segunda-feira, 17 de julho de 2023

O PROBLEMA DA REVOLUÇÃO * CENTRO DE ESTUDOS MARXISTAS/CEM

O PROBLEMA DA REVOLUÇÃO

CENTRO DE ESTUDOS MARXISTAS
CEM

“Decifra-me ou te devoro” o enigma da esfinge, que reaparece diante dos trabalhadores em cada nova conjuntura, lançando sobre si a necessidade de descobrir e (re)desvelar o mundo e - se estes tiverem coragem suficiente- tomar este mesmo mundo.

Porém, ao desvelar o mundo e se deparar com a hipótese do comunismo e todas as suas consequências conceituais e o conhecimento dos mecanismo de poder (Super e ifraestruturas), a necessidade histórica do socialismo, etc. Se chega ao problema, como será uma revolução brasileira (enquanto estratégia) e qual caminho para conquistá la.

Este texto visa, sem citar diretamente as organizações, desvelar algumas destas concepções, elencando-as de maneira sintética:

A crise comunista

Parte basilar das estratégias para revolução socialista no Brasil é a tese sobre a crise do comunismo, desencadeada com a queda da URSS, a análise da natureza da crise trará de certa forma uma resposta incutida para pensar a ação prática dos revolucionários.

A crise da ideia comunista (crise objetiva)

Este pensamento acerca da crise comunista e socialista pensa que, de certa forma, o mundo se transformou, e as ideias também. A sociedade industrial esta se desfazendo, assim como as grandes narrativas do séc XX. Outra corrente, pensa que a realidade nacional e internacional ainda não se encontra madura o suficiente para o socialismo.

Com um pé no pragmatismo e outro no pós modernismo afirma que a própria ideia de comunismo foi ultrapassada pela história, superada pela mesma e que talvez nem mesmo tenha sido benéfica e é impossível. Outros pensam que devemos desenvolver o capitalismo, que só assim podemos ter condições ao socialismo.

Defende, portanto, uma miríade de soluções, desde a impossibilidade de uma idéia totalizante até utopias do “local x global” em uma perspectiva de revolução sem revolução. Há também aqueles que pensam em gerir o capitalismo para desenvolve-lo, para ai sim, pensar na ideia de socialismo e comunismo.

A crise da teoria (crise interna)

Esta segunda perspectiva, geralmente inspirada nos comunistas da Ásia, caracteriza que a crise comunista é uma crise no campo das ideias e da teoria.

argumentam que no interior dos partidos comunistas, em toda parte, existiu uma revisão da teoria marxista, transformando-a em outra coisa. Esta revisão (o revisionismo) é a responsável pela ação equivocada dos comunistas, ou seja, da dificuldade da revolução e da crise.

Defende, portanto, uma “ortodoxia” teórica, limitando à um grupo de autores e experiências socialistas a verdadeira análise e transformando em inimigos práticos quaisquer partidos comunistas e socialistas que sofram deste mal revisionista.

A crise de direção (crise subjetiva)

Esta tese é bastante famosa no Brasil e tem um fundamento relativamente simples: A crise do movimento comunista internacional nada mais é que uma grande, duradoura e tortuosa crise de direção, que os dirigentes e intelectuais são traidores dos trabalhadores e fabricadores de derrotas.

Pensam que a partir de certo momento histórico o movimento comunista foi tomado não só por idéias equivocadas, nacionalistas e fratricidas no interior da classe como também por indivíduos tão perversos quanto estas ideias. Que, pela sua natureza asfixiam movimento comunista em uma esfera antidemocrática e anti revolucionária.

Defendem, assim, a formação de um partido internacional, sob sua própria direção, superando a crise de direções e portanto a própria crise comunista.

A crise de organização (crise da vanguarda)

Esta última, mais recente historicamente, nasceu em geral da queda dos países comunistas e fim dos partidos comunistas nacionais, defendem que a crise comunista se espelha e se assemelha a crise da própria classe trabalhadora em luta, sua vanguarda.

Apresentam que, conforme os ataques do imperialismo e do capital em todo o mundo, ganharam terreno na luta de classe sendo nacional ou internacionalmente em todo mundo e desmantelaram a força de mobilização da classe e suas entidades e organizações, também o fizeram com os comunistas, e que isso funda uma crise geral de organização da classe e dos comunistas.

Defendem, em cada país a sua forma, a reconstrução do partido revolucionário nacional e de fóruns de discussão e articulação internacional dos comunistas, defendendo a história dos partidos nacionais e das experiências socialistas, sejam as ainda de pé, sejam as do passado.

Da crise comunista à revolução

Os defensores da Crise Objetiva, ainda se arriscam em falar de revolução, ou em transformações profundas. Há entre estes “revolucionários” algumas concepções em atividade:

Estratégia Democrático popular: Inicialmente inspirada na experiência da Hungria, acredita que uma combinação entre força eleitoral e movimento popular mobilizado seriam capazes de fazer reformas estruturais no capitalismo, tirando diversos de seus elementos prejudiciais. Consagrada, após o fim da ditadura, como estratégia hegemônica dos trabalhadores, tem seu ápice nos anos 2000 em todo continente sulamenricano, faz um amplo processo de transfiguração até a adesão ao livre mercado neoliberal e se colocar como fator conciliatório entre os movimentos e o estado, apassivando o primeiro e um sindicalismo dócil, tirando os sindicatos do centro da vida política. e pouca antes do fim da última década perde o poder do estado Burguês após sucessivos golpes políticos e o abandono do horizonte socialista, apesar de ainda ser a ideologia dominante entre a esquerda brasileira.

Revolução democrático Nacional: Outra tese de revolução sem revolução se sustenta em na ideia de que o Brasil não está pronto para uma revolução proletária pois necessita desenvolver as forças produtivas e ao mesmo tempo fazer as tarefas de uma revolução nacional burguesa, em atraso como: Reforma agrária, abertura democrática, etc. A ideia destes “revolucionários” é que fortalecendo as instituições burguesas e fazendo um certo número de mudanças que se prepara o terreno para a revolução.

Já os partidários da Crise interna, em geral se associam à uma visão mais combativa, no sentido do enfrentamento militar, suas perspectivas “puras” , “ortodoxas” e livres de revisionismo caem em linhas gerais na concepção que:

O cercamento do campo sobre a cidade: Inspirada na primeira fase da revolução Chinesa, defende que o capitalismo ainda não “se completou” no campo brasileiro, guardando majoritariamente relações “semi-feudais” (do latifúndio à servidão). Sendo este o local de maior opressão e exploração e o cerne da economia nacional, caberia organizar o campesinato em grupos armados pela retomada da terra e destes desestabilizar o poder e tomar o poder nas cidades. Desta forma a mediação eleitoral é descartável, inclusive se torna importante desiludir o povo com qualquer mediação estatal e convencê-lo ao voto nulo.

Já os que identificam a crise subjetiva vêm nas lideranças dos movimentos o grande problema anti revolucionário, pois estes não levam suas tarefas até o final, de certa maneira defendem duas linhas gerais:

Rebelião Popular : em geral pensam que a classe trabalhadora pode, sem lideranças e sua vanguarda, explodir contra os poderes instituídos devido a sua situação de exploração, em grandes rebeliões. Defendem que com a crise de direção nestes momentos os revolucionários devem estar preparados e com campos de influência tal que, se trabalharem corretamente, saltarão como liderança do movimento- elevando junto de si a consciência da população - tese do salto de consciência.

Rebelião Popular (induzida): Possuem teses muito próximas do anterior, mas acreditam que podem induzir a rebelião se apoiando em figuras nacionais mobilizadores (em geral anti-imperialistas) que não necessariamente coadunam com sua linha política, mas tem potencial de mobilizar o povo - tal linha ocorreu com Perón na Argentina e Lula no Brasil. Após disparada a rebelião, caberia ao partido revolucionário tomar a frente do processo e tomar o poder.

Por fim, a mais recente e que carece de um pouco mais de explicação a tese de crise de organização, a reconstrução do partido revolucionário caminha em conjunto com a reorganização da classe trabalhadora que se encontra hoje atomizada e enfraquecida diante da nova “forma” na produção, esta necessidade de reorganizar a classe, reeducá-la e (re)viver experiências de poder e de sua tomada, desta forma a revolução levam a cabo a linha do:

O Poder Popular: A tese é que os trabalhadores devem constituir um duplo poder paralelo ao do Estado e da burguesia- em diversos germes territoriais pelo país de democracia direta e auto educação da classe. Parte do princípio que a economia brasileira está madura para o socialismo e com uma população altamente urbanizada e um campo com relações plenamente capitalistas, por isso os trabalhadores podem e devem construir seu Bloco Histórico (o conjunto de organizações da classe e seus partidos) em polos unitários de luta, para fazer a contra ofensiva proletária de caráter antiimperialista e anticapitalista. Estes dois poderes (o burguês e o proletário) co-existiriam até o esgarçamento-conflito e o momento dos trabalhadores derrubarem o poder burguês em sua totalidade.

Conclusão ou Post Scriptum

O autor do livro PC na linha Leste - Antonio Carlos Felix Nunes - termina seu livro ironizando o debate estratégico entre o Partidão e seu racha de 1962, como algo sem importância diante do movimento geral e se gaba de, à época, estar fundando um novo partido, bem a Estratégia Democrátioco Popular fez água, a revolução também não veio e devemos, quem sabe, trata-la com maior seriedade. Este breve compêndio das principais teses da revolução brasileira vêm para apresentar aos novos militantes uma visão sintética de em que pé que o debate está hoje.

FONTE
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