terça-feira, 11 de outubro de 2022

NOVOS RUMOS DO PROGRESSISMO * ERNESTO BENAVIDES / Observatório dos Trabalhadores-VE

NOVOS RUMOS DO PROGRESSISMO
A ENTREGA DO PT E A ASCENSÃO DO BOLSONARISMO: SOBRE AS ELEIÇÕES NO BRASIL. 

ERNESTO BENAVIDES


...devemos aprofundar a análise social da política brasileira e retornar a uma posição de classe nacional muito distante das últimas tendências progressistas promovidas pelo establishment democrata norte-americano e pela comunidade europeia. Já vimos a agonia disso no Chile e na Argentina.

Ao contrário do que previam as principais pesquisas de opinião no Brasil, as eleições gerais deram resultados que questionam a forma como a política é feita de esquerda no vasto país sul-americano. Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores (PT) não conseguiram a tão esperada vitória presidencial no primeiro turno (com 48,4% dos votos), o que se traduz em uma próxima batalha eleitoral que acontecerá no dia 30 de outubro pela presidência e posições-chave em todo o país.

Por sua vez, Jair Bolsonaro e o Partido Liberal (PL) obtiveram 43,2% dos votos na eleição presidencial, uma distância de apenas cinco pontos de Lula. O PL mostrou sua força no sufrágio ao Congresso, alcançando as maiores bancadas com 14 das 81 cadeiras no Senado, e na Câmara dos Deputados, com 99 das 513. Um hipotético futuro governo Lula pode estar em dificuldades com a maioria dos conservadores - representação parlamentar inclinada. Não surpreendentemente, Bolsonaro disse que “essa era nossa maior prioridade neste primeiro momento”.

De tal forma que a estratégia do bolsonarismo parecia estar atrelada às forças legislativas (em um país marcado pelo lawfare na última década) em primeiro lugar, para alcançar a maior concentração de votos no turno presidencial diante de um segundo e definitivo rondam e dominam o cenário político com uma narrativa conservadora que representa boa parte dos anseios sociais no Brasil.

Olhando o mapa dos resultados, percebe-se que o atual presidente domina o que em sociologia é chamado de "Brasil profundo" do centro-sul, macrorregião que agora parece ser a antagonista do imenso nordeste, dominado em os votos de Lula e do pet. Ou seja, não há homologação na identidade política do “interior” brasileiro, historicamente desprezado das grandes cidades, como tem ocorrido em outras disputas eleitorais.

Mapa eleitoral das eleições brasileiras: em vermelho, a favor de Lula; em azul, a favor de Bolsonaro (Foto: Arquivo)

Isso não significa que Lula não seja o favorito para vencer a segunda, mas mostra que a polarização cresceu ao longo dos anos e que as estratégias políticas e eleitorais do PT não deram os resultados esperados. Revela-se o tipo de campanha realizada pela esquerda lulista, reflexo do que o partido é hoje em sua composição orgânica e programação.

EXAME DE PT MÍNIMO

Seja do ponto de vista comunicacional, estratégico ou meramente propositivo, os erros de identificação política com o eleitorado petista cobraram seu preço no primeiro turno e nas eleições legislativas e governamentais. Como exemplo claro, a profusão de artistas como eixo da campanha eleitoral acima das expectativas e representações do povo trabalhador e do povo é um termômetro do desenvolvimento político do lulismo, distinção que o afetou, como da O próprio Silva, que admite: «Vou visitar mais regiões. E meu conselho é: a partir de amanhã haverá menos conversa entre nós e mais conversa com os eleitores.

Ao contrário, a campanha de Lula carecia de fibra emocional e era, segundo o sociólogo Rudá Ricci, " extremamente racional e profissional ". Nesse sentido, replicou muito do que havia sido praticado nas eleições de 2018 com Fernando Haddad na disputa, que foi adiantado sete pontos nesta eleição para governador de São Paulo pelo candidato do PL, Tarcísio Gomes Freitas, em um estado caracterizado por sendo o mais rico do país. O Partido Liberal conquistou a maioria no Congresso e se manteve próximo dos votos de Lula no primeiro turno eleitoral brasileiro (Foto: AFP)

A repetição de personalidades políticas que não unem o voto das maiorias empobrecidas do Brasil, como Haddad, foi um erro de cálculo que o PT fez e com o qual terá que insistir pelo segundo turno nas regiões onde ainda tem chance de vencer, vencer a partida contra o bolsonarismo.

Mas, além disso, há o fato fundamental de que organizações populares, movimentos sociais, ONGs e redes de esquerda, relacionadas a Lula e representantes progressistas, perderam seu poder de formulação e mobilização tradicional em outras décadas. Partidos e organizações de esquerda têm progressivamente perdido seus canais de comunicação com sua base social. Isso se reflete no que foi dito sobre a campanha, que mostra uma ruptura existencial no PT.

E O BOLSONARISMO

De repente, o movimento político liderado por Bolsonaro foi ratificado em uma trilha de votos e representações políticas em diferentes instâncias de poder. Uma extrema direita que tem como líder o ainda atual presidente, mas que já se consolidava além dele, pelo menos em práticas sociais como o evangelismo, que está em ascensão há décadas no Brasil, e uma certa cultura política conservadora.

Com o esfriamento das relações entre os partidos de esquerda e a luta por direitos fundamentais no país sul-americano, o sucesso individual e a proteção de certas comunidades e identidades sociais no espectro político têm precedência: é aí que o bolsonarismo pretende marcar, ser nuclear para si mesmo as ditas vontades ou implodi-las com objetivos partidários.

Um fator chave no apoio ao PL tem sido o crescimento econômico relatado , apesar da fome generalizada, neste ano de 2022, após uma gestão desastrosa da pandemia de covid pela atual administração. A inflação diminuiu em relação aos últimos dois anos, assim como o desemprego. O Brasil continua sendo o maior produtor de carne do mundo e o quarto maior produtor de cereais.

O vértice internacional também tem favorecido o atual grupo do Brasil sob a presidência de Bolsonaro nos últimos tempos. Sua posição diante das mudanças tectônicas na ordem geopolítica tem sido favorável ao multipolarismo promovido pelos BRICS e outras instâncias lideradas por China e Rússia, em claro antagonismo com o declínio imperial da unipolaridade norte-americana.

De qualquer forma, o PL funciona com base no forte movimento conservador que existe no Brasil e mostra que tem maior poder de mobilização e projeção política do que anos atrás, quando Bolsonaro assumiu as rédeas do Palácio do Planalto.

Além disso, promove o cenário político como uma arena de gladiadores em que o candidato à reeleição enfrenta Lula pessoalmente, e isso é um ganho para uma direita que não quer ver cristalizado o retorno do PT ao poder, buscando a desmobilização suas bases programáticas e dando vazão à sua própria tendência política. Não surpreendentemente, Bolsonaro transferiu o voto de seu ex-Partido Social Liberal para o PL sob essa estratégia. É uma cultura política em ascensão, e ainda estamos tentando entender as implicações disso para o futuro.

Lula deve receber o apoio da terceira colocada no primeiro turno, Simone Tebet, com 4% dos votos, e de Ciro Gomes, com 3%, em sua maioria. Lula não terá escolha a não ser se aproximar do centro agora para formar maiores alianças e dar uma guinada rápida à identidade política, se não quiser sofrer um revés que seria difícil para a esquerda e os progressistas assimilarem não apenas no Brasil, mas também na região. Sul-americana

Para isso, é necessário aprofundar a análise social da política brasileira e retornar a uma posição de classe nacional muito distante das últimas tendências progressistas promovidas pelo establishment democrático americano e pela comunidade europeia. 
Já vimos a agonia disso no Chile e na Argentina.

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