segunda-feira, 20 de março de 2023

O GRANDE PAÍS LATINO-AMERICANO E A DOUTRINA MONROE NO SÉCULO XXI * Orlando Castillo / VE

O GRANDE PAÍS LATINO-AMERICANO
E A DOUTRINA MONROE NO SÉCULO XXI

Tópicos para discussão

Orlando Castillo / VE

No sábado, 4 de fevereiro deste ano, por meio de uma conferência Facebook Live, a Central Continental dos Trabalhadores em Educação (CTE) e o Congresso dos Movimentos Sociais de Nossa América, realizaram o Fórum Virtual Internacional "200 anos da Doutrina Monroe a luta pela Independência continua" com a participação de lideranças sociais do Peru, Chile, Bolívia, Honduras, Guatemala, Haiti, Venezuela, México e Panamá. Fui convidado para um evento tão interessante como palestrante da Venezuela através do compatriota Professor Orlando Pérez, Presidente da referida Central e Presidente do Sindicato Nacional da Força Unida de Docentes (SINAFUM).

É um assunto que exige reflexão e debate, porque apesar do tempo decorrido, a luta necessária e fundamental pela soberania nacional continua contra todas as adversidades. Nada melhor do que dar uma olhada nesses duzentos anos de assédio imperial gringo através de nosso crivo histórico americano no marco da terceira década do agitado século XXI. Para isso, é fundamental entender que estamos diante de um novo rearranjo do modelo capitalista neoliberal cuja crise estrutural é de uma amplitude e profundidade nunca vistas até hoje.

Portanto, diante de nossos olhos está ocorrendo a reorganização estratégica do planeta e entre marchas e contramarchas avançamos para a grande mudança geopolítica global que consiste na inclusão da multipolaridade na atual realidade global que é cada vez menos unipolar. Esta nova situação força o até então indiscutível hegemon norte-americano a entrar em um novo relacionamento para reequilibrar o poder com potências emergentes como Índia, Rússia e China. Soma-se a isso a presença da pandemia de COVID-19 desde 2020, que mudou as condições de vida e trabalho da população mundial. Soma-se a isso o impacto devastador da crise climática e ambiental que atinge o planeta. Para completar esta trilogia trágica:

Diante de um panorama planetário tão complicado, para onde o preocupado hegemon gringo volta seu olhar? Sem dúvida para a América Latina, daí a relevância de situar a Doutrina Matusalém Monroe no quadro político mundial deste século.

Para ilustrar o que foi dito, me referirei a dois fatos político-sociais que mostram que a narrativa monroísta, além de sua apresentação pública em 1823, constitui uma história que expressa primeiro o poder colonialista e depois o imperialista. Essa narrativa se relaciona com outro relato fundamental da ideologia da dominação ianque que está intrinsecamente relacionado a outro texto da visão e concepção supremacista: é aquele que se baseia na condição de excepcionalidade e predestinação quase divina da elite fundadora norte-americana ou Pais Fundadores da nação americana para então dirigir seu próprio país para o continente americano ("América para os americanos") e daqui para o resto do mundo como expressão de um "destino manifesto".


Por exemplo, um botão: um fato sócio-cultural altamente simbólico é a grande escultura do Monte Rushmore em Dakota do Sul nos EUA. Ali, na fachada de uma montanha de granito, podem ser vistas as quatro faces (cada uma com vinte metros de altura) dos seguintes personagens: George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln, que resumem os primeiros cento e cinquenta anos da história. Os dois primeiros, considerados como "Pais Fundadores" da nação do norte e co-editores de sua primeira Constituição, ricos proprietários de terras, proprietários das melhores terras agrícolas e proprietários de escravos. O terceiro, Roosevelt, foi um defensor e promotor de guerras de dominação e intervenção no Panamá, Santo Domingo e Cuba e ironicamente premiado com o Prêmio Nobel da Paz em 1906; ou seja, esse presidente e invasor gringo se despachou e deu a volta por cima brandindo em uma das mãos a Doutrina Monroe e na outra o Destino Manifesto, apoiado pelas canhoneiras e pelo exército invasor do norte que desde então faziam da América do Sul seu autodenominado pátio traseira.

Hoje, depois de dois séculos, de acordo com o último relatório da Comissão de Segurança dos Estados Unidos, o nosso continente americano é uma "reserva geopolítica estratégica" da hegemonia ianque maltratada, mas sempre briguenta. Estamos falando, então, da estreita relação de ambas as construções político-ideológicas da elite norte-americana que marcam seu pensamento e correspondente prática supremacista na ideia central de que "a América é para os americanos" ou seja, segundo eles, para o Norte americanos. Tal abordagem insolente teve respostas insurgentes ao longo de nossa heróica façanha da Independência, desde os tempos da luta de nosso Libertador Simón Bolívar que, tanto no Manifesto de Angostura como no Congresso Anfictiônico do Panamá, estabeleceu claramente a condição de região sul-americana livre e soberana, não vinculada ou sujeita a qualquer ingerência estrangeira. As nossas lutas pela independência desde então têm sido profundamente marcadas pelo significado e conteúdo de pátrias independentes e soberanas, razão pela qual neste século XXI e face à história opressiva e supremacista da Doutrina Monroe com o seu alter-ego Destino Manifesto, o prevalece a ideia.-força da união, da nossa independência americana. Daí a importância estratégica da ALBA, CELAC e UNASUL. Trata-se da férrea unidade de longo prazo dos povos e territórios de nossos americanos, conscientes hoje mais do que nunca do real valor da unidade como grande Estado-nação soberano de povos, convivência, histórias, lutas e desejos comuns.

CONTRA A ENGANAÇÃO E A AGRESSÃO DO MONROÍSMO NORTE-AMERICANO, DEFENDAMOS COM VITAL PAIXÃO A HISTÓRIA E A AÇÃO UNIFICADORA DO GRANDE PAÍS LATINO-AMERICANO!

CONTRA A DIVISÃO E FRATURA DA NOSSA IDENTIDADE NACIONAL, SÓLIDA UNIDADE E LUTA DO NOSSO POVO AMERICANO!

AMÉRICA LATINA, RAÇA CÓSMICA, TERRA DE PAZ, DE HOMENS E MULHERES LIVRES CONSTRUINDO NOSSO SOCIALISMO AMERICANO, SEM RESTÁGIO NEM CÓPIA, CRIAÇÃO HERÓICA!

*Orlando Castillo - Constituinte do Setor Operário. Membro do Conselho Consultivo do CBST-CCP.

Caracas, 20 de fevereiro de 2023

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