quinta-feira, 28 de julho de 2022

Lênin contra a passividade * João Quartim de Moraes / SP

LÊNIN CONTRA A PASSIVIDADE

Dezembro de 1904: os 12 mil operários do complexo fabril Putilov, em São Petersburgo, entram em greve. O movimento logo se propagaria por outros centros industriais, de Moscou a Baku. Na capital do Império, em 9 de janeiro de 1905, o padre Gapone, à frente de imensa multidão, levou ao tsar uma petição respeitosa expondo a miséria do povo e clamando por reformas. A resposta veio do exército imperial: abriram fogo sobre os manifestantes. O massacre, dito do “Domingo Sangrento”, suscitou uma vaga de revolta que percorreu a Rússia.

Em junho-julho de 1905, quando Lênin escreveu Duas táticas da social-democracia na revolução democrática, a revolta dos camponeses se aprofundava, ocupando latifúndios e reivindicando a nacionalização da terra. A burguesia pedia reformas liberais. A derrubada do tsarismo estava no horizonte, mas o regime dispunha de margem de manobra. Deviam os bolcheviques se pôr à frente das lutas em curso? Segundo os mencheviques, se a revolução tinha objetivamente caráter burguês, cabia à burguesia dirigi-la; a revolução dos operários era a socialista. Contra essa passividade travestida de rigor programático, Lênin desafiou a ortodoxia social-democrata. O resultado da revolução democrática não estava decidido de antemão. A burguesia tinha interesse na liberalização política, mas queria sobretudo remover os entraves feudais à expansão de seus negócios. Só a aliança dos operários com os camponeses poderia conduzir a dinâmica revolucionária em curso a suas mais avançadas consequências: derrubada da autocracia militar feudal e instauração da ditadura democrática das duas grandes forças populares em luta.

Mesmo levada até o fim, a revolução democrática não poderia, porém, alterar por decreto as condições sociais objetivas. Os camponeses aliavam-se aos operários porque percebiam que seriam estes e não a burguesia liberal que apoiariam a fundo sua reivindicação maior: confiscar os latifúndios, distribuir a terra. Mas o acesso, individual ou cooperativo, à propriedade da terra se inscrevia na lógica da produção para o mercado, portanto nos limites burgueses da economia. Com insuperável lucidez dialética, Lênin deixou claro que, vitoriosamente resolvida a contradição entre o povo russo e o tsarismo, a contradição entre a propriedade camponesa e a luta operária pelo socialismo tornar-se-ia dominante.
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Sexto volume da coleção Arsenal Lênin, Duas táticas da social-democracia na revolução democrática foi escrito em 1905 e é uma das primeiras e mais importantes obras políticas de Lênin. O livro aponta questões importantes para os movimentos daquele ano, tido por muitos como marco inicial da agitação política russa, e aponta tarefas da classe operária para os anos subsequentes, que culminariam na Revolução de Outubro de 1917.

Publicado durante o exílio de Lênin em Genebra, na Suíça, o livro expõe diferenças fundamentais que surgiram na época entre os bolcheviques e os mencheviques, além de trazer aspectos teóricos importantes, como uma contribuição ao conceito de “ditadura do proletariado” e a noção de “revolução ininterrupta”, análoga, sob muitos aspectos, à de “revolução permanente”, de Trótski.

“Em 1905, Lênin amadurece uma de suas mais brilhantes intuições, que encontra sua elaboração em Duas táticas: aquela que passou à história como a ideia da hegemonia proletária na revolução burguesa.”
– Umberto Cerroni

“A Revolução de 1905 foi o melhor teste para a análise de Lênin sobre a especificidade da formação econômico-social russa e para a sua ideia sobre as funções e o modo de agir de uma organização revolucionária em um contexto de levante. Este colocou em evidência, pela primeira vez na Rússia, o tema da autonomia política do proletariado e de sua organização. O texto Duas táticas da social-democracia na revolução democrática, concebido no pleno calor dos eventos, constituía a melhor síntese do assunto.”
– Gianni Fresu

Duas táticas da social-democracia na revolução democrática, de Vladímir I. Lênin, tem tradução de Edições Avante!, revisão da tradução de Paula Vaz de Almeida, prefácio de Gianni Fresu, apêndice de Umberto Cerroni, orelha de João Quartim de Moraes, capa de Maikon Nery e apoio da Fundação Maurício Grabois.

O livro fez parte da caixa de junho de 2022 do Armas da crítica, o clube do livro da Boitempo. Acesse o guia de leitura de Duas táticas da social-democracia na revolução democrática, livro 20 do clube.
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Disponível em nossa loja virtual e e-book à venda nas principais lojas do ramo:Kobo

Confira o lançamento de Duas táticas da social-democracia na revolução democrática com Gianni Fresu, João Quartim de Moraes, Marly Vianna e mediação de Gabriel Landi, na TV Boitempo:
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João Quartim de Moraes é professor colaborador na Unicamp e pesquisador do CNPq centrado em história do pensamento político, instituições brasileiras, materialismo antigo e moderno, e marxismo. Autor de diversos livros e artigos, no Brasil e na Europa. Graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de São Paulo (1964), em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1964), licenciou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1964) e doutorou-se (Doctorat D’État en Science Politique) na Fondation Nationale de Science Politique da Academia de Paris (1982). Foi professor titular da Universidade Estadual de Campinas de 1982 a 2005. Após aposentar-se, retomou as atividades docentes na condição de professor colaborador voluntário na mesma Universidade.

(TAMARA, soldada do exército russo, na guerra da Ucrânia. Sua foto corre o mundo com sua bandeira comunista.)


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Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática[N228]
V. I. Lénine
Julho de 1905
Transcrição autorizada

Escrito: em Junho-Julho de 1905.
Primeira edição: em Genebra em Julho de 1905. Editado pelo CC do POSDR.
Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1977, Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscovo

Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t. 11, pp. 1-131.

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, dezembro 2006

Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.
Índice




















Nota de Fim de Tomo:

[N228] O livro de V. I. Lénine Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática foi redigido em Junho de 1905, após o fim dos trabalhos do III Congresso do POSDR e também da conferência dos mencheviques que se efectuou em Genebra simultaneamente com o congresso.

O aparecimento do livro de V. I. Lénine Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática constituiu um grande acontecimento na vida do partido. Foi amplamente difundido, clandestinamente, numa série de cidades da Rússia. O livro Duas Tácticas foi estudado nos círculos clandestinos do partido e dos operários.

Em Fevereiro de 1907, o Comité de Petersburgo para a imprensa fez apreender o livro, tendo visto no seu conteúdo uma acção criminosa contra o governo tsarista. Tendo aprovado esta apreensão em Março, a Câmara judicial de Petersburgo, em Dezembro do mesmo ano, adoptou uma deliberação na qual dizia: «... a brochura de N. Lénine Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática deve ser destruída». Porém, o governo tsarista não conseguiu destruir esta obra de V. I. Lénine.

O livro Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática foi incluído por Lénine no primeiro tomo da colectânea dos seus artigos Em Doze Anos, que apareceu em meados de Novembro de 1907 em Petersburgo. Lénine completou o livro com novas notas em rodapé. No prefácio à colectânea falou do significado do livro: "Aqui expõem-se, já de um modo sistemático, as fundamentais divergências tácticas com os mencheviques; as resoluções do 111 Congresso do POSDR, que teve lugar na Primavera em Londres (congresso dos bolcheviques), e da conferência dos mencheviques em Genebra, formalizaram de modo completo estas divergências e levaram-nos à discrepância radical quanto à apreciação de toda a nossa revolução burguesa do ponto de vista das tarefas do proletariado.»
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