quarta-feira, 2 de agosto de 2023

A VIOLÊNCIA POLICIAL COMO NATUREZA DO ESTADO CAPITALISTA * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

A VIOLÊNCIA POLICIAL COMO NATUREZA DO ESTADO CAPITALISTA
ASSIM MORREU CLAUDIA SILVA FERREIRA
*
Mais uma trabalhadora negra assassinada brutalmente pela PM de Cabral com as bênçãos de Dilma


Mais um crime covarde foi praticado impiedosamente pela fascista e odiosa Polícia Militar de Sergio “Caveirão” (PMDB) e seu comparsa, o Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro e ex-agente da ditadura militar José Mariano Beltrame, contra mais uma trabalhadora negra e moradora de favela, fato que não é novidade haja vista o verdadeiro processo de extermínio que há décadas a juventude negra e pobre vem sofrendo no país. Na manhã do último dia 16, a vítima destes carrascos foi a trabalhadora Claudia da Silva Ferreira de 38 anos, mãe de quatro filhos, covardemente baleada por policiais militares quando saia de sua residência para comprar pão no Morro da Congonha, zona norte do estado, sendo em seguida colocada friamente no porta-malas do camburão de uma viatura, a qual saiu em direção ao Hospital Carlos Chagas na zona norte, quando em meio ao trajeto a porta da viatura se abriu e Claudia foi projetada para fora do veiculo, ficando pendurada pela roupa no para-choque, sendo arrastada no asfalto barbaramente por cerca de 250 metros. Transeuntes avisavam os policiais que a mulher estava sendo arrastada, fato ignorado pelos PMs que continuavam a guiar tranquilamente a viatura. Segundo a filha de Claudia, Thais Silva de 18 anos que presenciou a cena macabra: “Eles arrastaram a minha mãe como se fosse um saco e a jogaram para dentro do camburão como um animal”, denuncia. É desta forma que agem os cães de guarda da burguesia quando se trata de atacar a população pobre e explorada das favelas e periferias dos grandes centros urbanos.

De acordo com a versão da PM, como de praxe, Claudia foi baleada durante uma troca de tiros com bandidos, fato amplamente desmentido por moradores locais, que veementemente negaram tal afirmação em entrevistas a própria imprensa burguesa. Ainda de acordo com vizinhos de Claudia “a polícia chegou atirando, baleando a mulher e em seguida a colocou na viatura já desacordada”. A Secretaria de Saúde Pública do Estado do Rio de Janeiro afirmou que Claudia deu entrada já sem vida no Hospital Carlos Chagas, o que caracteriza homicídio por parte da polícia, que para “fazer uma média” com a opinião pública e devido às pressões dos moradores de Congonhas que na sequência organizaram uma série de protestos no bairro contra os verdugos a serviço do governo Cabral, que cinicamente mandou “prender administrativamente” dois subtenentes e um soldado, os quais não tiveram seus nomes divulgados e segundo seus comparsas mafiosos da corporação “Também foi instaurado um inquérito policial militar (IPM) para investigar o caso” (Estadão, 17/03). Este fato certamente ficará por isso mesmo, visto o salvo-conduto que estes bandidos de farda possuem para massacrar a população pobre. Impressionante também é o silêncio de figuras abjetas e asquerosas como a canalha do PIG, do porte dos Datenas, Rezendes e congêneres, que esperneiam de indignação quando a vidraça de um banco é quebrada numa manifestação e agora estão calados diante de tamanha barbaridade cometida pelos seus heróis fardados, o que torna estes porta-vozes da burguesia cúmplices deste crime contra nossa classe.

PM BRASILEIRA: UMA VERDADEIRA “MÁQUINA” DE MATAR

A Polícia Militar brasileira como cria direta da ditadura militar vem ao longo dos anos se tornando completamente incontrolável, sendo criticada – embora demagogicamente – até mesmo por um órgão imperialista como a ONU, que recentemente propôs a dissolução desta, como afirma matéria do jornal O Globo: “O Conselho de Direitos Humanos da ONU pediu nesta quarta-feira (30/05) ao Brasil maiores esforços para combater a atividade dos 'esquadrões da morte' e que trabalhe para suprimir a Polícia Militar, acusada de numerosas execuções extrajudiciais” (O Globo, 08/2012).

De acordo com matéria do Jornal do Brasil: “Em 2011, no Rio de Janeiro, 524 pessoas foram mortas pela Polícia Militar em todo o estado, segundo dados do Instituto de Segurança Pública, do governo fluminense. Em São Paulo, no mesmo período, foram 437 mortes, segundo a Secretaria de Segurança Pública paulista. Somadas, as estatísticas revelam que, nos dois estados mais populosos do país, 961 mortes foram cometidas por agentes do Estado em 2011 - um número 42,16% maior do que as vítimas da pena de morte em todos os países pesquisados pela Anistia Internacional” (Jornal do Brasil, 03/2012). A população negra se torna neste caso, a maior vítima em potencial desta política de extermínio com contornos “malthusianos” caracterizado por uma guerra de classe declarada pela burguesia e seu Estado contra o proletariado, principalmente à sua parcela mais oprimida e superexplorada que são justamente os trabalhadores negros, se desenvolvendo em um verdadeiro “holocausto urbano” como diz uma música do grupo Racionais MCs.

Segundo artigo do Negro Belchior em seu blog “A pesquisa Participação, Democracia e Racismo”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada nesta quinta-feira apontou que, a cada três assassinatos no País, dois vitimam negros. Os dados foram apresentados pelo diretor Daniel Cerqueira, no lançamento da 4ª edição do Boletim de Análise Político-Institucional (Bapi). De acordo com a pesquisa, a possibilidade de o negro ser vítima de homicídio no Brasil é maior inclusive em grupos com escolaridade e características socioeconômicas semelhantes. A chance de um adolescente negro ser assassinado é 3,7 vezes maior em comparação com os brancos. E ainda mostra que negros são maiores vítimas de agressão por parte de polícia. A Pesquisa Nacional de Vitimização mostra que em 2009, 6,5% dos negros que sofreram uma agressão tiveram como agressores policiais ou seguranças privados (que muitas vezes são policiais trabalhando nos horários de folga), contra 3,7% dos brancos” (Negro Belchior, 10/2013). Dados que confirmam inapelavelmente o verdadeiro processo de genocídio em andamento no Brasil contra a população negra levado a cabo pela burguesia e sua polícia fascista, um monstro parido diretamente da ditadura militar financiada pela CIA e o governo imperialista ianque.

COMBATENDO O TRAFICO?

Para levar a diante esta política assassina contra os trabalhadores nos bairros pobres e favelas, a burguesia articula através do PIG uma verdadeira campanha de manipulação acerca do trafico de drogas. Esta política é resultado direto das ordens emanadas dos corredores da Casa Branca e sua doutrina de “tolerância zero”, baseada totalmente na criminalização da pobreza e higienização social, visando afastar a população pobre das regiões de interesse principalmente da especulação imobiliária, o que tem ocorrido de forma recorrente mais intensamente em São Paulo e no Rio de Janeiro. De acordo com o portal de noticias Terra “Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, o preço do aluguel nas comunidades do Rio de Janeiro aumentou 6,8% a mais do que nos bairros nobres da cidade, sendo que o valor de um imóvel na zona sul cresceu em média 45% nos últimos dois anos segundo o Sindicato da Habitação (Secovi). Mas há casos específicos em que a valorização passou de 100%”. Ou seja, a tática da burguesia e do capital financeiro é implantar as UPPs a ferro e fogo através dos criminosos do BOPE, para depois impor um verdadeiro estado de sitio contra as comunidades tornando a vida dos trabalhadores insustentável expulsando-os para as regiões mais afastadas da cidade, muitas vezes para zonas de risco como morros, córregos, aterros sanitários etc.

Além da especulação imobiliária, outros que vem ganhando muito com as incursões assassinas dos facínoras fardados nos bairros proletários são a industria bélica e automobilística, beneficiadas pelos contratos hiperlucrativos com os gerentes da burguesia como Cabral no Rio. De acordo com o site Noticias Automotivas “O governo do Rio de Janeiro vai substituir parte da frota da Polícia Militar. Serão 1.181 unidades do Renault Logan e 321 exemplares do Chevrolet Blazer. No entanto, esta nova frota vai custar aos cofres públicos a “bagatela” de R$ 490 milhões no aluguel das novas viaturas por um período de 60 meses.

Esse dinheiro todo ficará nas mãos da empresa CS Brasil, que pertence à empresa Julio Simões, que já ganhou R$ 220 milhões em aluguéis com o governo do Rio, e segundo fontes, sem licitação. Já o setor de guerra ligados à repressão recebeu do governo carioca em 2008 por exemplo, a cifra de R$ 310 por habitante (Estadão), enquanto os investimentos em saúde no estado Fluminense em 2013 por exemplo ficou abaixo da média nacional: de acordo com estudos do IBGE, a média dos estados ficou em 11,29% nos gastos, enquanto Cabral “investiu” 7,2%, nos mostrando que está em curso o recrudescimento do regime burguês contra a massa operária para beneficiar diretamente os lucros do capital, mostrando que o discurso moralizante e histérico do PIG sobre o combate ao tráfico de drogas não passa de cortina de fumaça para esconder os verdadeiros interesses burgueses por trás das políticas de repressão aos bairros operários, como afirmou o traficante Nem preso em 2011, onde afirmou categoricamente a participação da polícia na repartição de parte do lucro do tráfico. Além disso, não é segredo que os verdadeiros beneficiados com o tráfico de drogas são justamente os grandes magnatas do capital como o banco Santander por exemplo, que recentemente esteve envolvido em denúncias de lavagem de dinheiro da droga, ou mesmo a CIA e o governo norte-americano que tem no dinheiro do tráfico um importante aliado no financiamento de golpes de estado pelo mundo.

CRIAR COMITÊS DE AUTODEFESA NÃO PARA DESMILITARIZAR, MAS PARA DESTRUIR A POLÍCIA!

Neste sentido, diante de uma situação de extermínio da população trabalhadora desde seu local de moradia pelas mãos do Estado burguês, não resta outra alternativa que não seja a resistência direta e sua autodefesa contra os facínoras fardados. Dessa forma, é imperativo a criação de Comitês de autodefesa pelos trabalhadores que estão sendo brutalizados pela PM como fizeram os Panteras Negras nos EUA nas décadas de 60 e 70, como forma de sobrevivência de todas as comunidades moradoras das favelas e periferias do país, bem como a articulação de uma frente única de luta de favelas. Dessa forma, ao contrário do que pregam os revisionistas do PSTU e PSOL que desejam desmilitarizar essa corporação, o movimento de resistência tem que se basear num dos princípios mais fundamentais da luta de classe elaborada por Marx e Engels que é a destruição violenta de todo aparato repressivo da burguesia. Fato este que não pode estar separado da luta pelo poder do proletariado, pondo fim definitivo através da revolução socialista a toda ordem burguesa apodrecida que necessita da guerra contra nossa classe para sobreviver. Desde já, prestamos toda nossa solidariedade a familia de Claudia, vítima da Polícia fascista de Cabral.

*

Qual deve ser a posição dos marxistas revolucionários frente as reacionárias greves policiais e das FFAAs em geral?


Acima, fotos da repressão policial a greve dos
professores do Ceará. Abaixo, cartaz do PSTU apoiando
a greve dos repressores policiais e bombeiros

O ano de 2011 foi marcado por várias greves policiais. No primeiro semestre foram os bombeiros no Rio de Janeiro. No segundo, entraram em greve os policiais militares e civis maranhenses. No apagar das luzes do ano passado teve início a dos bombeiros e PMs do Ceará, que chegou ao fim no último dia 4 de janeiro, quando então que teve início a dos policiais civis do mesmo estado.

Já passou da hora do proletariado brasileiro e sua vanguarda abstraírem importantes lições deste tipo de conflito. No entanto, as organizações políticas que se dizem revolucionárias, ou seja, as que se dizem dispostas a levar a luta de classes até a tomada do poder pelas massas trabalhadoras, têm revelado também diante destas greves sua completa falência teórica e programática, adotando posições que vão do sindicalismo e do eleitoralismo oportunistas ao perigoso delírio idealista.

A REDE MUNDIAL DE INVESTIMENTOS EM “FORÇAS DESTRUTIVAS”

Tomemos por exemplo o saldo da greve de bombeiros e PMs do Ceará, que obtiveram praticamente todas suas reivindicações atendidas pelo governo Cid Gomes. Depois de pressionado pelos seus próprios "cães de guarda" o governo do PSB/PT concedeu aumento da Gratificação de Policiamento Ostensivo (GPO) aos salários dos policiais e dos bombeiros. A partir deste mês de janeiro de 2012 a GPO será de R$ 1.034,00 para todos os policiais ativos, da reserva e pensionistas, redução da jornada de trabalho para 40 h semanais e anistia de processos abertos desde primeiro de novembro de 2011. Além disto, foi anunciado o plano de modernização da polícia, através de mais viaturas, maior armamento e mais munição, além de coletes a prova de bala, significando, na prática, o fortalecimento das engrenagens repressivas do Estado burguês contra os trabalhadores. Foi assim que os repressores fardados à serviço dos exploradores conseguiram, através da greve, melhores condições de "trabalho" para dar continuidade a repressão sobre a população pobre e trabalhadora das periferias.

As conquistas “econômicas” das greves policiais reforçam seu poder de repressão contra a população trabalhadora, como foi o caso desta greve e da recente greve dos Guardas Municipais de Fortaleza, apoiada pelo PSOL e pela Intersindical. Além dos sprays de pimenta já muito conhecidos pelos professores de Fortaleza, os Guardas Municipais ganharam também um novo “brinquedinho”, uma arma de choque elétrico que pode até matar.

A primeira lição deriva das próprias contradições da economia mundial capitalista, que em última instância provocaram a greve. O capitalismo é cada vez mais parasitário e dependente da economia de guerra para alavancar os negócios, desenvolvendo dessa forma as forças mais destrutivas contra o ser humano.

Podemos ver de forma aguda essa contradição no Ceará, onde a discrepância entre gastos com o armamento e viaturas modernas e os salários baixos corresponde ao fato de que, enquanto o Estado burguês, mesmo um Estado relativamente pobre como o do Ceará, que busca gastar o mínimo com soldos (salário dos soldados) integra a rede internacional imperialista de investimentos em forças destrutivas, um departamento fundamental da economia capitalista contemporânea. Só pela implementação do sistema de vigilância contra a população na capital cearense, através de 86 câmeras, o investimento do Governo do Estado, através da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), foi da ordem de R$ 6,5 milhões. As viaturas da Ronda custam pelo menos 165 mil cada e os policiais que a utilizam recebem R$ 23 reais de gratificação mensal para dirigi-las. Trata-se da aplicação da velha lei do desenvolvimento desigual e combinado enquanto o governador conta vantagem de que "Temos hoje o que melhor existe no mundo em tecnologia. Estamos sempre procurando avançar. O Ronda conta com viaturas 4x4 equipadas com câmeras, computador de bordo, GPRS, celular, e motos off-road, que servem de apoio" os PMs que portam todo este equipamento reclamam por receberem migalhas. A greve tratou de atenuar esta contradição da forma mais reacionária possível, elevando os gastos fixos destinados aos executores da repressão aos trabalhadores e diminuindo a discrepância entre os investimentos no conjunto da instituição repressora.

Aos trabalhadores não interessa resolver esta contradição em favor do aparato repressivo, aumentando o soldo dos policiais a fim de torná-lo compatível com os gastos com o “maquinário” (como reivindicam PT, PCdoB, PSOL e PSTU, PCB, Critica Radical e TPOR), mas contra qualquer investimento no aparato repressivo. Nenhum investimento no “maquinário mortífero” nem nos pit bulls que o operam! Progressivo para a nossa classe é o fim de nossos algozes, o desmantelamento e destruição de tudo isto.

&

NENHUM APOIO ÀS GREVES POLICIAIS NEM DEFESA DE DESMILITARIZÇÃO DO APARATO REPRESSIVO BURGUÊS

Enquanto sabota a unificação das greves dos trabalhadores, a esquerda revisionista fortalece a luta de seus algozes. Nos referimos especialmente à traição feita pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, dirigido pelo PSTU-PSOL(CSOL e CST)-PPS, que abortou a que seria a maior greve unitária do Estado de São Paulo dos últimos anos. A greve estava marcada para iniciar no dia 1º de junho, quando os metroviários se unificariam com os trabalhadores da Companhia Paulista de água e esgoto (SABESP), com os ferroviários e com os rodoviários do ABC paulista. Todavia, estes mesmos senhores, através da CSP-Conlutas e da Intersindical, realizaram uma grande unidade com os bombeiros e a PM em torno do apoio à reacionária "greve" dos primeiros.

Para os marxistas, e fundamentalmente para Trotsky, um operário que se torna policial a serviço do Estado capitalista é um policial burguês e não um “trabalhador fardado”. Isto é assim porque um policial, independente de sua classe de origem, faz parte de um destacamento especial de homens armados que exerce o monopólio da violência a serviço da classe dominante contra o proletariado. Mas, a esquerda revisionista do trotskismo (PSTU, CST, OT, EMPT, MR, CL) apoia os reacionários motins policiais, que reivindicam o aumento dos soldos e o incremento do aparato repressivo (‘melhores condições de trabalho’, como na faixa acima ao lado da bandeira tremulante da CSP-Conlutas).

O motim, ocorrido em tempo de corte de gastos e ajuste fiscal, se deve ao desprezo do Estado burguês com um setor secundário de seu aparato repressivo. Os bombeiros, que para o senso comum existem apenas para prestar socorro em enchentes, apagar incêndios e tirar gatos de árvores, são na verdade uma corporação militar que faz parte da PM, um destacamento destinado a operações especiais do Estado burguês. Em tempos de ascenso, de muitas manifestações de massa, são invocados para a repressão com jatos d´água contra greves e manifestações de rua. Por sua especialização com explosivos, é dos bombeiros que saem as forças paramilitares da extrema-direita (como no atentado a bomba no show contra a ditadura militar que reuniu os melhores cantores brasileiros no primeiro de maio de 1981 no Riocentro). As mafiosas e criminosas milícias são compostas mais de bombeiros do que de PMs, como até a CPI das milícias concluiu. Os bombeiros são uma força auxiliar do BOPE, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e das Forças Armadas na invasão dos bairros proletários, como foi o caso da ocupação do Morro da Mangueira, na zona Norte do Rio, no último dia 19 de junho, para a ocupação do Morro pela 18a “Unidade de Polícia Pacificadora” (UPP). Uma angustiante lição para aqueles moradores da Mangueira que apoiaram o motim dos bombeiros, os quais correm o risco de dar de cara, arrombando a porta de seus casebres, com aqueles bombeiros que ontem, de forma ingênua, parabenizaram por sua "greve".

As correntes de esquerda que apoiam o motim desses policiais, por puro espontaneísmo sindicalista, apoiam compulsoriamente o aprimoramento da máquina assassina dos inimigos da classe trabalhadora. Por isto, a LC foi contra esta "greve", mas também não defende a prisão ou o processamento dos grevistas, medidas que também fortalecem a autoridade coercitiva do Estado capitalista.

LER E LBI DEFENDEM A REFORMA
DO APARATO REPRESSIVO

A LER, que foi contra o motim, se opôs sectariamente a chamar a libertação e o desprocessamento dos grevistas, reconhecendo tacitamente o direito repressivo de Cabral. Por sinal, embora posem de principistas, tanto a LER quanto a LBI declinam diante desta força policial, reivindicando a desmilitarização desta corporação. No auge de sua declamação de ortodoxia, a LER vacila “Apoiaríamos, se houvesse, um movimento dos bombeiros pela sua desmilitarização mas não um movimento que fortalece esta força que pode ser repressora e menos ainda por levar ao fortalecimento do conjunto das forças repressoras do Estado.” (Nenhum apoio ao repressor Sérgio Cabral nem ao motim dos bombeiros, site da LER, 5/06/2011).

A LBI, por sua vez, vende gato por lebre no “combate” às posições da LER e do PSTU e acompanha a ambos em sua enorme capitulação à própria manutenção deste aparato policial, pondo hierarquicamente a consigna socialdemocrata: “Pela desmilitarização do Corpo de Bombeiros!” (site da LBI, 06/06/2011) como a primeira, ou seja, como a mais importante no título de seu artigo sobre o motim bombeiro, seguindo os passos da corrente mãe, o PCO, que defende a democratização das PMs assim como a corrente revisionista-mor, o PSTU. Quem defende tais posições, não busca a destruição, mas a reforma do aparato repressivo.

Esta proposta é tão reacionária que até as organizações Globo e o patronato da indústria armamentista brasileira a defendem: “Para especialistas, a desmilitarização dos bombeiros - frequentemente associados a milícias - é uma necessidade urgente. Na opinião de todos os consultados pelo GLOBO, a rotina militar desvia o foco da atividade fim, além de comprometer a profissionalização e a autonomia... Até empresário de arma acha um "erro histórico". Tratar como urgentes a desmilitarização do Corpo de Bombeiros e o fim da autorização de porte de arma para seus integrantes é consenso. O advogado e oficial da reserva do Exército Fernando Humberto, presidente da Confederação Brasileira de Tiro e Caça do Brasil e empresário da indústria de armamento, afirmou que bombeiro militar e armado é um erro histórico que o país precisa corrigir: ‘- Defendo que todo cidadão brasileiro tenha o direito de possuir uma arma, mas considero um absurdo a militarização dos bombeiros. Eles deveriam ter só status civil, como acontece em outros países. Bombeiro também não precisa de arma, de andar armado. Precisamos corrigir já esse erro histórico.’” (O Globo, Repercussão: Especialistas defendem desmilitarização dos bombeiros, 18/06/2011)


Somos pela destruição dos bombeiros porque são uma polícia burguesa, por serem, repetindo mais uma vez os ensinamentos do velho Engels, um destacamento especial de homens armados do Estado capitalista, não simplesmente por serem militarizados. Aliás, a reivindicação da desmilitarização, neste caso, parte de concepções de reformas liberais-pacifistas do aparato repressivo do Estado capitalista, que nada têm a ver com o marxismo.

DESARMAMENTO E DISSOLUÇÃO DE TODAS AS TROPAS POLICIAIS E
AUXILIARES ESPECIAIS DE GUERRA DA BURGUESIA
CONTRA A POPULAÇÃO TRABALHADORA

Nós da LC, que reivindicamos o legado da luta revolucionária das Internacionais comunistas contra o aparato repressivo burguês, entendemos que, como demonstram as UPPs, as milícias, grupos de extermínio e desde as "operações
especiais" da ditadura militar, os bombeiros cumprem a função de “tropas especiais de guerra da burguesia” contra a população trabalhadora. Sendo assim, reivindicamos as formulações da III Internacional para a questão militar elaboradas por Iossif Stanislavovitch Unschlicht:

“Reivindicações a serem levantadas no domínio da organização das forças armadas:
(1) Dissolução das forças armadas mercenárias, tropas de quadros e comandos profissionais;
(2) Desarmamento e dissolução da polícia civil, da polícia militar e de outras tropas especiais de guerra da burguesia (...)”

Trabalho Militar Revolucionário entre as Forças Armadas da Burguesia,
Unszlicht, 1928. [1]

As milícias operárias revolucionárias que combaterão ao conjunto das polícias militarizadas e não militarizadas necessitarão ser militarizadas e hierarquizadas para poderem vencer o inimigo. Por sua vez, os bombeiros são militarizados no Brasil e não militarizados nos EUA, Japão e Austrália, e nem por isto deixam de ser uma força coadjuvante da repressão policial nestes países. Com esta política, jamais “revolucionários” do quilate de uma LER ou LBI poderiam realizar uma revolução, pois além dos bombeiros, estes pseudotrotskistas certamente deixariam então intacta a arqui-reacionária, corrupta e assassina polícia civil, que não faz parte da corporação da PM, não é militarizada, mas é parceira da PM em todas as atrocidades deste esquadrão patronal assassino contra a classe trabalhadora. Por tudo isto defendemos, nenhum apoio ao motim dos bombeiros, contra as medidas de Cabral de repressão a esse movimento, destruição de TODAS as polícias e substituição das mesmas por comitês sindicais e populares de auto-defesa e socorro mútuo da classe trabalhadora!

Nota:
[1] O presente texto em língua portuguesa foi traduzido a partir do idioma alemão conforme UNSCHLICHT, IOSSIF STANISLAVOVITCH. Die Arbeit unter den Streitkräften der Bourgeoisie (O Trabalho entre as Forças Armadas da Burguesia) (1928), in: A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(A Insurreição Armada. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. 149 e s.
Iossif Stanislavovitch Unschlicht foi um bolchevique da velha guarda e revolucionário profissional. Durante a Revolução Proletária de Outubro, Unschlicht tornou-se membro do Comitê Militar Revolucionário (CMR) do Soviete de Petrogrado – presidido por Pavel Lazimir –, órgão militar esse situado sob a presidência geral do Soviete Petrogrado, exercida por Léon D. Trotsky. Em janeiro de 1925, por ocasião da nomeação de Frunze como Comissário do Povo para a Guerra – em substituição a Léon Trotsky – e Presidente do Conselho Militar-Revolucionário da URSS, Unschlicht foi indicado para assumir o cargo de Vice-Presidente desses órgãos de direção militar do Estado Soviético, já em processo de crescente e irreversível burocratização.
Nesse posto, permaneceu até junho de 1930.
A seguir, alcançou a patente de General do Exército Vermelho e tornou-se coordenador da conexão mantida entre o Estado-Maior Geral desse exército e a Internacional Comunista (Komintern).
Após a morte de Felix Dzerjinky, ocorrida em 1926, foi nomeado, além disso, chefe da Polícia Política Soviética (Tcheca).

Por fim, sob as traiçoeiras acusações de “inimigo do povo” e “sabotador terrorista trotskysta”, formuladas por Stalin e seus asseclas, foi liquidado, em lugar e circunstâncias inteiramente desconhecidas, durante a “Depuração Stalinista” dos anos de 1936 a 1938, que aniquilou massivamente a vida de milhares de revolucionários bolcheviques, antigos companheiros indobráveis de luta de Lenin, Sverdlov e Trotsky. (Fonte: http://www.scientific-socialism.de/ArteUnschlicht1.htm)

Nenhum comentário:

Postar um comentário