segunda-feira, 14 de agosto de 2023

PETRO É DE ESQUERDA? * DIEGO OTERO PRADA/Col

PETRO É DE ESQUERDA?
A realidade supera a fantasia
DIEGO OTERO PRADA/Col

A oposição de direita afirma que o governo de Gustavo Petro é comunista e os seguidores do presidente, que ele é de esquerda.

*Com toda a franqueza, hoje é muito difícil defini-lo politicamente. Sua política macroeconômica é ortodoxa, bastante neoliberal, só quer agradar as agências de classificação de risco e os organismos internacionais, principalmente o FMI.*

*Em seus valores culturais, ele é progressista. Na esfera social, ele promete reformas, mas nem sempre claras ou necessariamente de esquerda. Por exemplo, a reforma da previdência é um ataque às classes média e profissional, ao contrário do que dizem seus partidários e burocracias sindicais.*

Na energia, ele é influenciado pelas ideias da Europa. *Internacionalmente ele cambaleia, abre relações diplomáticas com a Venezuela, o que é correto, mas tenta ficar bem com os Estados Unidos*. Na guerra entre a OTAN e a Rússia *ainda estamos ligados à OTAN*, os radares geridos pelos americanos continuam ao longo da fronteira com a Venezuela, *não denunciamos nem pedimos a reforma do Acordo de Comércio Livre (FTA)*.

O presidente poderia ser subitamente classificado como *um social-democrata light, ou seja, um neoliberal com aspectos progressistas na esfera cultural e reformista na esfera social. Não é anticapitalista, não fala de antiglobalização neoliberal. Ele defende o capitalismo, não se propõe a começar a romper com o sistema capitalista, não tem propostas de mudanças radicais*.

É o que o filósofo italiano *Daniel Fusaro* chama de *esquerda fúcsia, ou seja, desbotada, de progressismo acordado, assim como Gabriel Boric no Chile, que pouco resta*.

Fusaro diz que _“existe hoje uma espécie de totalitarismo liberal que nos permite ser liberais de direita, liberais de esquerda, liberais de centro, ou, justamente no liberalismo político e econômico, na prática libertária nos costumes e, claro, no Atlanticista na esfera geopolítica. Acredito que hoje devemos repensar uma recategorização da realidade política de acordo com a dicotomia alto/baixo ou as categorias elite/povo.”_

_“Além disso, eles, os do sistema, criam uma espécie de microconflito generalizado que atua como arma de distração em massa e, poderíamos dizer também, como arma de divisão massiva permanente. Por um lado, distrai da contradição capitalista que já nem sequer é mencionada e, por outro lado, por assim dizer, divide as massas em homossexuais e heterossexuais, muçulmanos e cristãos, veganos e carnívoros, fascistas e antifascistas , e assim por diante. E enquanto isso corre naturalmente, o capital permite que as pessoas saiam às ruas pelo orgulho gay, pelos animais e tudo, mas não ousem sair às ruas para lutar contra a escravidão assalariada! contra a precariedade ou contra a economia capitalista! Se sim, há a repressão, como aconteceu na França com os coletes amarelos”_.

_“Se, no fundo, Gramsci é o completo oposto do que a esquerda está fazendo na Itália e em grande parte da Europa, *as esquerdas não são mais vermelhas, mas fúcsia, não são mais a foice e o martelo, mas o arco-íris . Lutam pelo capital e não pelo trabalho, lutam pelo cosmopolitismo liberal e não pelo internacionalismo das classes trabalhadoras*”_.

Fusaro insiste que o eixo político não deve ser esquerda e direita, mas os de cima e os de baixo. E que ideologicamente é preciso ser conservador em termos de valores (enraizamento, lealdade, família, ética, pátria) e de esquerda (emancipação, socialismo democrático, dignidade do trabalho).

Por outro lado, *Petro sempre disse que não é de esquerda. E você tem que acreditar nele. De certa forma, indiretamente, o que ele defende é um capitalismo com rosto humano. Faça algumas reformas para modernizar o capitalismo. Ele fala muito em reforma agrária, mas o que ele está propondo não é uma reforma agrária de distribuição de terras para tornar a propriedade rural mais igualitária. O que ele propõe é dar aos camponeses terras que o governo possui, ou que os latifundiários queiram vender a bons preços.* Por isso o presidente da Fedegan está aí porque entende muito bem que aqui não se trata de fazer uma verdadeira reforma agrária que rompe com o latifúndio e prejudica os latifundiários. Curioso, mas nenhum protesto é ouvido dos grandes proprietários. *Que curiosa reforma agrária, que os ricos latifundiários se calem quando lutamos por esta situação de desigualdade agrária desde a independência.*

*Colômbia Humana, partido de Gustavo Petro, não tem organização, nem estatuto, nem doutrina. Tem de tudo lá, muito ex-militante do M-19 que, a gente sabe, não era de esquerda.*

*O Pacto Histórico é um emaranhado de partidos, grupos, personagens de todos os tipos de tendências, sem nenhuma coerência que não seja a de governar e aproveitar o poder.*

Por todas essas razões, parece muito errado dizer que estamos diante de um governo de esquerda. Isso me parece arriscado, porque desacredita o que é verdadeiramente uma esquerda.*

É o que está acontecendo na Europa. Todos os partidos socialistas ou social-democratas são um fiasco e é por isso que a direita está ganhando.

Como é atraente um Pedro Sánchez, belicista, globalista, natoísta, traidor do Saara Oriental, súdito dos Estados Unidos, neoliberal econômico. Ou o chanceler Olaf Scholtz da Alemanha, outro belicista, traidor de seu país, neoliberal. Ou Neil Kammer, o membro trabalhista que atacou o líder de Jeremy Corbyn e sua tendência, os perseguiu e os condenou ao ostracismo. Ou o de Tsipras, do Syrisa, da Grécia, que se entregou ao FMI e à Comissão Européia e traiu suas ideias.

Poderia citar mais líderes europeus desses ditos socialistas e social-democratas, que fazem vergonha de se intitular de esquerda. Que *abandonaram todos os seus ideais, que se converteram ao globalismo e ao otanismo, que se tornaram belicistas, que adotaram o neoliberalismo e esqueceram suas bases populares, que se tornaram partidos de elite. É por isso que as classes populares, os trabalhadores, as classes médias se viraram e se voltaram para os partidos de direita ou de extrema-direita que os atraem com cantos de sereia.*

*Para mim, um governo que segue todos os mandatos do FMI não pode ser de esquerda, que só fala em regra fiscal, estabilidade macroeconômica, aumento dos preços dos combustíveis a pedido de organismos internacionais e da ortodoxia colombiana.*

É por isso que 
*as agências internacionais não são mais tão críticas ao governo de Gustavo Petro, porque perceberam que não era o tigre que pintavam.*

Mas sim, a experiência mostra que um país que segue os mandatos do FMI vai para o inferno. Mas agora nossos pseudo-esquerdistas permanecem calados, não dizem nada sobre política econômica, aumento exagerado dos preços dos combustíveis e energia e serviços públicos.

Compartilho das ideias de Diego Fusaro: 
*o que temos é sobrado fúcsia, vermelho desbotado, que não agride o capital. E em vários aspectos o que se chama de progressismo acordado, que divide os cidadãos, não se são explorados, não se são de baixo ou de cima, mas se são afro, indígenas, LGTB, ciganos, feministas radicais. Perdeu-se o conceito de cidadania, de república, de que somos todos cidadãos colombianos, todos com direitos e deveres iguais, mas que existe uma minoria, uma elite, com todos os benefícios e 99 por cento dominados, explorados, com vida precária, objeto simplesmente de consumo.
*

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