domingo, 24 de outubro de 2021

PARA NÃO ESQUECER – 17 DE OUTUBRO DE 1920 MORRE JOHN REED * Ernesto Germano Parés/RJ

PARA NÃO ESQUECER – 17 DE OUTUBRO DE 1920
MORRE JOHN REED
Ernesto Germano Parés/RJ

Conheço poucas pessoas na esquerda, principalmente entre os mais velhos, que não tenha lido o livro “Dez dias que abalaram o mundo”, de John Reed! Mas este não é o seu único trabalho e poucos conhecem sua história.
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John Reed era jornalista e, como tal, testemunhou muitos acontecimentos importantes da história. Nasceu em 1887, na cidade de Portland (EUA) mas foi estudar na Universidade de Harvard logo que conseguiu. Terminou seu curso, em 1910, e embarcou em um navio de carga com destino à Europa e conheceu Londres, Paris e Madrid. Quando voltou aos EUA foi trabalhar como editor em uma revista sobre política internacional.
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Reed era uma pessoa bem comum e tinha hábitos simples. Gostava muito de comer e beber, mas tinha uma preferência por estar perto do povo, dos trabalhadores, e isso fazia seus colegas se afastarem dele e até escreverem coisas criticando-o.
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Em 1912 tomou conhecimento de que em Lawrence, Massachusetts, durante uma manifestação dos operários de uma fiação apoiada pelo Partido Socialista, 25 mil operários de uma fábrica na outra margem do rio Hudson, se manifestavam exigindo oito horas de trabalho diário. E a polícia, como sempre, não economizou em cacetadas! Reed, como era sua maneira de ser, juntou-se aos manifestantes, sendo preso durante quatro dias. Aprendeu muito com os grevistas e, depois de solto, foi um dos organizadores de um desfile que reuniu mais de 100 mil manifestantes no Madison Square Garden em defesa do direito de greve. Escreveu sobre a greve no jornal “The Masses”.
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Em 1914 foi duramente atacado por Walter Lippmann, editor da revista “New Republic”, que escreveu sobre ele: “Por temperamento, ele não é um escritor profissional ou repórter. Ele é uma pessoa que gosta de si mesmo” E desferiu um golpe: “Reed não é imparcial e tem orgulho disso”.
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A resposta de Reed foi imediata: “Se imparcialidade significa conivência com a elasticidade na versão dos fatos contados pelos poderosos e pelos sanguinários, então sou parcial, pois estou sempre do lado da verdade e da civilização”.
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No mesmo ano, 1914, Pancho Villa liderava uma rebelião de camponeses no México quando Reed foi enviado como correspondente. Em pouco tempo, tornou-se próximo do líder revolucionário. Os relatos apaixonados de Reed estão no seu livro “México Rebelde”, um dos melhores que já li por sua proximidade e intimidade com os rebeldes.
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Mal voltara aos EUA e acontece, no Colorado, o Massacre de Ludlow, onde mineiros em greve foram abatidos pela Guarda Nacional a mando da família Rockefeller (não, eu não estou enganado, é a família do badalado Rockefeller). Tudo o que aconteceu foi devidamente registrado no seu livro “A Guerra do Colorado”.
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Em 1914 tem início a Primeira Guerra Mundial e Reed escreve “And here are the nations, flying at each other's throats like dogs… and art, industry, commerce, individual liberty, life itself taxed to maintain monstrous machines of death” (“Aqui estão as nações, a se lançar aos pescoços umas das outras como cães… e a arte, a indústria, o comércio, a liberdade individual, a própria vida são taxadas para sustentar monstruosas máquinas de morte”.)
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Foi procurado por grandes jornais que desejavam enviá-lo à Europa para fazer a cobertura da guerra e acabou aceitando o convite da revista The Metropolitan.
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Mas John Reed era uma pessoa diferente. A bordo do navio que o levava para a Europa, viajando na primeira classe, tomou conhecimento de mais de três mil italianos viajando no porão do navio e fez amizade com alguns.
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Esteve na Inglaterra, Países Baixos e Alemanha. Depois foi para a França, andando pelos campos de batalha: chuva, lama, cadáveres. O que mais o deprimiu foi o patriotismo exacerbado de ambos os lados, até em alguns socialistas, como H.G. Wells na Inglaterra.
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Voltou aos EUA por pouco tempo e, em 1915, embarca para a Europa. Dessa vez conheceu a Rússia. Viu vilas sendo queimadas a saqueadas pelos soldados do czar para massacrar os judeus russos.
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Volta para casa e, percebendo o clima de guerra, escreve um breve artigo onde diz que o inimigo para o trabalhador estadunidense eram os 2% da população que recebiam 60% da riqueza nacional. “Nós defendemos que o trabalhador prepare-se para se defender do inimigo. Esse é o nosso preparativo”.
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Reed era socialista, membro ativo do Partido nos EUA, e ficava incomodava pela maneira como os trabalhadores na Europa e EUA estavam sustentando a guerra.
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Em 1917 ele recebe a notícia de que uma revolta na Rússia havia derrubado o czar e que uma revolução estava em marcha. “Finalmente, toda uma população se negou a continuar a carnificina e se revoltou contra a classe governante”, escreveu.
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Com sua esposa, Louise Bryant, partiu para a Finlândia e Petrogrado. Os revolucionários estavam nas ruas e os operários tomavam as fábricas, viu soldados que se recusavam a lutar na guerra e viu o crescimento do soviete de Petrogrado. Entre os dias 6 e 7 de novembro a revolução avançava rapidamente e os revoltosos se apossavam das estações ferroviárias, telégrafo, telefone e correios.
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Ele ainda voltou aos EUA e, em menos de dois meses, pegou todas as suas anotações e escreveu o famoso “Dez dias que abalaram o mundo”.
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Voltou à Rússia, em 1919, e denuncia as tentativas dos governos ocidentais de invadir o país para impedir o avanço do socialismo. Mas Reed já estava desgastado e doente. Muito febril, tinha delírios e os médicos descobriram que ele contraíra tifo.
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John Reed morreu em um hospital de Moscou, no dia 17 de outubro de 1920. Seu corpo foi sepultado perto do Kremlin na Praça Vermelha, com honras de herói, sendo o único estadunidense a quem tal honra foi concedida.
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A primeira edição do livro tem prefácio de Lenin que escreve “Recomendo-o, sem reservas, aos trabalhadores de todos os países. É uma obra que eu gostaria de ver publicada aos milhares de exemplares e traduzida para todos os idiomas...”
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VIVA JOHN REED E O SEU COMPROMISSO PERMANENTE COM A LUTA DOS TRABALHADORES!
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VIVA A REVOLUÇÃO DE 1917*
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