quinta-feira, 22 de setembro de 2022

O PAPEL DA MÍDIA NA DESNAZIFICAÇÃO DO BRASIL * Jeferson Miola / RS

O PAPEL DA MÍDIA NA DESNAZIFICAÇÃO DO BRASIL
JEFERSON MIOLA / RS

Neste artigo o autor argumenta que se a mídia foi responsável pelo processo de fascistização no Brasil, a mídia deveria fazer todo o possível para desacreditar o Brasil; o problema é, como aponta o autor, que "o antipetismo é o combustível que alimenta a maquinaria" reacionária" da elite dominante.

A agressão perpetrada pelo deputado Bolsonaro Douglas García contra Vera Magalhães é um sintoma do processo de fascistização arraigado no Brasil. A jornalista não é a primeira, nem será a última profissional de imprensa a ser vítima da violência fascista que reina no país.

O fascismo, como o nazismo, escolhe um inimigo capital.

Este inimigo é o destinatário do ódio mortal; é um mal a ser erradicado para que a sociedade seja “purificada e limpa” de “seres impuros e inferiores”. Não foi por acaso que os nazistas jocosamente chamaram o campo de concentração de Auschwitz de "o ano da Europa".

O fascismo é reforçado e ampliado pela intolerância, preconceito e violência contra inimigos estigmatizados. Na Alemanha da década de 1930 do século passado, os inimigos do regime nazista eram judeus, homossexuais, ciganos e comunistas.

No Brasil contemporâneo, o PT, de forma específica, e os de esquerda e progressistas, de forma difusa, equivalem a judeus, gays, ciganos e comunistas implacavelmente perseguidos pelo nazismo. Esse é o papel da contrarrevolução fascista do bolsonarismo.

A construção do inimigo no imaginário social é um processo metódico e persistente de demonização e estigmatização de segmentos da sociedade.

Exatamente como a elite dominante e sua mídia procederam na guerra semiótica travada para aniquilar Lula e o PT praticamente ao longo da trajetória petista, com um impulso decisivo da Operação Lava Jato.

As mídias hegemônicas, especialmente a Rede Globo, foram fundamentais nesse processo. Durante anos, o consórcio legal-polícia-mídia-militar incutiu e espalhou o ódio anti-PT.

A responsabilidade da mídia no atual contexto de fascistização no Brasil foi decisiva e essencial: as facções de extrema direita Moro-Lavajatista e Bolsonarista fermentaram e aumentaram seu controle sob os auspícios generosos da mídia.

A mídia tem, portanto, uma responsabilidade insubstituível no processo de desfascistização do país, ou seja, na desconstrução do maniqueísmo e do sentimento anti-PT que alimenta a espiral fascista de ódio, violência e terrorismo político.

Esta é uma tarefa complexa que levará anos, senão décadas, com um esforço permanente para recuperar a memória e a verdade e para combater e banir as práticas fascistas e de extrema-direita.

Sem o álibi anti-PT que “legitimiza” sua razão de ser, o fascismo perde muito de sua força e de sua autojustificação existencial para liderar a “luta do bem contra o mal”.

A questão, porém, é se a mídia privada – seus donos, colunistas, editorialistas, colunistas e jornalistas como Vera Magalhães – está disposta a contribuir efetivamente, usando todos os recursos possíveis, para derrotar o fascismo.

Esta parece ser uma parada difícil. Afinal, o antipetismo é o combustível que alimenta a máquina reacionária da elite dominante para impedir qualquer avanço nas políticas distributivas e de igualdade no país.

Jeferson Miola é membro do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador executivo do V Fórum Social Mundial.

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