sábado, 31 de dezembro de 2022

DOSSIÊ URSS 100 ANOS * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros / PCTB

DOSSIÊ URSS 100 ANOS
100º ANIVERSÁRIO DA URSS
*
HINO DA URSS
LA URSS DE LÊNIN A STALIN

APRESENTAÇÃO

Cadernos de História 16
-# 124. Madri - 1985

Com este Caderno , o leitor tem em mãos uma perspectiva global dos problemas colocados na construção do que seus contemporâneos entendiam como .
o primeiro estado socialista da história.

A sociedade, que havia experimentado um
desenvolvimento relativamente rápido sob o sistema econômico e social imposto pelo czarismo, vê esse sistema devastado por uma revolução eminentemente popular, após o que terá que continuar no mesmo caminho da industrialização acelerada.

Pelo seu conteúdo fortemente subversivo da ordem social e económica vigente, a Revolução de Outubro abriu as portas às reivindicações e aspirações das massas.
que destruiu as formas anteriores de civilização industrial na Rússia. As guerras mundiais e civis (1914-1921), com as suas imensas consequências económicas, sociais e
culturais, impediram que o país retomasse as rédeas do desenvolvimento até 1927.

O período entre o fim da guerra civil e a revolta de Kronstadt e a vitória de Stálin na luta pela sucessão de Lênin constitui o tempo da consolidação do Estado soviético, da frustração de inúmeras expectativas.
revolucionários e o surgimento de um modelo político, o stalinismo, destinado a deixar
uma marca profunda na história do nosso século.

DOCUMENTÁRIO SPUTNIK
PALESTRA DO PARTIDO COMUNISTA DA FEDERAÇÃO RUSSA
Deputado Yury Aforin

“A história soviética é a história de sanções e bloqueios impostos contra nós pelo imperialismo ocidental, tentando nos sufocar econômica e tecnologicamente. Ou seja, a URSS viveu por 70 anos na situação em que nos encontramos hoje. Apesar de tudo isso, o período soviético foi de rápido desenvolvimento e grandes conquistas”, afirmou o primeiro vice-presidente do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa, Yuri V. Afonin , em discurso na sessão plenária da Duma Estatal, propondo que o 100º aniversário da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), no dia 30 deste mês, deveria se tornar um feriado nacional.

“A União Soviética é o lançamento do primeiro satélite, é o primeiro vôo tripulado ao espaço, é a primeira estação orbital, é a primeira usina nuclear, é o primeiro quebra-gelo nuclear, é a primeira vitória completa do mundo sobre a praga do desemprego, é a primeira jornada de trabalho de oito horas e a licença-maternidade, são as maiores conquistas da ciência e da educação gratuita. Todas essas conquistas marcaram tanto que a humanidade se lembrará delas 100, 200 e mil anos depois”, assinalou Afonin, dirigindo-se ao presidente do Parlamento Russo, Vyacheslav Volodin.

Em 30 de dezembro de 1922, aconteceu em Moscou o primeiro Congresso dos Soviets de toda a União. Neste Congresso fundou-se por proposta de Lênin e Stalin a união voluntária e livre formada pelos Estados dos povos soviéticos: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Faziam parte da URSS, no início, a República Socialista Federativa Soviética da Rússia (RSFSR), a República Socialista Federativa Soviética da Transcaucásia (RSFST), a República Socialista Soviética da Ucrânia, (USSU) e a República Socialista Soviética da Bielorússia (RSSB). Pouco tempo depois, se constituíram na Ásia Central três Repúblicas Soviéticas independentes dentro da União: as Repúblicas do Uzbequistão, Turcomenistão e Tadzikistão. Todas estas Repúblicas se agruparam na União dos Estados Soviéticos sobre a base de sua livre vontade, com direitos iguais, e conservando cada uma delas a faculdade de abandonar livremente a União Soviética.

“É hora de nos afastar do caminho liberal sem saída. Temos um trabalho duro pela frente. Devemos vencer a guerra desencadeada contra nós pelo bloco imperialista ocidental”, disse, apontando que “isso requer uma política socioeconômica completamente diferente. Aquela cujos contornos foram delineados em nosso país durante a rápida modernização leninista-stalinista do século XX, ajustada, é claro, à tecnologia do século XXI. Em primeiro lugar, é indispensável a nacionalização de indústrias-chave e o planejamento estratégico da economia”.

“Quando dois meses atrás, nós e vocês fizemos história aprovando a unificação de novas regiões com a Rússia, o presidente do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa, Gennady Andreyevich Zyuganov, disse que esta era uma festa com lágrimas nos olhos. Com lágrimas, porque os nazistas de Kiev continuam hoje a matar pessoas que se tornaram nossos cidadãos. Devemos enxugar essas lágrimas, proteger nossos novos compatriotas, restaurar as cidades e fábricas destruídas, dar um novo impulso ao desenvolvimento do país e avançar a passos largos. Só podemos fazer isso nos apoiando na experiência da grande União Soviética”, sublinhou o dirigente comunista.

“Caros colegas! Não é tarde demais para dar um significado nacional ao grande jubileu histórico”, afirmou Afonin, convocando a todo o Parlamento e a toda a mídia russa, especialmente à mídia estatal, para cobrir amplamente os eventos de comemoração do aniversário de fundação da URSS.

A seguir, a íntegra da intervenção na Duma do 1º vice-presidente do PC, Yuri Afonin

O 100º aniversário da URSS deveria ser feriado nacional

Caro Vyacheslav Viktorovich! [Volodin – Presidente da Duma]

A bancada do Partido Comunista da Federação Russa (KPRF) considera necessário chamar mais uma vez sua atenção para a aproximação do importante aniversário histórico – o centésimo da formação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Estamos profundamente convencidos de que, nas circunstâncias em que nosso país se encontra, não sobreviveremos sem o mais amplo uso possível da experiência histórica soviética.

A história do país dos Sovietes começou com a intervenção contra ele por uma dúzia e meia de estados estrangeiros. E a Segunda Guerra Mundial – a maior guerra da história da humanidade – também foi principalmente uma tentativa da Europa capitalista, unida sob o domínio dos fascistas alemães, de destruir a União Soviética. A história soviética é a história de sanções e bloqueios impostos contra nós pelo imperialismo ocidental, tentando nos sufocar econômica e tecnologicamente. Ou seja, a URSS viveu por 70 anos na situação em que nos encontramos hoje. Apesar de tudo isso, o período soviético foi de rápido desenvolvimento e grandes conquistas.

Ninguém nunca realizou um avanço econômico de tamanha magnitude na história mundial. Obviamente que, se não fosse pela trágica destruição da URSS, seríamos agora a economia mais forte do planeta. Hoje a China socialista pegou este bastão de avanço econômico.

Mas o que a União Soviética conseguiu fazer nos sustentou por décadas. A maioria das indústrias, fábricas e usinas de energia que operam hoje na Rússia foram construídas nos tempos soviéticos. A maioria dos campos de petróleo que usamos foram descobertos e desenvolvidos durante a era soviética. A maioria dos apartamentos em que nossos cidadãos vivem agora também foi construída pela URSS.

O segredo do milagre econômico soviético sem precedentes é o tema de um livro maravilhoso, O Cristal do Crescimento. Convidamos todos os deputados, todos os líderes de diferentes níveis a lê-lo.

Hoje, quando temos que lutar contra todo o bloco imperialista ocidental, somos salvos pelo complexo industrial de defesa e pelo escudo de mísseis nucleares criado nos tempos soviéticos. Digamos um grande “obrigado” aos líderes soviéticos por isso.

AVANÇO TECNOLÓGICO

A União Soviética é o lançamento do primeiro satélite, é o primeiro vôo tripulado ao espaço, é a primeira estação orbital, é a primeira usina nuclear, é o primeiro quebra-gelo nuclear, é a primeira vitória completa do mundo sobre a praga do desemprego, é a primeira jornada de trabalho de oito horas e a licença-maternidade, são as maiores conquistas da ciência e da educação gratuita. Todas essas conquistas marcaram tanto que a humanidade se lembrará delas 100, 200 e mil anos depois.

A era soviética é também a época de maior influência de nosso país no cenário mundial. Dezenas de países nos agradecem pela assistência prestada pela URSS. Mais de meio milhão de estudantes de 150 países foram treinados em universidades soviéticas e agora ocupam cargos muito proeminentes em sua terra natal. Atualmente, para usar este precioso recurso de política externa, devemos mostrar ao mundo que nos lembramos, respeitamos e apreciamos o período soviético em nossa história.

Consideramos que a celebração do 100º aniversário da URSS deve se tornar um assunto de toda a nação. No entanto, na grande mídia russa, o próximo aniversário histórico é mencionado com extrema raridade e superficialmente.

Um amplo leque de eventos para comemorar o 100º aniversário da União Soviética será realizado somente pelas forças patrióticas do povo lideradas pelo Partido Comunista da Federação Russa. Este ano celebramos o 100º aniversário dos Pioneiros. No verão, realizamos um fórum de grande escala da Amizade dos Povos no Tartaristão, do qual participaram delegações não apenas de todas as regiões da Rússia, mas também de muitos países pós-soviéticos. Expressamos nossa profunda gratidão à liderança da República do Tartaristão por sua ajuda na organização do evento. Neste fórum, mais uma vez demonstramos a experiência de empresas populares que preservam as tradições soviéticas e dão o exemplo da mais alta eficiência econômica e proteção social confiável dos trabalhadores.

Em todo o país, agora estamos realizando exposições, festivais de arte, concertos, competições criativas para crianças em idade escolar, torneios esportivos, corridas de automóveis e fóruns juvenis dedicados ao centésimo aniversário da URSS.

Consideramos especialmente significativo o trabalho de ampla divulgação da experiência social soviética, cujo uso generalizado agora se torna, sem exagero, uma condição para a sobrevivência do nosso país. Uma etapa importante neste trabalho foi o plenário de novembro do Comitê Central do Partido Comunista. Aconselho intensamente a todos que leiam o relatório deste Plenário do nosso líder Gennady Andreevich Zyuganov “A Experiência da Democracia Soviética e as Tarefas do Partido Comunista da Federação Russa na Luta pela Democracia Genuína, Progresso Social e Amizade dos Povos”.

EXPERIÊNCIA SOCIAL

A divulgação dos aspectos mais atuais da experiência social soviética será continuada em uma série de conferências científicas. A grande conferência científico-prática “URSS: passado e futuro?” será realizada na Universidade de Nizhny Novgorod. Outra grande conferência científica acontecerá no Novosibirsk Academgorodok, com base na Seção Siberiana da Academia Russa de Ciências. Conferências científicas e práticas e mesas redondas serão realizadas em dezenas de outras regiões do país. E em São Petersburgo, a cidade heroica de Leningrado, será realizada uma noite de gala de aniversário e uma conferência científica e prática internacional dedicada ao 100º aniversário da URSS.

O evento principal será em Moscou no Salão das Colunas da Casa dos Sindicatos, onde acontecerá uma grande reunião solene e um concerto. Convidamos às lideranças do país para este evento, do qual participarão figuras públicas e representantes dos estados socialistas amigos da Rússia. Convidamos você, Vyacheslav Viktorovich, líderes de facções e deputados a participar deste evento festivo.

Caros colegas! Não é tarde demais para dar um significado nacional ao grande jubileu histórico. Incentivamos você a participar ativamente desses eventos. Convocamos a toda a mídia russa, especialmente à mídia estatal, para cobrir amplamente esses eventos.

Nosso objetivo não é apenas homenagear nossa grande história, mas também cuidar do futuro. As circunstâncias históricas exigem imperiosamente que comecemos a aprender com a URSS.

Nos últimos 30 anos, a política socioeconômica na Rússia foi construída, em grande parte, de acordo com a “grande” doutrina de Milton Friedman – o monetarismo liberal. Como resultado, temos trilhões de dólares exportados da Rússia para o Ocidente, mas quase não temos nossa própria indústria de aeronaves civis, a indústria de máquinas-ferramenta e muito mais. Temos a maior concentração de riqueza entre os grandes países do mundo nas mãos dos que estão no topo: 1% da sociedade detém quase 60% da riqueza nacional. A quantidade de micro-empréstimos vencidos atingiu um nível recorde, superando até mesmo os piores meses da crise associada à pandemia. Dezenas de milhões de nossos cidadãos precisam da assistência urgente e eficaz do Estado.

“TRABALHO DURO PELA FRENTE“

É hora de nos afastar do caminho liberal sem saída. Temos um trabalho duro pela frente. Devemos vencer a guerra desencadeada contra nós pelo bloco imperialista ocidental. Precisamos aprender a viver e nos desenvolver sob as condições de sanções econômicas em grande escala, que, devemos entender isso claramente, nunca serão levantadas. Isso requer uma política socioeconômica completamente diferente. Aquela cujos contornos foram delineados em nosso país durante a rápida modernização leninista-stalinista do século XX, ajustada, é claro, à tecnologia do século XXI. Em primeiro lugar, é indispensável a nacionalização de indústrias-chave e o planejamento estratégico da economia.

E, claro, nas novas condições históricas precisamos, finalmente, de uma ideologia de Estado coerente. Para que nossos soldados entendam bem pelo que estão lutando. Não há necessidade de criar ilusões de que as ideologias de alguma forma desapareceram do mundo moderno. Assim você não vai a lugar nenhum. O presidente Putin falou repetidamente sobre como o Ocidente espalha sua hegemonia com a ajuda de ferramentas ideológicas. Estamos convencidos de que os principais fundamentos da ideologia da Rússia devem ser o patriotismo, a democracia e a justiça social. A ideologia da URSS se apoiava neles.

Quando dois meses atrás, nós e vocês fizemos história aprovando a unificação de novas regiões com a Rússia, o presidente do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa, Gennady Andreyevich Zyuganov, disse que esta era uma festa com lágrimas nos olhos. Com lágrimas, porque os nazistas de Kiev continuam hoje a matar pessoas que se tornaram nossos cidadãos. Devemos enxugar essas lágrimas, proteger nossos novos compatriotas, restaurar as cidades e fábricas destruídas, dar um novo impulso ao desenvolvimento do país e avançar a passos largos. Só podemos fazer isso nos apoiando na experiência da grande União Soviética.

URSS / JORGE FERREIRA
TROCA DE BANDEIRA
HINO DA URSS
O último desfile militar da história da URSS foi dedicado à Grande Revolução de Outubro. Em 7 de novembro de 1990.
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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

As sutilezas da retórica esquerdista anti-Rússia * Edward Curtin / The Intercept

As sutilezas da retórica esquerdista anti-Rússia
Edward Curtin
(Artigo publicado originalmente no The Intercept 13.05.2022)


Enquanto os chamados meios de comunicação corporativos liberais e conservadores – todos estenógrafos para as agências de inteligência – despejam a propaganda mais flagrante sobre a Rússia e a Ucrânia que é tão evidente que é cômica se não fosse tão perigosa, os auto-retratados conhecedores também ingerem mensagens mais sutis, muitas vezes da mídia alternativa.

Uma mulher que conheço e que conhece minhas análises sociológicas de propaganda entrou em contato comigo para me dizer que havia um excelente artigo sobre a guerra na Ucrânia no The Intercept , uma publicação on-line financiada pelo bilionário Pierre Omidyar . Relatórios enganosos em que a verdade é misturada com falsidades para transmitir uma narrativa “liberal” que apóia fundamentalmente as elites governantes enquanto parece se opor a elas. Isso, é claro, não é novidade, pois tem sido o modus operandi de todas as mídias corporativas em suas próprias formas ideológicas e dissimuladas, como The New York Times, CBS, Washington Post , New York Daily News, Fox News, CNN, NBC , etc. por muito tempo.

No entanto, por respeito ao seu julgamento e sabendo o quão profundamente ela sente por todas as pessoas que sofrem, eu li o artigo. Escrito por Alice Speri, seu título soava ambíguo – “ A esquerda na Europa confronta o ressurgimento da OTAN após a invasão da Ucrânia pela Rússia” – até que vi o subtítulo que começa com estas palavras: “A invasão brutal da Rússia complica…” Mas continuei lendo. No quarto parágrafo, ficou claro para onde este artigo estava indo. Speri escreve que “Na Ucrânia, em contraste [com o Iraque], foi a Rússia que encenou uma invasão ilegal e não provocada, e o apoio liderado pelos EUA à Ucrânia foi considerado por muitos como crucial para evitar atrocidades ainda piores do que aquelas cometidas pelos militares russos. Já havia cometido”. [minha ênfase]

Embora ostensivamente sobre ativistas europeus anti-guerra e anti-OTAN pegos no meio de um dilema, o artigo prossegue afirmando que, embora os EUA/OTAN tenham sido culpados de expansão injusta por muitos anos, a Rússia tem sido um agressor na Ucrânia e na Geórgia e é culpado de terríveis crimes de guerra, etc.

Não há uma palavra sobre o golpe planejado pelos EUA em 2014, os mercenários apoiados pela CIA e o Pentágono na Ucrânia, ou seu apoio ao batalhão neonazista Azov e aos anos de ataques da Ucrânia ao Donbass, onde muitos milhares foram mortos. Presume-se que essas ações não sejam criminosas ou provocativas. E tem isso:

A resposta incerta dos ativistas da paz na Europa é um reflexo de uma invasão brutal e não provocada que surpreendeu o mundo e de um movimento antiguerra que se tornou menor e mais marginalizado ao longo dos anos. A esquerda na Europa e nos EUA tem lutado para responder a uma onda de apoio à Ucrânia que está em conflito com um esforço de décadas para desembaraçar a Europa de uma aliança militar liderada pelos EUA. [minha ênfase]

Em outras palavras, o artigo, expresso em retórica anti-guerra, era propaganda anti-Rússia. Quando contei minha análise a minha amiga, ela se recusou a discuti-la e ficou com raiva de mim, como se eu fosse um defensor da guerra. Descobri que essa é uma resposta comum.

Isso me fez pensar novamente sobre por que as pessoas muitas vezes não percebem as inverdades contidas em artigos que são, em muitas partes, verdadeiros e precisos. Percebo isso constantemente. Eles são como pequenas sementes colocadas como se ninguém fosse notar; eles trabalham sua magia quase inconscientemente. Poucos os notam, pois muitas vezes são imperceptíveis. Mas eles têm seus efeitos e são cumulativos e são muito mais poderosos ao longo do tempo do que declarações flagrantes que afastam as pessoas, especialmente aquelas que pensam que a propaganda não funciona com elas. Este é o poder da propaganda bem-sucedida, seja intencional ou não. Funciona particularmente bem em pessoas “intelectuais” e altamente escolarizadas.

Por exemplo, em uma recente entrevista impressa , Noam Chomsky, depois de ser apresentado como um Galileu, Newton e Descartes modernos reunidos em um só, fala sobre propaganda, sua história, Edward Bernays, Walter Lippman, etc. e informativo para quem não conhece esta história. Ele fala com sabedoria da propaganda da mídia dos EUA sobre sua guerra não provocada contra o Iraque e chama com precisão a guerra na Ucrânia de “provocada”. E então, a respeito da guerra na Ucrânia, ele solta esta declaração surpreendente:

Não acho que existam 'mentiras significativas' nas reportagens de guerra. A mídia dos EUA geralmente está fazendo um trabalho altamente meritório ao relatar os crimes russos na Ucrânia. Isso é valioso, assim como é valioso que as investigações internacionais estejam em andamento em preparação para possíveis julgamentos de crimes de guerra.

Em um piscar de olhos, Chomsky diz algo tão incrivelmente falso que, a menos que alguém pense nele como um Galileu moderno, o que muitos fazem, pode passar como verdade e você passará suavemente para o próximo parágrafo. No entanto, é uma afirmação tão falsa que chega a ser risível. A propaganda da mídia sobre os eventos na Ucrânia tem sido tão flagrantemente falsa e ridícula que um leitor cuidadoso irá parar de repente e pensar: ele acabou de dizer isso?

Então, agora Chomsky vê a mídia, como o The New York Times e seus semelhantes, que ele castigou corretamente por fazer propaganda para os EUA no Iraque e no Timor Leste, para usar dois exemplos, está fazendo “um trabalho altamente meritório ao relatar crimes russos em Ucrânia”, como se de repente eles não fossem mais porta-vozes da desinformação da CIA e dos EUA. E ele diz isso quando estamos no meio da maior blitz de propaganda desde a Primeira Guerra Mundial, com sua censura, Conselho de Governança da Desinformação, desplataforma de dissidentes etc.

Ainda mais astuta é sua afirmação casual de que a mídia está fazendo um bom trabalho relatando os crimes de guerra da Rússia depois que ele disse isso sobre propaganda:

Assim continua. Particularmente nas sociedades mais livres, onde os meios de violência do Estado foram constrangidos pelo ativismo popular, é de grande importância conceber métodos de fabricação de consentimento e garantir que eles sejam internalizados, tornando-se tão invisíveis quanto o ar que respiramos, particularmente em articular círculos educados. A imposição de mitos de guerra é uma característica regular desses empreendimentos.

Isso é simplesmente magistral. Explique o que a propaganda tem de melhor e como você se opõe a ela e, em seguida, coloque um pouco dela em sua análise. E enquanto ele está nisso, Chomsky faz questão de elogiar Chris Hedges, um de seus seguidores, que recentemente escreveu um artigo – The Age of Self-Delusion – que também contém pontos válidos apelando para aqueles cansados ​​de guerras, mas que também contém as seguintes palavras:

O revanchismo de Putin iguala -se ao nosso.

A desorganização, inaptidão e baixo moral dos conscritos do exército russo, junto com as repetidas falhas de inteligência do alto comando russo, aparentemente convencido de que a Rússia derrubaria a Ucrânia em poucos dias, expõe a mentira de que a Rússia é uma ameaça global.

"O urso russo efetivamente se protegeu", escreve o historiador Andrew Bacevich.

Mas esta não é uma verdade que os fabricantes de guerra transmitem ao público. A Rússia deve ser inflada para se tornar uma ameaça global, apesar de nove semanas de humilhantes fracassos militares. [minha ênfase]

O revanchismo da Rússia? Onde? Revanchismo? Que território perdido os EUA já travaram uma guerra para recuperar? Iraque, Síria, Cuba, Vietnã, Iugoslávia, etc.? A história dos EUA não é uma história de revanchismo, mas de conquista imperial, de tomada ou controle de território, enquanto a guerra da Rússia na Ucrânia é claramente um ato de autodefesa após anos de provocações e ameaças dos EUA/NATO/Ucrânia, que Hedges reconhece. “Nove semanas de fracassos militares humilhantes”? – quando controlam uma grande parte do leste e sul da Ucrânia, incluindo o Donbass. Mas sua falsa mensagem é sutilmente tecida, como a de Chomsky, em sentenças que são verdadeiras.

“Mas esta não é uma verdade que os fabricantes de guerra transmitem ao público.” Não, é exatamente o que os porta-vozes da mídia para os fabricantes de guerra - ou seja, The New York Times (ex-empregador de Hedges, que ele nunca deixa de mencionar e para quem cobriu a destruição selvagem da Iugoslávia pelo governo Clinton), CNN , Fox News, The Washington Post , New York Post , etc. divulgam ao público todos os dias para seus mestres. Manchetes que dizem como a Rússia, embora supostamente cometendo crimes de guerra diários, está falhando em seus objetivos de guerra e que o herói mítico Zelensky está levando os ucranianos à vitória. Palavras no sentido de que “O urso russo efetivamente se desarmou” apresentadas como fato.

Sim, eles inflaram o mito do monstro russo, apenas para então perfurá-lo com o mito de Davi derrotando Golias.

Mas estando no negócio de jogos mentais (consistência demais leva à clareza e entrega o jogo), pode-se esperar que eles misturem suas mensagens continuamente para servir à agenda dos EUA na Ucrânia e à expansão da OTAN na guerra não declarada com Rússia, pela qual o povo ucraniano será sacrificado.

Orwell chamou isso de “duplo pensamento”:

Duplipensar está no cerne do Ingsoc, uma vez que o ato essencial do Partido é usar o engano consciente, mantendo a firmeza de propósito que acompanha a total honestidade. inconveniente, e depois, quando se torna novamente necessário, retirá-la do esquecimento pelo tempo que for necessário, negar a existência da realidade objetiva e, ao mesmo tempo, levar em conta a realidade que se nega - tudo isso é indispensavelmente necessário….com a mentira sempre um passo à frente da verdade.

Revelando ao mesmo tempo em que esconde e interpõe tiros inoculadores de inverdades que só chamarão atenção superficial de seus leitores, os escritores mencionados aqui e outros têm grande apelo para a intelectualidade de esquerda. Para as pessoas que basicamente adoram aqueles que imbuíram de infalibilidade e genialidade, é muito difícil ler todas as frases com cuidado e sentir o cheiro de um gambá. O subterfúgio costuma ser muito hábil e apela ao senso de indignação dos leitores com o que aconteceu no passado – por exemplo, as mentiras do governo George W. Bush sobre armas de destruição em massa no Iraque.

Chomsky, é claro, é o líder do bando, e seus seguidores são uma legião, incluindo Hedges. Durante décadas, eles evitaram ou apoiaram as versões oficiais dos assassinatos de JFK e RFK, os ataques de 11 de setembro de 2001 que levaram diretamente à guerra contra o terror e a tantas guerras de agressão, e a recente propaganda do Covid-19 com seus bloqueios devastadores e repressão às liberdades civis. Eles estão longe de serem amnésicos históricos, é claro, mas obviamente consideram esses eventos fundamentais sem importância, pois de outra forma eles os teriam abordado. Se você espera que eles expliquem, você vai esperar muito tempo.


Quase toda a intelectualidade de esquerda permaneceu psiquicamente paralisada em março de 2020. Seus membros aplaudiram a nova repressão de biossegurança e caluniaram como mentirosos, vigaristas e fascistas todos e quaisquer que discordassem. Normalmente, eles o faziam sem nem mesmo envolver evidências e enquanto evitavam o debate público. Entre os mais visíveis nisso está Noam Chomsky, o autodenominado anarco-sindicalista que pediu aos não vacinados que “se retirassem da sociedade” e sugeriu que deveriam passar fome se se recusassem a se submeter.

A crítica de Parenti à resposta da esquerda (não apenas de Chomsky e Hedges) à Covid também se aplica aos eventos fundamentais mencionados acima, que levanta questões mais profundas sobre a penetração da CIA e da NSA na mídia em geral, um assunto além do escopo desta análise.

Para aqueles, como a mulher liberal que me indicou o artigo do The Intercept , que sem dúvida diria sobre o que escrevi aqui: Por que você está implicando com os esquerdistas? minha resposta é bem simples.

A direita e os neocons são óbvios em suas agendas perniciosas; nada está realmente oculto; portanto, eles podem e devem ser combatidos. Mas muitos esquerdistas servem a dois senhores e são muito mais sutis. Ostensivamente do lado das pessoas comuns e opostos ao imperialismo e às predações das elites em casa e no exterior, eles costumam ser trapaceiros de uma retórica sedutora que seus seguidores não percebem. Retórica que indiretamente alimenta as guerras às quais eles dizem se opor.

Cheirar gambás não é tão óbvio quanto parece. Sendo noturnos, eles surgem quando a maioria está dormindo.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

A NOVA BIBLIA DO TIO SAM * Pierre Bourdieu - Loïc Wacquant / Le Mond Diplomatique

A NOVA BIBLIA DO TIO SAM
Pierre Bourdieu - Loïc Wacquant

Os efeitos da nova vulgata são tão poderosos e perniciosos que ela é veiculada não apenas pelos partidários do neoliberalismo, mas por produtores culturais e militantes de esquerda que, em sua maioria, ainda se consideram progressistas.

Em todos os países avançados, patrões, altos funcionários internacionais, intelectuais de projeção na mídia e jornalistas de primeiro escalão, se puseram de acordo em falar uma estranha “novlangue [1]” cujo vocabulário, aparentemente sem origem, está em todas as bocas: “globalização”, “flexibilidade”; “governabilidade” e “empregabilidade”; “underclass”e “exclusão”; “nova economia” e “tolerância zero”; “comunitarismo [2]”, “multiculturalismo” e seus primos “pós-modernos”, “etnicidade”, “minoridade”, “identidade”, “fragmentação” etc.

A difusão dessa nova vulgata planetária — da qual estão notavelmente ausentes capitalismo, classe, exploração, dominação, desigualdade, e tantos vocábulos decisivamente revogados sob o pretexto de obsolescência ou de presumida impertinência — é produto de um imperialismo apropriadamente simbólico: seus efeitos são tão mais poderosos e perniciosos porque ele é veiculado não apenas pelos partidários da revolução neoliberal — que, sob a capa da “modernização”, entende reconstruir o mundo fazendo tábula rasa das conquistas sociais e econômicas resultantes de cem anos de lutas sociais, descritas, a partir dos novos tempos, como arcaísmos e obstáculos à nova ordem nascente, — porém também por produtores culturais (pesquisadores, escritores, artistas) e militantes de esquerda que, em sua maioria, ainda se consideram progressistas.

Imperialismo cultural

Como as dominações de gênero e etnia, o imperialismo cultural é uma violência simbólica que se apóia numa relação de comunicação coercitiva para extorquir a submissão e cuja particularidade consiste, nesse caso, no fato de universalizar particularismos vinculados a uma experiência histórica singular, ao fazer com que sejam desconhecidos, enquanto tal, e reconhecidos como universais. [3]

Assim, também no século XIX muitas questões ditas filosóficas que eram debatidas em toda a Europa, como o tema spengleriano da “decadência”, originavam-se de particularidades e conflitos históricos próprios do universo específico dos universitários alemães, [4] da mesma forma que hoje, inúmeros tópicos provenientes de confrontos intelectuais ligados a particularidades e particularismos da sociedade e das universidades norte-americanas se impuseram, aparentemente fora de um contexto histórico, ao conjunto do planeta.

Definições e deduções

Esses lugares-comuns, no sentido aristotélico de noções ou teses que servem de argumento porém sobre as quais não se argumenta, devem o essencial de sua força de convicção ao prestígio do seu ponto de partida e ao fato de que, ao circularem continuamente de Berlim a Buenos Aires e de Londres a Lisboa, estão presentes simultaneamente em toda parte e são potentemente transmitidos por essas instâncias supostamente neutras do pensamento neutro que são os grandes organismos internacionais. Instâncias como o Banco Mundial, a Comissão Européia, a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos (OCDE), enfim, os “bancos de idéias” do pensamento conservador (o Manhattan Institute, em Nova York, o Adam Smith Institute,em Londres, a ex-Fondation Saint-Simon, em Paris, a Deutsche Bank Fundation, em Frankfurt), as fundações de filantropia, as escolas do poder (Science-Politique, na França, a London School of Economics, na Inglaterra, a Harvard Kennedy School of Government, nos Estados Unidos etc) e os grandes meios de comunicação, divulgadores infatigáveis dessa língua geral, sem fronteiras, perfeita para dar a ilusão de ultra-modernismo aos editorialistas apressados e especialistas ciosos da importação-exportação cultural.

Além do efeito automático da circulação internacional de idéias que, por sua própria lógica, tende a ocultar as condições e os significados originais, [5] o jogo das definições prévias e deduções escolásticas substitui a contingência das necessidades sociológicas negadas pela aparência da necessidade lógica e tende a ocultar as raízes históricas de todo um conjunto de questões e de noções: a “eficácia” do mercado (livre), a necessidade de reconhecimento das “identidades” (culturais), ou ainda a reafirmação-celebração da “responsabilidade” (individual), que serão decretadas filosóficas, sociológicas, econômicas ou políticas, segundo o lugar e o momento de recepção.

A mitologia do “sonho americano”

Planetarizados, globalizados, no sentido estritamente geográfico, e ao mesmo tempo desparticularizados, esses lugares-comuns, ao serem ruminados pelos meios de comunicação transformam-se num senso comum universal, fazendo esquecer que, na maioria das vezes, eles apenas exprimem — de forma truncada e irreconhecível, até por aqueles que os propagam — realidades complexas e contestadas de uma sociedade histórica particular, tacitamente constituída em modelo e em medida de todas as coisas: a sociedade norte-americana da era pós-fordista e pós- keynesiana. Esse único super-poder, essa Meca simbólica da Terra, caracteriza-se pelo desmantelamento deliberado do Estado social e pelo hipercrescimento correlativo do Estado penal, o esmagamento do movimento sindical e a ditadura da concepção de empresa fundada apenas no “valor-acionário”, assim como em suas conseqüências sociológicas: a generalização dos salários precários e da insegurança social, transformada em motor privilegiado da atividade econômica.

É o que ocorre, por exemplo, com o debate vago e fraco em torno do “multiculturalismo”, termo importado, na Europa, para designar o pluralismo cultural na esfera cívica, enquanto nos Estados Unidos se refere, no interior do próprio movimento pelo qual ele os mascara, à exclusão contínua dos negros e à mitologia nacional do “sonho americano” da “oportunidade para todos”, correlativa da falência que afeta o sistema do ensino público num momento em que a competição pelo capital cultural se intensifica e quando as desigualdades de classe crescem vertiginosamente.

O desengajamento do Estado

O adjetivo “multicultural” encobre essa crise ao confiná-la, artificialmente, apenas no microcosmo universitário e ao expressá-la num registro ostensivamente “étnico”, quando seu verdadeiro desafio não é o reconhecimento das culturas marginalizadas pelos cânones acadêmicos, mas o acesso aos instrumentos de (re)produção das classes médias e superiores, como a universidade, num contexto de desengajamento ativo e massivo do Estado.

O “multiculturalismo” americano não é nem um conceito nem uma teoria, nem um movimento social ou político — ainda que pretenda ser tudo isso ao mesmo tempo. É um discurso-tela cujo estatuto intelectual resulta de um gigantesco efeito de allodoxia nacional e internacional [6] que engana tanto aqueles que estão nele como os que não estão. Além do que é um discurso norte-americano, embora pense e se apresente como universal, ao exprimir as contradições específicas da situação de universitários que, alijados de qualquer acesso à esfera pública e submetidos a uma forte diferenciação em seu meio profissional, não têm outro terreno onde investir sua libido política exceto o das disputas de campus disfarçadas em epopéias conceituais.

As delícias do “reconhecimento cultural”

O que significa que o “multiculturalismo” leva consigo para onde é exportado três vícios do pensamento nacional norte-americano que são, (a) o “grupismo”, que reifica as divisões sociais, canonizadas pela burocracia estatal, em princípios de conhecimento e de reivindicação política; (b) o populismo, que toma o lugar da análise das estruturas e dos mecanismos de dominação pela celebração da cultura dos dominados e de seu “ponto de vista” — alçado a nível de proto-teoria em ato; (c) o moralismo, que é obstáculo à aplicação de um materialismo racional sadio na análise do mundo social e econômico e nos condena a um debate sem efeito nem fim sobre o necessário “reconhecimento das identidades” enquanto, na triste realidade do cotidiano, o problema não se situa de forma alguma nesse nível. [7] Enquanto os filósofos se deliciam doutamente com o “reconhecimento cultural”, dezenas de milhares de crianças de classes e etnias dominadas são excluídas das escolas primárias por falta de vagas (eram 25.000 só este ano, na cidade de Los Angeles), e um jovem em dez provenientes de famílias que ganham menos de 15.000 dólares anuais tem acesso aos campi universitários, contra 94% das crianças de famílias que dispõem de mais de 100 000 dólares.

Poder-se-ia fazer a mesma demonstração a propósito da noção fortemente polissêmica de “globalização”, que tem como efeito, se não como função, vestir de ecumenismo cultural ou de fatalismo economista os efeitos do imperialismo norte-americano e de fazer aparecer uma relação de força transnacional como uma necessidade natural. Ao término de um retorno simbólico baseado na naturalização dos esquemas do pensamento neoliberal cuja dominação se impõe há vinte anos graças ao trabalho dos think tanks (bancos de idéias) conservadores e de seus aliados nos campos político e jornalístico, [8] a remodelagem das relações sociais e das práticas culturais conforme o padrão norte-americano, imposta às sociedades avançadas através da pauperização do Estado, mercantilização dos bens públicos e generalização da insegurança salarial, é aceita com resignação como resultado obrigatório das evoluções nacionais, quando não é celebrada com entusiasmo de carneirinhos. A análise empírica da evolução das economias avançadas de longa duração sugere no entanto que a “globalização” não é uma nova fase do capitalismo, mas uma “retórica” invocada pelos governos para justificar sua submissão voluntária aos mercados financeiros. A desindustrialização, o crescimento das desigualdades e a contradição das políticas sociais, longe de serem a conseqüência fatal do crescimento das trocas externas, como sempre se diz, resultam de decisões de política interna que refletem a mudança das relações de classe em favor dos proprietários do capital. [9]

A reformatação do mundo

Ao imporem ao resto do mundo categorias de percepção homólogas às suas estruturas sociais, os Estados Unidos reformatam o mundo à sua imagem: a colonização mental operada através da difusão desses verdadeiros-falsos conceitos só pode conduzir a uma espécie de “Consenso de Washington” generalizado, e até espontâneo, como se pode observar correntemente em matéria de economia, de filantropia ou de ensino de gestão (leia o artigo de Ibrahim Warde nesta edição). Efetivamente, esse discurso duplo fundamentado na crença que imita a ciência, sobrepondo ao fantasma social do dominante a aparência da razão (especialmente econômica e politológica), é dotado do poder de realizar realidades que pretende descrever segundo o princípio da profecia auto-realizadora: presente nos espíritos daqueles que tomam decisões políticas ou econômicas e de seus públicos, ele serve de instrumento de construção de políticas públicas e privadas, ao mesmo tempo que é instrumento de avaliação dessas políticas. Como todas as mitologias da idade da ciência, a nova vulgata planetária apóia-se numa série de oposições e equivalências, que se sustentam e contrapõem, para descrever as transformações contemporâneas das sociedades avançadas: desengajamento econômico do Estado e ênfase em seus componentes policiais e penais, desregulação dos fluxos financeiros e desorganização do mercado de trabalho, redução das proteções sociais e celebração moralizadora da “responsabilidade individual”:

|MERCADO | ESTADO |
|liberdade | coerção|
|aberto | fechado |
|flexível | rígido |
|dinâmico, móvel | imóvel, paralisado|
|futuro, novidade | passado, ultrapassado|
|crescimento | imobilismo, arcaísmo |
|indivíduo, individualismo | grupo, coletivismo |
|diversidade, autenticidade | uniformidade, artificialidade |
|democrático | autocrático (“totalitário”)|

O imperialismo da razão neoliberal encontra sua realização intelectual em duas novas figuras exemplares da produção cultural. Primeiramente o especialista que prepara, na sombra dos bastidores ministeriais ou patronais ou no segredo dos think tanks (bancos de idéias), documentos de forte cunho técnico, e tanto quanto possível construídos em linguagem econômica e matemática. Em seguida, o conselheiro em comunicação do príncipe, trânsfuga do mundo universitário agora a serviço dos dominantes, cujo serviço é dar forma acadêmica aos projetos políticos da nova nobreza de Estado e da empresa. O modelo planetário e inconteste é o sociólogo britânico Anthony Giddens, professor da Universidade de Cambridge, agora à testa da London School of Economics e pai da “teoria da estruturação”, síntese escolástica de diversas tradições sociológicas e filosóficas.

Um cavalo de Tróia de duas cabeças

E pode-se perceber a encarnação por excelência do estratagema da razão imperialista no fato de que é a Grã-Bretanha, posta por razões históricas, culturais e lingüísticas em posição intermediária, neutra, entre os Estados Unidos e a Europa continental, que fornece ao mundo esse cavalo de Tróia de duas cabeças — uma política e a outra intelectual — na pessoa dual de Anthony Blair e Anthony Giddens, “teórico” autoproclamado da “terceira via”, que, segundo suas próprias palavras, que são citadas textualmente, “adoto uma atitude positiva em relação à globalização”; “tento [sic] reagir às novas formas de desigualdades”; porém logo adverte que “os pobres de hoje não são semelhantes aos de outrora, (…) assim como os ricos não se parecem mais com o que eram antigamente”; “aceito a idéia de que os sistemas de proteção social existentes, e a estrutura do conjunto do Estado, são a fonte dos problemas, e não apenas a solução para resolvê-los”; “enfatizo o fato que as políticas econômicas e sociais estão relacionadas” para afirmar melhor que “as despesas sociais devem ser avaliadas em termos de suas conseqüências para a economia em seu conjunto”; e, finalmente, “preocupo-me com os mecanismos de exclusão” que descobre “na base da sociedade, mas também no topo [sic]”, convencido que “redefinir a desigualdade em relação à exclusão nesses dois níveis” é “conforme a uma concepção dinâmica da desigualdade”. [10] Os mestres da economia podem dormir tranqüilos: eles encontraram seu Pangloss. [

[1] Este termo não existe em português. Os franceses utilizam novlangue para os termos que desconsideram o vocalulário corrente e produzem termos que tornam hermética a compreensão do fenômeno relatado. Isso se dá na esfera política e filosófica.

[2] Comunitarismo é um conceito teorizado por Charles Taylor, Michael Walzer, Alasdair McIntyre. Valoriza a comunidade como um bem em si, assim como a igualdade e a liberdade, sendo o espaço no qual os indivíduos podem se exprimir, partilhar valores. Seus críticos vêem nesse conceito a teorização dos guetos.

[3] É bom deixar claro de saída não detêm o monopólio na pretensão ao universal. Vários outros países — a França, a Grã-Bretanha, a Alemanha, a Espanha, o Japão, a Rússia — exerceram, ou tentam ainda exercer, em seus círculos de influência, formas de imperialismo cultural bastante semelhantes. A grande diferença é que, pela primeira vez na história, um único país encontra-se em posição de impor o seu ponto de vista ao mundo inteiro.

[4] Cf. Fritz Ringer, The Decline of the Mandarins, ed. Cambridge University Press, Cambridge, 1969.

[5] Ler, de Pierre Bourdieu, “Les conditions sociales de la circulation internationale des idées”, Romanistische Zeitschrift für Literaturgeschichte, 14 -1/2, Heidelberg, 1990, p. 1-10.

[6] Allodoxia: o fato de tomar uma coisa por outra.

[7] Assim como a globalização das trocas materiais e simbólicas, a diversidade das culturas não data do século atual, já que ela é co-extensiva à história da humanidade, como já haviam observado Émile Dürkheim e Marcel Mauss em sua “Note sur la notion de civilisation” (Année sociologique nº 12, 1913, p. 46-50, III vol., Éditions de Minuit, Paris, 1968).

[8] Ler, de Keith Dixon, Les Évangelistes du marché, Raisons d’agir Éditions, Paris, 1998.

[9] Com relação à “globalização” como “projeto norte-americano” visando a impor o conceito de “valor-acionário” da empresa, ler, de Neil Fligstein, “Rhétorique et realités de la “mondialisation”, Actes de la recherche en sciences sociales, Paris, nº 119, setembro de 1997, p. 36-47.

[10] Estes trechos foram retirados do catálogo de definições escolares de suas teorias e opiniões políticas que Anthony Giddens propôs ao programa “FAQs (Frequently Asked Questions)”, em seu site na Internet.

[11] N. de. T.: Personagem do livro Candide ou l’optimisme, de Voltaire, filósofo que provava que tudo tem uma finalidade, que é necessariamente a melhor das finalidades. Seu refrão era: tudo é o melhor, no melhor dos mundos possíveis.

FONTE

DOSSIÊ CAMACHO * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros / PCTB

DOSSIÊ CAMACHO


SANTOS INOCENTES, CAIU O VERDUGO DO POVO BOLIVIANO"

Relato: Israel Santos

Santa Cruz - Bolívia


Teríamos que tomar em conta o fato de que hoje é dia de santos inocentes, e se faz brincadeiras (pegadinhas) como o 1ro de abril no Brasil. Por que faço ênfase neste fato, é que começa a circular na mídia pegadinhas de todo tipo até que começou a circular a detenção de Luis Fernando Camacho e muitos pensaram e atribuíram às pegadinhas pensando que fosse mentira, assim  não deu tempo de reagir aos seus correligionários e afins ao Camacho! E o operativo da Polícia pode se dizer que foi um sucesso por não ter tido a necessidade de enfrentamentos com a gente da direita em Santa Cruz! Isso ocorreu próximo ao meio dia no início da tarde depois de uma suposta reunião de gestão com seus su governadores na zona norte de Santa Cruz próximo a sua residência, lugar estratégico para poder levá-lo ao aeroporto com destino à cidade de  La Paz, no aeroporto houve um enfrentamento com aqueles que se supõe são seus guarda costas de Camacho e são facilmente reduzidos, até esse momento ainda parecia uma pegadinha de mau gosto para os membros da direita em Santa Cruz, até que os jornais digitais confirmam a veracidade do fato.


Aí começam a reagir indo em busca do seu caudilho até o aeroporto de Viru Viru, em vão esforço, pois o detido já estava às 14:29 a bordo de um helicóptero super puma do exército rumo a enfrentar a lei!


Agora a direita no comité cívico expressão rância do fascismo na Bolívia, estão totalmente aturdidos pois é a segunda derrota política em tão curto espaço de  tempo, puderam retirar ele a plena luz do dia, sem a necessidade de enfrentamentos com grupos radicais neofascistas, a cidade está em caos absoluto pois se sente violados em seu próprio quintal, iniciaram ações de represália contra o Estado e membros do MAS-IPSP , houve até agora toma física de dois dos aeroportos na cidade, queimaram as oficinas centrais da fiscalía de distrito, as instalações da Polícia departamental, vários pontos de bloqueio, brigas nas filas dos postos de gasolina, filas enormes pelos combustíveis.


Na cidade de La Paz também houve manifestações só que desta vez a favor da detenção, pois aí reside uma boa parte das vítimas do golpe de estado 2.019.

Os fatos ainda estão em pleno acontecimento! 


Mais novidades nas próximas horas.

TRABALHADORES PAGARAM O LOOCKOUT DE CAMACHO


O governador não tem mais o pai para acertar com os militares


Parafraseando o título do romance: "Há não há ninguém para escrever ao coronel", publicado pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez, também poderíamos dizer que é a situação que Luis F. Camacho está vivendo no momento, depois de mais de três anos atrás, ele disse que: "seu pai providenciou para que os militares não saíssem".


Aquela declaração que para além de ser a confissão da prática do crime de sedição e outros classificados como atentado contra a segurança do Estado, e fundamentos daquilo que hoje é intimado a depor, foi também a denúncia que fez contra o seu próprio pai sobre a comissão deste crime por seu pai.


Depois dessa confissão de que por sua própria vontade reconheceram a autoria do crime indicado, e até hoje nada lhes aconteceu, pelo que pai e filho respondem pelos seus actos.


Mais de três anos se passaram desde aquela época e até hoje Luis Camacho, junto com seu pai, tornaram-se cidadãos excepcionais perante a lei, pois não só não responderam por seus atos -especialmente o governador- como também atribuíram novamente os direitos das pessoas; como ocorreu com a decisão tomada há mais de um mês, quando a população de Santa Cruz foi submetida a uma greve cívica obrigatória, que resultou em danos como: a morte de pessoas, dezenas de feridos e prejuízos econômicos de 1.200 milhões de dólares. $nós; enquanto, cinicamente, o governador Camacho e os demais dirigentes do Comitê Interinstitucional não paravam de arrecadar seus suculentos salários.


Concluída a medida, Camacho e todos os membros do Comitê Interinstitucional não tardaram em declarar triunfalmente que a medida era uma vitória, tentando encobrir o que havia sido um fracasso, pois o objetivo, que era realizar a Censo, não foi alcançado em 2023.


Mas não só que se declararam vencedores do que foi claramente uma derrota; Em vez disso, Luus Camacho desafiou o governo a não responder à justiça pelo caso Golpe l de 2019, instando-os a ir prendê-lo em Santa Cruz. 


Dito e feito, bem, é o que acaba de acontecer com Camacho, que em uma operação de um grupo de elite da Polícia -ele também não tem mais o matador Mamani para acompanhá-lo como em 2019- acaba de ser preso para responder por esses atos criminosos cometidos há três anos.


Certamente é como diz aquele velho ditado: "A justiça demora, mas chega", e mesmo que o tempo passe, esses fatos não são esquecidos; embora aqueles que em algum momento "arranjaram" para serem protegidos pelos policiais golpistas; Hoje não têm nem pai para tirar os cílios do fogo.


Rolando Prudencio Briancon

Advogado 

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Camacho não foi preso por vingança, foi preso porque "o povo não esquece que foi derramado sangue durante o golpe".


&

RELATÓRIO CRIMES DE CAMACHO 28 12 22

DECLARAÇÃO

A Red Contato Sur oferece seu apoio ao Governo boliviano nas ações judiciais contra pessoas que atentaram contra a vida de bolivianos que lutavam pela democracia.
Como meio de comunicação internacional, solicitamos fornecer todas as garantias constitucionais para que o devido processo seja enquadrado nas leis do Estado Plurinacional da Bolívia e seja punido com a pena mais alta que a justiça aplicar Ruben Suarez Diretor RedContactoSur

ARGUMENTÁRIO.

Os simpatizantes de Camacho e seus associados insistem que sua detenção é "política" e "ilegal", tentando ignorar que o primeiro é um dos principais réus do caso Golpe de Estado I, motivo pelo qual foi preso hoje, 28 de dezembro de 2022. Mas, qual foi o impacto das violações dos direitos humanos do golpe de 2019 que levou Luis Fernando Camacho e outros atores (Golpe I Caso)? O relatório do Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes (GIEI) da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) estabeleceu que durante este golpe foram cometidas graves violações dos direitos humanos na Bolívia, onde pelo menos 38 pessoas perderam a vida, centenas ficaram feridas e milhares presos e reprimidos. Luis Fernando Camacho é um dos seus principais dirigentes.

• O relatório da organização internacional lembra que em 8 de novembro, policiais de Cochabamba, reunidos na Unidade Tática de Operações Policiais (UTOP), iniciaram um motim, com múltiplas demandas, que incluía a renúncia do presidente Evo Morales Ayma. O candidato presidencial da oposição, Luis Fernando Camacho, publicou mensagens triunfantes por ocasião do levante e, algum tempo depois, revelou que junto com seu pai havia negociado o motim com a polícia.

A reportagem indica que em 10 de novembro, após a notícia da renúncia de Evo Morales, os líderes oposicionistas Luis Fernando Camacho e Marco Antonio Pumari transmitiram mensagens de forte teor religioso. Entraram no Palácio do Governo com a carta de renúncia, a bandeira da Bolívia e a Bíblia, que foram colocadas no chão e de joelhos agradeceram a Deus. Um pastor evangélico, seguidor de Camacho, declarou: “a Bíblia voltou ao Palácio do Governo; a Pachamama nunca mais voltará; hoje Cristo volta ao Palácio do Governo; A Bolívia é para Cristo”.

Luis Fernando Camacho foi protagonista central do golpe de 2019

Nesse mesmo dia, Luis Fernando Camacho postou esta mensagem nas redes sociais:

“Deus voltou ao palácio e 15 minutos depois começaram as renúncias de todos os criminosos deste país! Bolivianos! Amanhã abrimos processo contra senadores, deputados, ministros, vice-ministros e todos aqueles que humilharam nosso povo... não é ódio nem vingança, é justiça! Deus abençoe a Bolívia! Deus abençoe nossa juventude!

" o relatório de peritos independentes

1. O relatório do GIEI estabeleceu que, entre 1º de setembro e 31 de dezembro de 2019, massacres, torturas, perseguições, detenções ilegais, atos de racismo e graves violações dos direitos humanos foram perpetrados na Bolívia.

2. Pelo menos 38 pessoas perderam a vida devido aos massacres e atos de violência em várias partes do país, e centenas sofreram ferimentos graves, tanto físicos como psicológicos.

3. Verificou-se que houve execuções sumárias nos massacres de Sacaba, Senkata e El Pedregal.

4. A Polícia e as Forças Armadas, isoladamente ou em operações conjuntas, utilizaram força excessiva e desproporcional, não prevenindo adequadamente os atos de violência; deixaram os cidadãos desprotegidos e não cumpriram seu papel constitucional.

5. O Decreto 4.078 foi promulgado para isentar de responsabilidade criminal o pessoal das Forças Armadas.

6. Grupos de choque (RJC e UJC) praticaram atos de violência e ataques a pessoas e bens públicos e privados diante da passividade deliberada da Polícia. Eles assumiram tarefas de “parapoliciais” durante o motim policial.

7. A polícia e as Forças Armadas praticaram condutas que contribuíram para o aumento da violência e violação dos direitos humanos. A Polícia não foi capaz de salvaguardar o pleno exercício do direito de protesto nem cumpriu adequadamente o seu dever de prevenir actos de violência, garantir a segurança das pessoas e a ordem pública.

8. Motivos políticos foram evidentes nas ações policiais.

9. No quadro do aprofundamento da polarização social e política, apelou-se à identidade étnica como critério que indicava a pertença ou não à sociedade boliviana.

10. As adesões políticas foram perigosamente racializadas e em momentos importantes tentaram ser utilizadas como fator de exclusão dos espaços institucionais.

11. A violência racista perpetrada contra os povos indígenas, inclusive contra as mulheres indígenas, especialmente agredidas naquele momento, deve ser reconhecida e os responsáveis ​​punidos.

12. Foram constatados atos de tortura e abusos psicológicos e racistas cometidos por policiais contra detentos, em sua maioria jovens e indígenas.

13. Algumas apreensões indicam discriminação racial, com a humilhação dos detentos por suas características fenotípicas associadas à origem indígena.

14. Os atos de discriminação racial manifestaram-se em maior medida nas ações conjuntas de militares e policiais. A repressão e o uso de linguagem racista e anti-indígena foram direcionados exclusivamente contra a população mobilizada, em sua maioria indígena, trabalhadora e camponesa, como ocorreu em Betanzos, Yapacaní, Montero, Sacaba e Senkata. De fato, a grande maioria das pessoas feridas, mortas ou detidas desde 10 de novembro pertencia a esse segmento da população.

15. O uso da Bíblia e da religião durante as reuniões dos comitês cívicos desempenhou um papel importante para justificar a causa divina de seu movimento contra Evo Morales e promover uma ideia anti-indigenista.

16. Constatou-se tratamento discriminatório nos serviços de atendimento médico a vários feridos por arma de fogo que vinham receber socorro e muitos optaram por não recorrer a hospitais e centros públicos.

17. Foram violados os direitos dos jornalistas identificados como “filiados” ao governo deposto, acusados ​​de serem “masistas”.

18. O massacre de Senkata, com 10 mortos e 78 tiros, foi justificado pelo governo de fato com a versão de que os manifestantes pretendiam incendiar a usina de gás de El Alto. A investigação mostrou que nenhuma evidência foi encontrada para apoiar essa teoria, nenhum material explosivo foi encontrado na área e as estruturas sensíveis da usina não foram ameaçadas pelos protestos.

19. O direito à presunção de inocência foi sistematicamente violado, pessoas foram detidas, processadas e encarceradas por postarem nas redes sociais, por ajudarem outras pessoas, por prestarem assistência médica, por suas roupas, aparência ou traços faciais.

20. Foram verificados casos de violência sexual e de violência baseada no género, as mulheres detidas foram sujeitas a apalpações de carácter sexual e humilhações por parte de agentes da polícia, foram obrigadas a despir-se e foram brutalmente espancadas. A violência obstétrica também foi identificada.

Ministério Público inicia investigação do caso Golpe de Estado I

Depois de algum tempo, o Ministério Público iniciou as investigações sobre o caso de um golpe de Estado I, no qual a então presidente de fato, Jeanine Áñez, membros do então Alto Comando das Forças Armadas e da Polícia boliviana estavam envolvidos pelos crimes de terrorismo e conspiração. A eles se juntam cerca de 15 políticos da direita neoliberal, dirigentes da Igreja Católica, representantes da União Europeia e de países como o Brasil que convocaram reuniões e assumiram a representação de quem sabe para montar supostas “mesas de diálogo” mas planejou o golpe.

Entre os ex-chefes militares investigados está o ex-comandante das Forças Armadas William Kaliman, os ex-chefes militares Flavio Arce, Carlos Orellana, Jorge Fernández, Jorge Terceros, Jorge Mendieta e Palmiro Jarjury. Eles se juntam ao ex-comandante da polícia Yuri Calderón.

O Ministério Público investiga os políticos neoliberais que planejaram e tramaram o golpe nas reuniões realizadas nos dias 10, 11 e 12 de novembro de 2019 na Universidade Católica Boliviana (UCB). Participaram do encontro políticos de direita: Jorge Tuto Quiroga, Carlos Mesa, Samuel Doria Medina, Óscar Ortiz, Ricardo Paz, Roberto Moscoso, Luis Vásquez Villamor, Giovana Jordán, Juan Carlos Núñez, Jerjes Justiniano León de la Torre (embaixador da União Européia) e Carmelo Angulo (ex-embaixador representando a Espanha na auditoria da OEA). Rolando Villena e Eugenio Scarpellini, ambos já falecidos, também faziam parte da trama.

O ex-presidente de fato, os então chefes militares e policiais estão sendo processados ​​neste caso pelos crimes de terrorismo e formação de quadrilha derivados do golpe de estado de novembro de 2019. Neste caso, o governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, também está sendo investigado, e seu pai José Luis, e outros.


FONTE
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