, nenhuma autoridade, pediu, para verificação, aquele passaporte virgem.

Muita alegria e alívio ao rever os amigos! Fomos acolhidos na casa do Reinaldo que vivia com a Dora, Maria Auxiliadora Lara Barcellos. Mais dois amigos já estavam lá. Muito frio.

Não vou falar do Chile ou do golpe nem daquele filme vivo de terrores, nem da cidade cheia de cachorros abandonados. Hordas de cães nas ruas.

Acordamos, naquela manhã, com a companheira Lenise que chegou, nervosíssima e avisou: “O golpe! O golpe!” Estávamos na casa do Reinaldo e da Dora. Dia 11 de setembro de 1973. Tinha começado a segunda fase de terror da minha vida. Ligamos o rádio e ouvimos o discurso de despedida do presidente Allende. Teve início implacável perseguição e caça aos estrangeiros. Para não sermos presos, por segurança, saímos da casa do Reinaldo e da Dora e rumamos para a casa da Lilliam e do Jaime, onde, se supunha, todos estaríamos a salvo. Apartamento no Centro, calle San Antonio perto da sede do Partido Socialista. Manhã cinzenta. Simulando naturalidade, saímos dois a dois, apressadamente devagar, caminhamos meio aos tiroteios, ouvindo rajadas de metralhadora. Estrondos. Lembro-me como se fosse hoje e entristeço-me.

Nunca mais vi a solidária querida companheira Dora. Ela e o Reinaldo refugiaram-se na embaixada do México, em Santiago. Em 1o de junho de 1976, ela se suicidou em Berlim.

No dia seguinte ao golpe, 12 de setembro, fomos presos todos da casa. Éramos sete brasileiros, estrangeiros naquele país aviltado pela sanha que patrocinava a subversão da ordem constitucional e tomada de poder por militares raivosos. Junto com dezenas de objetos úteis e inúteis, como cigarros, dinheiro, relógio de pulso, utensílios de cozinha e tubos de tinta óleo, meu passaporte foi surrupiado pelo pelotão de carabineiros que invadiu a casa, armados até os dentes.

– Manos arriba! Manos arriba! Manos arriba!

Depois de uma simulação de fuzilamento no terraço do prédio, trouxeram as três mulheres para o apartamento, onde houve tentativa de estupro. Os homens foram capturados e levados ninguém sabia para onde. Violência. Terror. (…) Aprendi, naquele dia 12, o verdadeiro significado da expressão “tremer de medo”. O corpo todo treme, especialmente as pernas. Para manter-se em pé, ou para disfarçar tal constrangimento, a solução é encostar ou apoiar uma parte do corpo na parede, caso seja possível” (….).
68 a geração que queria mudar o mundo: relatos, foi publicado pelo Projeto Marcas de Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, em 2011.

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Descaso da formação ideológica causa retrocessos na América Latina * FREI BETTO / SP

 Descaso da formação ideológica causa retrocessos na América Latina

FREI BETTO
A esquerda volta ao poder na América, lembre-se disso!


Para o frade dominicano brasileiro Frei Betto, uma das principais causas dos retrocessos nos governos progressistas na América Latina é o descuido na formação ideológica da sociedade.


Na sua opinião, este não é um fenômeno novo ou típico do continente, pois já havia ocorrido na antiga União Soviética e no restante do Leste Europeu.


Durante sua participação na II Conferência Internacional Com Todos e pelo Bem de Todos, dedicada a José Martí, Betto defendeu esses critérios à luz do pensamento político e anti-imperialista de Martí.


Ele destacou que a região percorreu um longo caminho nos últimos anos, conseguiu eleger chefes de Estado progressistas, conquistar importantes conexões continentais como a aliança Bolivariana, Celac, Unasul, mas erros foram cometidos.

Especificou que um deles foi negligenciar a organização popular, o trabalho de educação ideológica e "é aí que entra José Martí porque sempre se preocupou com o trabalho ideológico", acrescentou.


Segundo o teólogo da libertação, retrocessos em uma sociedade desigual significam que há uma luta de classes permanente. "Não podemos nos enganar, porque o apoio popular aos processos não é garantido dando ao povo apenas melhores condições de vida, porque isso pode causar uma mentalidade consumista nas pessoas", afirmou.


El problema está -afirmó Betto- en que no se politizó a la nación, no se hizo el trabajo político, ideológico, de educación, sobre todo en los jóvenes, y ahora la gente se queja porque ya no puede comprar carros o pasar vacaciones en o exterior.

Em sua opinião, há um processo regressivo porque não se desenvolveu uma política sustentável, não há reforma estrutural, agrária, tributária, presidencialista, política. "Canalizamos uma política boa, mas cosmética, sem raízes, sem fundamentos para sua sustentabilidade."


Ao se referir ao Brasil, espera que não aconteça o pior, a volta do direito ao poder. De acordo com sua análise, isso depende muito de Dilma nos próximos dois ou três anos. "Mas infelizmente, por enquanto, não há sinal de que a política econômica que prejudica os mais pobres e favorece os mais ricos vá mudar", disse.


Afirmou que o consumismo e a corrupção estão matando a utopia nos povos de nossa América, como Argentina e outros, porque -assinalou- as pessoas não têm perspectivas de um sentido de vida altruísta, solidário, revolucionário, vão para o consumismo, e Isso afeta toda perspectiva socialista e cristã, que é desenvolver valores solidários nas pessoas. "A solidariedade é o maior valor do socialismo e do cristianismo", enfatizou.


Betto insistiu que é aí que está a culpa dos governos progressistas. Em sua opinião, não havia um trabalho básico, de formação ideológica do povo.


Acrescentou que a educação para o amor, para a solidariedade, é um processo que deve ser desenvolvido pedagogicamente, e como isso não foi cuidado desde o início, agora as consequências são lamentavelmente enfrentadas.


Al abordar el proceso de distopía, es decir, los intentos de presentar la utopía como algo del pasado, reiteró que en los países como Brasil o Venezuela, los gobiernos se equivocaron al creer que garantizar los bienes materiales equivalía a garantizar condiciones espirituales, y no é assim.


Betto -no caso de Cuba- expressou que o governo revolucionário, que fez um trabalho ideológico de educação política com o povo, foi muito paternalista.


Ele explicou que as pessoas têm encarado a revolução como "uma grande vaca que dá leite a todas as bocas", mas isso não mobiliza as pessoas para um trabalho mais efetivo de consolidação ideológica relacionada, por exemplo, à produção agrícola e industrial.


Ele considerou que, embora admita que pode estar errado, a dependência da União Soviética levou Cuba a se acomodar um pouco, e hoje importa de 60 a 70 por cento dos produtos especiais de consumo e isso praticamente a transformou em uma nação que exporta medicamentos serviços, educadores, profissionais e turistas importadores para obter mais divisas.


Educação política, participação, compromisso efetivo com a luta, adequação da teoria e da prática, é o certo a se fazer e há os exemplos de Martí, de Fidel Castro que viveram dentro do monstro, como no caso de Martí, e que de Fidel que vem de uma família latifundiária e se tornou um revolucionário.


O que aconteceu na consciência de José Martí e Fidel Castro, que tiveram a oportunidade de conquistar um lugar na burguesia, mas tiveram uma liderança evangélica para os pobres e assumiram a causa da libertação?, perguntou-se.


A resposta é aquela que vai nos mostrar o caminho que vamos trilhar para evitar que o futuro da América Latina volte a ser um lugar de grande desigualdade, de grande pobreza, porque corremos o risco de voltar a ser um neo-colônia dos Estados Unidos e Europa Ocidental.


Enfatizou que não é fácil viver em um mundo em que o neoliberalismo proclama que a utopia está morta, que a história acabou, que não há esperança nem futuro, que o mundo sempre será capitalista, que sempre haverá pobres, miserável, e rico, e que, como na natureza, sempre haverá dia e noite e isso não pode ser mudado.


Betto destacou que a direita se junta por interesse, e a esquerda por princípios, e quando a esquerda perde seus princípios. E acrescentou: Quando a esquerda viola o horizonte dos princípios e vai atrás dos interesses, joga a favor da direita.


A tarefa da esquerda é se mobilizar na linha de uma alta formação política e é assim que devemos trabalhar, afirmou.


Sobre o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos, expressou que a Ilha deve conseguir como estabelecer boas relações com os Estados Unidos e administrar bem a suspensão do bloqueio sem se tornar vulnerável à sedução capitalista.


Ele expressou sua preocupação ao ver jovens cubanos saindo do país para aproveitar a lei de ajuste porque é um sinal de que as pessoas estão correndo contra o tempo para se tornarem cidadãos dos Estados Unidos, "porque no momento em que o bloqueio terminar, essa lei será derrubada ". Mas Cuba tem que se perguntar por que os jovens criados na revolução querem ser cidadãos dos Estados Unidos?


“O perigo aqui, diz ele, é que esses jovens veem a revolução como um fato do passado e não um desafio para o futuro, e quando as pessoas a veem como um fato do passado, já veem as coisas não por seus valores. , pelo seu horizonte revolucionário, mas pelo consumismo”.


O socialismo, assegurou, cometeu o erro de socializar os bens materiais, e não socializou suficientemente os bens espirituais, porque um pequeno grupo poderia ter sonhos de coisas diferentes que poderiam ser feitas, e os demais tiveram que aceitá-las.


“O capitalismo fez ao contrário, socializou sonhos de privatização de bens materiais... E aí vem o sofrimento dos jovens que colocam quatro coisas na vida: dinheiro, fama, poder e beleza, e quando não alcança parâmetros vão sempre aos ansiolíticos, às drogas, vem a frustração dos falsos valores, que vem sempre de onde definimos as nossas expectativas”, concluiu. 

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CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA * GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ - COLÔMBIA

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA
ACESSE E LEIA GRÁTIS
GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ
COLÔMBIA


terça-feira, 28 de junho de 2022

Cúpula do Brics e Cúpula da OTAN, um novo mundo contra o imperialismo * Geraldina Colotti / Itália

 Cúpula do Brics e Cúpula da OTAN

um novo mundo contra o imperialismo
Por Geraldina Colotti
26 de junho de 2022


Mais de 40% da população mundial e quase um quarto do produto interno bruto mundial. Trata-se dos cinco países pertencentes ao BRICS - sigla para um grupo de mercados emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, que se reuniram em Pequim nos dias 23 e 24 de junho, em cúpula intitulada "Diálogo de alto nível sobre o desenvolvimento global''.



Este ano, o comércio entre a China e os restantes países do grupo, fundado em 2009, registou um aumento de 12,1% face a 2021. O volume de comércio está a crescer, afirmou na reunião inaugural, e assente na cooperação complementar em diversos setores como saúde, meio ambiente, ciência e tecnologia, agricultura, formação, micro, pequenas e médias empresas.

Um campo destinado a se expandir ainda mais porque a China, que agora detém a presidência, trabalha em uma plataforma que envolve economias emergentes e grandes países em desenvolvimento, como alternativa ao bloco ocidental liderado pelos EUA, e em nome da cooperação comercial e econômica . Alguns desses países, como Cazaquistão, Arábia Saudita, Argentina, Irã, Egito, Indonésia, Nigéria, Senegal, Emirados Árabes Unidos, Argélia e Tailândia, foram convidados para a cúpula como potenciais novos membros e participaram da reunião do Brics plus.


A aquisição mais importante será a da Argentina, que busca apoio para sair da chantagem do Fundo Monetário Internacional e superar as limitações de acesso ao crédito internacional. Os Brics se tornarão então Bricsa. Enquanto isso, Buenos Aires poderá ingressar no BRICS New Development Bank (NDB), que não exige a adesão ao clube para conceder empréstimos. Uma opção já utilizada por países como Uruguai, Emirados Árabes Unidos e Bangladesh. O banco Ndb tem sede em Pequim e foi fundado em 2014.


Desde então, já aprovou mais de 80 projetos de construção de infraestrutura em todo o mundo. Financiamento que Pequim não condiciona a mudanças de natureza política, como é típico dos organismos internacionais administrados pelos Estados Unidos. Há dois anos, a Argentina faz parte do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (Aiib), banco de desenvolvimento criado em 2015 por iniciativa do China. Um dos objetivos originais do AIIB é apoiar a construção de infraestrutura sob a Iniciativa do Cinturão e Rota da China, à qual a Argentina também se juntou formalmente este ano quando o presidente Alberto Fernández visitou Pequim.


Na Argentina, as expectativas de inflação, uma das mais altas do continente, afastaram-se ainda mais das faixas de 38-48% para 2022 e 34-42% para 2023 previstas no acordo firmado com o FMI para refinanciamento de dívidas, que contemplava a possibilidade de revisar essa hipótese diante de novos choques na economia mundial. E o crescimento para este ano também ficará abaixo do previsto em pelo menos 0,2 ponto percentual.


Fernández disse que, para a Argentina, os BRICS representam "uma excelente alternativa cooperativa a uma ordem mundial que funciona em benefício de poucos". A Argentina também ocupa a presidência pro tempore da CELAC. Por isso, Fernández foi convidado à Alemanha para participar da Cúpula do G7, formada por Alemanha, Reino Unido, Japão, França, Espanha, Itália e Estados Unidos. No G7, a Argentina foi convidada junto com a Índia, Indonésia, África do Sul, Senegal e Ucrânia. Com eles, o G7 organizou uma sessão dedicada à segurança alimentar global e à igualdade de gênero.


Apesar das divergências sobre o Mercosul, cujo tema ainda está na agenda, a União Européia pretende "acelerar o diálogo político" com a Argentina e preparar um encontro entre a CELAC e representantes europeus para o final de outubro. Primeiro, em 21 de julho, Fernández irá à reunião do Mercosul e planeja um encontro bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.


O espanhol Javier Niño Pérez, diretor para as Américas do Serviço Europeu de Ação Externa, ao elogiar a política de direitos humanos da Argentina, não escondeu sua aversão a Cuba e à Venezuela. No entanto, ele estava aberto à proposta argentina de um encontro "inclusivo" entre os dois blocos, do qual Cuba e Venezuela também participam. “Esta é a região mais compatível com o euro que conhecemos. No campo da energia, pela primeira vez a América Latina tem a oportunidade de ser considerada um parceiro estratégico”, disse Niño Pérez.


Diante da crise energética causada pelo conflito na Ucrânia, a UE é tentada por uma reserva de gás extraordinária como a de Vaca Muerta que a Argentina possui. Em troca, a Europa oferece a Buenos Aires investimentos em infraestrutura para a construção de um gasoduto, o que, no entanto, levará tempo. Enquanto isso, os países do G7 buscam soluções de curto prazo, dentro e fora do campo ocidental.


O G7, que antecedeu a cúpula da OTAN, marcada para Madrid nos dias 29 e 30 de junho, serviu para ostentar a compacidade do campo ocidental em torno da defesa da Ucrânia, com a proposta de novas sanções contra a Rússia: a cessação das importações de ouro no G7 países, a segunda fonte de receitas de exportação da Rússia, e a possibilidade de atingir também o petróleo de Moscou.


Ao contrário, a questão do multilateralismo como alternativa a uma ordem mundial hegemonizada pelo imperialismo norte-americano esteve presente em todas as intervenções dos BRICS. "Todos compartilhamos uma história comum de luta contra o imperialismo, o colonialismo, a exploração e o subdesenvolvimento -disse o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa-, todos compartilhamos o desejo de maior representação e perspectivas de progresso nas instituições de governança global".


O clube dos BRICS recusou-se a aderir às medidas coercitivas unilaterais impostas à Rússia pelos EUA e seus aliados. China, Índia e África do Sul se abstiveram na resolução da ONU condenando Moscou pelo conflito na Ucrânia. O único que não o fez foi o Brasil de Bolsonaro, que, no entanto, continuou mostrando "neutralidade" durante a cúpula. Pequim e Nova Délhi têm fortes laços militares e energéticos com Moscou e estão interessados ​​em comprar petróleo e matérias-primas com desconto, e a África do Sul também tem laços econômicos substanciais com a Rússia.


Apesar das tensões territoriais entre China e Índia (que integra o Quad com EUA, Japão e Austrália), avança o projeto de uma alternativa monetária à hegemonia do dólar. E até o incongruente Bolsonaro declarou que “o Brasil não pretende se fechar e que é preciso maior integração econômica”. Falando no Fórum Empresarial do BRICS, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que está sendo estudada a criação de uma moeda comum para as reservas do Estado.


Uma moeda de conta do BRICS que produziria um sistema de pagamentos paralelo aos sistemas bancários norte-americanos, totalmente desvinculado do Swift, capaz de favorecer transações entre países sancionados e também permitir a triangulação de bens ocidentais por meio de pagamentos simples e a custos competitivos. Mais tarde, Putin denunciou novamente medidas coercitivas unilaterais: porque, segundo ele, "ignoram os princípios básicos da economia de mercado e a inviolabilidade da propriedade privada".


Sanções também consideradas "arbitrárias" por seu homólogo chinês, Xi Jinping, que destacou as repercussões que pesam sobre os países em desenvolvimento e alertou "os principais países desenvolvidos" sobre a necessidade de adotar políticas econômicas "responsáveis". Os fatos, acrescentou Xi, “mostraram repetidamente que as sanções são um bumerangue e uma faca de dois gumes. Aqueles que politizam, exploram e armam a economia mundial, explorando o domínio do sistema financeiro e monetário internacional para impor sanções arbitrárias que, em última análise, prejudicam os outros e o mundo inteiro”.


Para o presidente chinês, a expansão das alianças militares acarretará múltiplos riscos e “inevitavelmente um dilema de segurança”. O resultado será apenas um aumento da instabilidade global devido à "busca da própria segurança em detrimento de outros países". A crise na Ucrânia, para Xi, deve ser considerada "um alerta", assim como o projeto de expansão da OTAN para a Suécia e a Finlândia, e os laços cada vez mais estreitos da Aliança Atlântica com o Japão e a Coreia do Sul, e as manobras do Estados Unidos no Indo-Pacífico (do Akus ao Quad e à venda de armas a Taiwan), claramente dirigido contra a China.


A história - recordou Xi Jinping - "nos diz que só quando todos se lembram das dolorosas lições da guerra pode haver esperança de paz". Em vez disso, os impulsos em direção ao “hegemonismo” e à “política do bloco oposto” apenas provocarão “guerras e conflitos”. Há algum tempo, analisa o presidente chinês, a globalização capitalista enfrenta “ventos contrários. Alguns países querem se desvincular, querem quebrar a cadeia de suprimentos para construir um pequeno pátio com muros altos." Em vez disso, a globalização econômica "é uma necessidade objetiva para o desenvolvimento das forças produtivas e uma tendência histórica irresistível". Voltar "e tentar bloquear o caminho dos outros acabaria bloqueando o próprio caminho" e dividindo a economia mundial em "regiões isoladas".


A China, por sua vez, assegurou o presidente, vai intensificar os ajustes nas macropolíticas, adotar medidas mais efetivas, buscar atingir as metas anuais de desenvolvimento econômico e social e minimizar o impacto da pandemia de Covid-19. O XX Congresso do Partido Comunista, que, anunciou, se realizará no segundo semestre do ano, "definirá um novo projeto de desenvolvimento baseado em novos conceitos, um novo sistema de economia aberta de nível superior e continuará a criar um ambiente empresarial”. orientado para o mercado, estado de direito e internacionalmente”


Xi assegurou ao seu homólogo russo o apoio de Pequim aos interesses centrais de Moscou em termos de “soberania e segurança”, provocando a reação de Washington de que a China arriscaria acabar “no lado errado da história". A parte "correta" seria aquela que Washington está prestes a propor aos aliados na cúpula da OTAN, ampliando suas perspectivas para outros cenários: incluindo a região do Ártico, cuja superfície glacial está diminuindo gradativamente, mostrando assim a perspectiva de navegabilidade de seus rotas.


A navegação pelo Ártico, que ligaria 75% da população mundial, evitando os pontos de passagem necessários ao comércio global, provocaria mudanças capazes de afetar o equilíbrio geral: tanto em termos econômicos, quanto considerando o potencial de exploração das reservas estratégicas detidas a partir de a área (especialmente terras raras, preciosas para o desenvolvimento de novas tecnologias), tanto em termos alimentares (pesca) como militares.


Para ter direitos territoriais sobre o Ártico existem oito nações, que fazem parte do Conselho do Ártico: Canadá, Dinamarca (representando a Groenlândia), Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia, Estados Unidos e Rússia, o único país fora da esfera norte-americana de influência. . Em 2013, a China recebeu o status de observador. A maioria dos países também pertence à OTAN, agora apoiada pelas aspirações suecas e finlandesas de adesão, e já organizaram operações conjuntas.


Também nesta área estratégica o cerco à Rússia está sendo criado na perspectiva de um conflito de proporções globais. Nos últimos três meses, o Congresso dos EUA aprovou 54.000 milhões em ajuda civil e militar a Kyiv, mais de 80% do orçamento de defesa russo, mostrando sua intenção de continuar no mesmo caminho: impor sobre essa base um novo conceito estratégico para a dominação do mundo. É por isso que a contra-cúpula organizada por várias organizações e plataformas populares ganhou importância, com a entrega:


Chega de OTAN. Fora Bases Militares. 

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