domingo, 5 de maio de 2024

NOTA DA REDE UNIVERSITÁRIA EM SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO * REDE UNIVERSITÁRIA EM SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO

O sionismo de esquerda existe?
NOTA DA REDE UNIVERSITÁRIA EM SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO

Nas últimas semanas, uma onda de protestos e acampamentos, em solidariedade ao povo palestino, tomaram as universidades nos EUA. O primeiro acampamento acontece desde o 19 de abril na Universidade de Columbia, em Nova York, onde os estudantes exigem o Cessar-Fogo e a interrupção das relações acadêmicas que a universidade mantém com instituições israelenses e do apoio militar e econômico que os EUA oferecem a Israel. A repressão policial ao acampamento pacífico, solicitado pela reitoria da universidade, provocou uma repercussão internacional. O resultado foi uma onda crescente de ocupações de universidades por estudantes e professores em solidariedade à Palestina através dos EUA e da Europa.

Ao mesmo tempo em que saudamos esse levante universitário após sete meses de genocídio em Gaza, vemos com preocupação a crescente perseguição e repressão aos movimentos pró-Palestina em universidades do Norte Global. Milhares de pessoas, nos últimos dias, foram detidas e reprimidas por forças policiais dos EUA, incluindo estudantes, professores e pessoas da sociedade civil. Este foi o caso da candidata à presidência dos EUA Jill Stein (Partido Verde), de família judia. Estudantes têm sido suspensos de suas universidades, como os quatro alunos da Cornell University, e docentes têm sofrido ameaças disciplinares por parte das direções universitárias.

A crescente perseguição a docentes e discentes com posicionamentos públicos e contundentes em solidariedade à Palestina vem desde o dia 07 de outubro de 2023 e antecede a atual onda de ocupações universitárias. Em janeiro, a reitora de Harvard, Claudine Gay, a primeira negra a ocupar este cargo na instituição, pediu demissão do cargo depois de ser acusada de antissemitismo por sua declaração a respeito do assunto numa audiência no Congresso, em dezembro de 2023. Uma torpe manipulação por grupos de extrema-direita.

Em março, a Texas Tech University suspendeu o professor-assistente Jairo Fúnez-Flores, do departamento de Educação, por seus posicionamentos públicos críticos ao colonialismo israelense. Fúnez-Flores foi reintegrado no seu cargo em abril. No mesmo mês, a Hobart and William Smith Colleges suspendeu as atividades de docência da professora titular Jodi Dean, do departamento de Política, por causa de um artigo publicado sobre a Palestina. Diversas organizações da sociedade civil estadunidense, como a Middle East Studies Association (MESA), expressaram a sua preocupação com a violação dos direitos constitucionais de liberdade expressão e acadêmica nos EUA.

Essa perseguição no ambiente universitário estadunidense se segue ao que especialistas da ONU declaram ser um “scholasticide” em Gaza, isto é, um genocídio escolástico através de um padrão de ataques a escolas, universidades, professores e estudantes em Gaza. Mais de 80% das escolas de Gaza foram destruídas e todas as 12 universidades foram bombardeadas por Israel. A ONU diz haver uma “obliteração da educação” em Gaza. Até abril de 2024, a ONU contabilizava a
morte de 5,479 estudantes, 261 professores de educação básica e 95 professores universitários em Gaza, além de 7,819 estudantes e 756 professores feridos.

Com veemência, a Rede Universitária de Solidariedade ao Povo Palestino repudia o crescimento, desde 7 de outubro de 2023, de atitudes racistas no ambiente universitário do Brasil e em todo mundo, particularmente manifestações antissemitas, islamofóbicas e anti-árabes. E vemos com grande preocupação a possibilidade de as perseguições no ambiente universitário no exterior fomentarem ações que busquem coibir a liberdade de expressão e acadêmica também no nosso país. No Brasil, organizações associadas à defesa de Israel têm buscado impedir, ainda sem sucesso, manifestações de solidariedade à Palestina no ensino superior. A resiliência democrática das universidades brasileiras está sendo colocada mais uma vez à prova e ressaltamos a importância de proteger o direito à crítica e à solidariedade nesse momento.

Após a crescente perseguição ao ambiente universitário do governo Jair Bolsonaro e na atual conjuntura dos 60 anos do golpe civil-militar – que inaugurou uma ditadura que reprimiu estudantes e professores que lutavam pela redemocratização do país – reafirmamos a necessidade dessas liberdades políticas e civis serem defendidas de forma irrestrita e permanente.

30 de março de 2024

O SIONISMO DE ESQUERDA EXISTE? Portal Desacato

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