Nas últimas semanas, uma onda de protestos e acampamentos, em solidariedade ao povo palestino, tomaram as universidades nos EUA. O primeiro acampamento acontece desde o 19 de abril na Universidade de Columbia, em Nova York, onde os estudantes exigem o Cessar-Fogo e a interrupção das relações acadêmicas que a universidade mantém com instituições israelenses e do apoio militar e econômico que os EUA oferecem a Israel. A repressão policial ao acampamento pacífico, solicitado pela reitoria da universidade, provocou uma repercussão internacional. O resultado foi uma onda crescente de ocupações de universidades por estudantes e professores em solidariedade à Palestina através dos EUA e da Europa.
Ao mesmo tempo em que saudamos esse levante universitário após sete meses de genocídio em Gaza, vemos com preocupação a crescente perseguição e repressão aos movimentos pró-Palestina em universidades do Norte Global. Milhares de pessoas, nos últimos dias, foram detidas e reprimidas por forças policiais dos EUA, incluindo estudantes, professores e pessoas da sociedade civil. Este foi o caso da candidata à presidência dos EUA Jill Stein (Partido Verde), de família judia. Estudantes têm sido suspensos de suas universidades, como os quatro alunos da Cornell University, e docentes têm sofrido ameaças disciplinares por parte das direções universitárias.
A crescente perseguição a docentes e discentes com posicionamentos públicos e contundentes em solidariedade à Palestina vem desde o dia 07 de outubro de 2023 e antecede a atual onda de ocupações universitárias. Em janeiro, a reitora de Harvard, Claudine Gay, a primeira negra a ocupar este cargo na instituição, pediu demissão do cargo depois de ser acusada de antissemitismo por sua declaração a respeito do assunto numa audiência no Congresso, em dezembro de 2023. Uma torpe manipulação por grupos de extrema-direita.
Em março, a Texas Tech University suspendeu o professor-assistente Jairo Fúnez-Flores, do departamento de Educação, por seus posicionamentos públicos críticos ao colonialismo israelense. Fúnez-Flores foi reintegrado no seu cargo em abril. No mesmo mês, a Hobart and William Smith Colleges suspendeu as atividades de docência da professora titular Jodi Dean, do departamento de Política, por causa de um artigo publicado sobre a Palestina. Diversas organizações da sociedade civil estadunidense, como a Middle East Studies Association (MESA), expressaram a sua preocupação com a violação dos direitos constitucionais de liberdade expressão e acadêmica nos EUA.
Com veemência, a Rede Universitária de Solidariedade ao Povo Palestino repudia o crescimento, desde 7 de outubro de 2023, de atitudes racistas no ambiente universitário do Brasil e em todo mundo, particularmente manifestações antissemitas, islamofóbicas e anti-árabes. E vemos com grande preocupação a possibilidade de as perseguições no ambiente universitário no exterior fomentarem ações que busquem coibir a liberdade de expressão e acadêmica também no nosso país. No Brasil, organizações associadas à defesa de Israel têm buscado impedir, ainda sem sucesso, manifestações de solidariedade à Palestina no ensino superior. A resiliência democrática das universidades brasileiras está sendo colocada mais uma vez à prova e ressaltamos a importância de proteger o direito à crítica e à solidariedade nesse momento.
Após a crescente perseguição ao ambiente universitário do governo Jair Bolsonaro e na atual conjuntura dos 60 anos do golpe civil-militar – que inaugurou uma ditadura que reprimiu estudantes e professores que lutavam pela redemocratização do país – reafirmamos a necessidade dessas liberdades políticas e civis serem defendidas de forma irrestrita e permanente.
30 de março de 2024
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