domingo, 26 de setembro de 2021

Testamento de camarada * C. Sandino / Sudeste do Brasil

TESTAMENTO DE CAMARADA 


Camaradas, eu sou historiador de formação e ex-professor, e militante social há 43 anos. Já na adolescência me convenci de que a revolução proletária é o único caminho para a libertação da Humanidade e a vida só me reforçou esta convicção. Sim, o processo é bem mais demorado e complicado do que pensei quando era jovem.

Eu esperava que o mundo seguisse pra esquerda e foi o contrário. A primeira derrota maior foi quando a ditadura militar recuou sem ser derrubada em 1985 e o sistema se manteve. A segunda foi quando os setores mais moderados e eleitoreiros conseguiram hegemonizar a esquerda legal por mil manobras. A queda de boa parte do socialismo real em 1989-91 foi a terceira.

Isto desanimou e desmoralizou a maior parte dos revolucionários de minha geração e os empurrou prum reformismo cada vez mais chocho, que abriu novamente caminho a um exterminismo de características neofascistas. As perspectivas num sistema já em colapso irreversível não são boas.

No entanto, nada está perdido, porque a luta de classes é uma guerra mundial e secular. Dentro de nosso planeta, há enormes forças proletárias que sequer começaram a se mobilizar para resistir. Um dia, estas forças esmagarão o inimigo. Não porque saibam teoria, ou porque tenham vontade. Mas porque precisarão fazer isto ou seremos todos mortos por uma burguesia que, com sua nova tecnologia de produção e distribuição, não necessita mais de tantos braços para trabalhar e de tantas bocas para alimentar.

Quem lutar pode morrer, mas quem ficar quieto vai morrer com certeza. Então temos de abandonar toda ilusão de luta pacífica, eleitoral, etc. e focar na construção de uma vanguarda político-militar capaz de organizar a Resistência Proletária no planeta todo. Isto será um processo demorado e difícil, pois cem anos de contrarrevolução liquidaram muito do que foi feito antes. Mas não há outro caminho, mesmo que demore 50 anos pra fazer isso a partir das pequenas frações que restaram. 

As massas não nos escutam, se queixam muitos. Nunca escutaram, ou estaríamos no socialismo já em 1848. A ideologia burguesa sempre é hegemónica e segue sendo antes, durante e até um bom tempo depois de uma revolução. Como estas ocorrem, então, e justamente nos países mais atrasados, com povos mais pobres, ignorantes e reacionários, como mexicanos, russos, chineses, coreanos, vietnamitas, cubanos e outros? Justamente porque o inimigo torna a vida das pessoas tão impossível que uma hora a explosão vem, inevitavelmente, como as ondas do mar.

Os revolucionários não podem criar as ondas, só se preparar e posicionar e surfar nelas o melhor possível. E isto leva tempo e trabalho. Por isso o modelo marxista-leninista de organização segue válido. Nunca fomos a maioria nem precisamos ser. As massas começam lutando por coisas como paz, pão e terra, e quando veem, foram muito além do que pretendiam no começo, e não tem mais volta.

O que faz a diferença crucial é a existência de uma minoria bolchevique dura, experiente e bem liderada no momento da crise, para a direcionar corretamente. A burguesia sabe disso e por isso torna ilegal tudo o que realmente teme que façamos. Não se deve falar do quê na Internet, nunca. Mas os livros contando como foi feito no passado estão aí. E todo mundo pode se reunir em pequenos grupos e estudar e treinar e se aprimorar, pra um dia se unir a outros e poder fazer mais.

A ação direta não é pra agora, porque somos ainda vulneráveis demais. Mas haverá a sua hora e sua vez, pra quem tiver paciência. A guerra popular será bem prolongada, e estamos apenas nos primeiros passos de uma longa marcha. É melhor começar logo, então. 


C. SANDINO

em algum lugar do sudeste do Brasil


Um comentário:

  1. Bom dia... Achei meio confuso, além de simplório e messiânico. Tenho visto esse mesmo discurso do PCO, do PSTU e do PCB. Por um lado, um discurso quase derrotista como se nenhum movimento da classe trabalhadora tivesse valido a pena. Por outro, parece que se faz necessário ficar a espera de um grande levante popular e espontâneo para que "líderes bolcheviques" possam dirigir os trabalhadores rumo à revolução. De certa forma, dá a entender que não está acontecendo nada no momento atual, como se a luta de classes não fosse permanente. Desculpa pelo resumo, mas esse testamento aí é pano pra manga e requer muitas outras outras considerações, pois apesar da tentativa de abordar extremos o faz apenas na superfície e, talvez pelo caráter de "testemunho" está muito subjetivo, ou seja, centrado no sujeito.

    WILSON COELHO/ES

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